14 dezembro, 2009

GUTERRES E O PÂNTANO POLITICO

António Guterres foi Primeiro-Ministro de Portugal, no período compreendido entre 28 de Outubro de 1995 e 6 de Abril de 2002. Nesta última data, e num mais que evidente desapêgo ao poder, demitiu-se para que o país – segundo ele - não caísse “num pântano político”.
Com a sua atitude, Guterres, ao contrário daquilo que muitos populistas da nossa praça quiseram e querem ainda hoje fazer crer, não "fugiu". Pelo contrário, Guterres fez aquilo que devia ter feito: provocou eleições, deu vóz a quem devia e clarificou-se aquilo que se impunha clarificar.
Após a respectiva escolha e a sua consequente rejeição, seguiu-se-lhe no "trono" Durão Barroso até Junho de 2004. Com o sprint deste para Bruxelas, Pedro Santana Lopes ocuparia então o cargo de Primeiro-Ministro, até Fevereiro de 2005, data em que viria a ser exonerado pelo então Presidente da República Jorge Sampaio ao dissolver o Parlamento. Após novas eleições, surge então José Sócrates, que vem chefiando o Governo até aos dias de hoje.
Certo... certo, é que nem Guterres nem ninguém que se lhe seguiu, conseguiu evitar o tal pântano politico de que falava!... O tal pântano de que nunca mais nos vemos livres, a não ser na boca daqueles que apesar da “tanga” e do “descontrolo das contas públicas” (que dizem ter assolado o país), continuam a afirmar terem conseguido maravilhas, sensação essa que não é partilhada pela esmagadora maioria dos portugueses, que vêem o país cada vez mais atolado.

A realidade é mesmo essa, e hoje para mal dos nossos pecados, assistimos a um Governo cercado, medroso q.b. e sem iniciativa política!... A um Governo capturado pela crise, pela oposição parlamentar e pelos casos da Justiça!... A uma Assembleia revanchista e na aparência decidida a substituir-se ao Executivo, não hesitando em moldar-lhe o orçamento, ainda mesmo antes de ser apresentado na Assembleia da República. As declarações hoje produzidas pelos dois extremos -bloquistas e populares - são exemplos concretos.
Para piorar ainda mais as coisas, assistimos hoje também, a um Presidente distante e apático, ao que se julga enfraquecido, na opinião e no imaginário dos portugueses. Tudo aquilo de que menos precisávamos neste momento, era das “guerras” e “ajustes de contas” entre este e o Primeiro Ministro. Isto, para já não falar no desemprego galopante, nas crises crónicas da nossa condição de cidadãos e de eleitores, na crise das Finanças Públicas e na crise porque passa a Justiça.
Realmente, é muita coisa para um homem ""!...
Chegamos já ao ponto, de uma vóz "autorizada", como é a de Marcelo Rebelo de Sousa, dizer que o Governo "está a cair"!... Concordando ou não com o professor, há uma coisa que não podemos esquecer!... Acabámos de sair de eleições - de três eleições consecutivas -, e não podemos andar sempre a votar. Votar, só por votar não resolve o problema… E não resolve o problema, antes de mais, porque não se vê onde esteja, pujante e viçosa, essa alternativa de que o país precisa –se de facto precisa. O que resolve o problema isso sim, é que haja HOMENS com principios, que coloquem o país e os cidadãos, à frente dos interesses pessoais e de jogos de poder.

Mas esses homens parecem não existir, e para batermos no fundo, parece já não faltar muito!... À esquerda e à direita, o pantanal é cada vez mais denso e milagres, já não ocorrem só em Fátima!... É que não se "topando", para o "bota-abaixo" não se inibem de alinhar uns com os outros. Têm ideias diferentes, perspectivas diferentes, mas votam em uníssono. É uma coisa nunca vista, mas... atenção: o povo não é cego, e não é por acaso, que a voz ponderada de Francisco Pinto Balsemão fez saber recentemente, que pelo andar da carruagem, o PSD pode estar a caminho, sem se dar conta, de um "suicídio colectivo".
Ora se tudo isto não é um pântano, então o que será um pântano?!... Para onde corremos?!...

Outro exemplo: A entrevista concedida recentemente à RTP por Armando Vara e a indiciação que o juiz promoveu - tráfico de influências -, fazem aumentar a inquietação. Depois do seu nome aparecer escarrapachado em todas as primeiras páginas como mediador medíocre de grandes negócios ao preço da uva mijona, vem agora o contraciclo da vaga. E Vara responde rijo. Ai se responde!... Suspende o cargo de vice-presidente de um dos maiores bancos portugueses, desmente tal acto indigno com firmeza, recusa-se a voltar ao mesmo cargo enquanto não for reposta a verdade, vai pedir o fim do segredo de justiça para que se saiba o que sobre ele consta, dá o corpo às balas e garante, que se não fosse o tal segredo de justiça, em 15 segundos poderia esclarecer-se tudo.
Mesmo que em vez dos tais 15 segundos, demore 15 minutos ou 15 horas, depois de o ouvir frente à entrevistadora, enérgico e inflamado, acudiu-me uma inquietação: Se o homem está mesmo inocente, se aquilo que diz é verdade, o país dos políticos andou durante um mês a pregar no deserto e a fazer política a propósito de quê?... Ou melhor: que país é este, que dirige e esgrime politicas, conforme as capas dos jornais, as noticias das televisões e não segundo critérios nacionais?!....
Não terão certos políticos da nossa praça, algo para fazer (deixando para César o que é de César), que não seja “entreterem-se” com noticias de jornais, revistas e similares, que lhes permitam dar nas vistas em vez de se preocuparem com coisas que interessam verdadeiramente ao país e aos cidadãos?...
É triste mas é verdade!... Hoje, as agendas editoriais, fazem o calendário da discussão politica e das polémicas que arrasam a honra, o carácter e até a vida de pessoas sem uma única decisão judicial a condenar. Os "Velhos do Restelo" não perdoam e não perdoam a ninguém que ouse contrariar o destino. O espírito de vingança e até se calhar da inveja, são próprios dos tempos da barbárie e da pequenez de espírito. Perde-se a grandeza... o sentido de Pátria enquanto mãe colectiva, e perde-se também o sentido da dignidade humana.
Ora sendo assim, é evidente que o PÂNTANO POLITICO, veio para ficar.
Boas festas e até para o ano...

