06 março, 2021

- INDEPENDENTES NÃO – OBRIGADO!...

Desde que sou capaz de me recordar e interpretar as minhas relações politicas com os outros, sempre detestei que me tentassem “converter”, ou em sentido contrário ser eu a “converter” os outros. E quando sinto que involuntariamente o estou a fazer, procuro desde logo moderar o tom, e defender que aquilo que digo tem apenas a ver com aquilo que penso, e de modo algum como algo de absolutamente certo e muito menos definitivo. Não tem nada que saber!... Quem não está contente com um “Governo” vota noutro, quem está, renova-lhe a confiança, e depois, será a maioria a decidir. Eu que nasci e fui criado durante o Estado Novo, esse, foi já tempo demais para “dar” e “receber conselhos”, muitos deles ao tempo apresentados até como normas. Por isso chegou, e para esse “peditório”, não dou nada...

Há uma coisa porém que me recuso a fazer!... Confundir propositadamente mensagens de “opinião” com “ódio”. A opinião vale aquilo que vale, as mensagens de ódio são crime. E tudo isto, para chegarmos à essência da questão: as eleições autárquicas estão aí à porta, e pelo andar da carruagem, candidatos ao “pote” é coisa que não falta!... É como diz o nosso povo – andam todos ao mesmo. Podem até faltar testes ao Covid, podem faltar vacinas, voluntários para o combate à pandemia e apoio a quem precisa, mas para as colmatar não há voluntários. Voluntários há e muitos, para ocuparem o “cadeirão do trono” e procurar “arrebanhar” tanto quanto possível para lá chegar.

Dito isto e tendo em conta as presumíveis alterações à Lei eleitoral autárquica, que a serem aprovadas vêm criar mais dificuldades às candidaturas dos chamados “independentes”, à primeira vista, tal desiderato poderá até repugnar que sejam os Partidos a ter o monopólio das candidaturas. Impedir grupos de cidadãos de se proporem a uma Junta de Freguesia ou a uma Câmara Municipal poderia ser visto até como uma restrição à liberdade de associação. É verdade que sim, mas sendo verdade, os exemplos que temos do seu contrário também não são bons!... E não são bons, porque podendo até sugerir a possibilidade de existirem modelos de democracia local mais participativa, animada e transparente, aquilo que se constata através dos seus discursos nos diversos canais onde fazem vida, é precisamente a promoção do seu contrário. “Candidaturas”, que passando ou não de bluff, cumprem afinal apenas e só, o seu papel para o agudizar de conflitos, de desmandos e até de dissidências partidárias, seja por intervenção directa ou delegada. É a pobreza politica ao seu mais elevado nível!... Uma pobreza, que vai até mais longe: apesar do passado que alguns ostentam, aparecem - nesta nova fase da sua vida política - com uma retórica infestada por posições anti-partidárias, o que em boa verdade pressupõe uma idoneidade democrática muito suspeita, sabendo-se como se sabe, que sem Partidos não há democracia – por isso as rejeito, ponto final.

E rejeito-as por mais duas razões: a primeira, é porque não aceito a constituição de listas de dissidentes partidários no assalto às autarquias e na oportunidade para “partidos” sem representatividade se ocultarem sob pseudónimos. O escrutínio do poder autárquico, excepto nas grandes cidades, praticamente não existe!... Aliás, é difícil saber o que é isso de independentes. Habitualmente, são os preteridos pelos Partidos onde militam, ou para os quais trabalham por um desejo de Poder que consegue ser mais forte do que a fidelidade às suas próprias convicções, e depois quando se vêm descartados ripostam.

Recentemente para aquilatar as “águas em que navegam”, perguntei a um desses potenciais candidatos, se o seu “grupo” era de esquerda ou de direita. Foi-me explicado que não era, nem de um, nem do outro lado, mas conhecendo eu as suas convicções, fiquei perfeitamente elucidado. Por isso, podem mudar os nomes que quiserem, “Mais Montalegre”, “Menos Montalegre” ou qualquer outro!... Só avançam em grupo, porque outros lhes fecharam as portas.

A segunda, é que quando alguém é eleito sob a sigla partidária, ainda que designado de independente, podem os eleitores julgar o Partido que o integrou na sua lista, pela gestão ou eventuais desmandos que possa cometer. Mas este é um facto que não sucede com os autodesignados independentes. Meteram-se em sarilhos, vão à sua vida, e depois, quem vier atrás que feche a porta.

Um exemplo concreto: no Porto, a provarem-se os benefícios com uma bolsa valiosa de terrenos adquirida por usucapião, com escritura feita em Montalegre e nebulosamente caída na família de um autarca e dele próprio, que Partido pode o eleitorado punir em próximas eleições?!... Nenhum…

Por isso não tem nada que saber!... Os tais independentes que se querem fazer passar por “filhos de pais incógnitos da politica”, não são melhores nem piores que os outros – são iguais. Mas a responsabilidade terá sempre de cair sobre quem lhe dá guarida, o que com os chamados independentes não sucede. Por isso tenho pena, independentes não – obrigado.

(A minha crónica para o Planalto Barrosão de 1 Março- Texto escrito segundo a antiga ortografia)

01 março, 2021

OS VIOLINISTAS FURA-FILAS DAS VACINAS…

Há sensivelmente um ano, o país entrava num dos maiores desafios da sua História: enfrentar o desconhecido vírus do covid-19. Momentos houve