06 dezembro, 2009

QUE SEJAM FELIZES PARA SEMPRE!...

Tem sido notícia quase diária. Um jovem padre apaixonou-se por uma jovem da sua paróquia. Um amor que julgam eterno, maior do que o juramento de celibato do sacerdote. Maior do que a autoflagelação da continência orgástica, ainda maior do que todos os preconceitos que fazem do jovem padre notícia e sabem a fel na língua de beatas, prosélitas e bruxas comungadas.

O jovem padre teve a coragem de escrever ao seu bispo explicando-lhe o amor que celebrava na relação clandestina com a jovem apaixonada. Não sei em que palavras terá explicado o pretenso pecado ao superior eclesiástico, pois não sei com que palavras é possível explicar a infinitude do amor. E desapareceu sem deixar rasto. Os dois amantes clandestinos do amor, medrosos do medo do preconceito, mas amando-se com a coragem do desprendimento total. Que se saiba, até agora, a Igreja está em silêncio. Constatou a fuga do ex-sacerdote, mandou substituí-lo, e calou se. Um silêncio de respeito, de quem compreende a imponência do amor. Foi inteligente e sábia.

Mas a história, mais pitoresca do que um escândalo, vale pela dimensão afectiva do caso, pela evidência do Portugal velho que Bernardo Santareno tão bem dramatizou, embrulhado em xailes negros e recalcamentos, dominado por medos e iras de morte e de raiva, que ainda persistem, que continuam viçosos e brutais como nos séculos que já nos convencemos de que estão vividos. E não estão.

Permanecem tão vivos, tão presentes, que por vezes é paradoxal falar de um País que está no topo dos países desenvolvidos e, por essa mesma razão estruturalmente culto. Mas não. É apenas um jogo de aparências.

A fuga do padre com a sua amada é uma metáfora. Já não consegue ser uma história com a dimensão pecadora que Eça de Queirós entregou ao seu romance sobre a libido do padre Amaro. Mas ainda está cheia de sentido. Por ser notícia tão noticiada, sinal da nossa reivindicação sobre memórias passadas. Por ser uma corrosão na teoria do celibato sacerdotal. Por ser, sobretudo, uma história de amor clandestino num tempo em que o amor se celebra sem preconceitos, nem mesmo o sexual.

Uma historia sobre a doçura e a dedicação da entrega, e por isso mesmo, nas minhas desorganizadas orações, peço a Deus que o seu ex-padre e a sua amada sejam felizes para sempre. Até que a morte os separe. Ou até que eles queiram.

01 dezembro, 2009

O QUE MUDA COM O TRATADO DE LISBOA...

Afinal o que vai mudar com o Tratado de Lisboa?!...

Em Sintese: O documento vai reformar as instituições europeias, simplificando o funcionamento para que os europeus compreendam a Europa e participem mais. O Tratado acaba com as presidências rotativas do Conselho Europeu, mas não ao nível ministerial, à excepção dos Negócios Estrangeiros. Será nomeado um presidente e um poderoso chefe da diplomacia, para um mandato de dois anos e meio, renovável uma vez. Serão eles a cara e a voz da União Europeia a nível internacional, permitindo uma maior continuidade no seguimento dos dossiês e aos cidadãos saber quem os representa.
Outra mudança é o reforço dos poderes do Parlamento Europeu, única instituição eleita pelos cidadãos. O hemiciclo vai dispor de instrumentos de co-decisão a par dos Estados em assuntos directamente ligados à vida dos cidadãos, como a agricultura, pesca, polícia e justiça. Será reforçada também a influência dos parlamentos nacionais no processo legislativo europeu. Com o Tratado de Lisboa os cidadãos passam a ter novos direitos e é criado um mecanismo de iniciativa popular.

Com um milhão de assinaturas os europeus podem obrigar a Comissão Europeia a estudar uma proposta legislativa. Entra, enfim, em vigor a Carta dos Direitos Fundamentais, adoptada em 2000. O documento compila num único texto todos os direitos cívicos, políticos, económicos e sociais dos cidadãos europeus ou estrangeiros a viverem na Europa. O Tratado de Lisboa introduz também uma cláusula de saída, dando a possibilidade a um Estado membro de abandonar a União com base em certas condições a negociar com os parceiros. O documento precisa também uma cláusula de solidariedade e muda o sistema de tomada de decisões, com vista a simplificar o processo numa Europa cada vez maior.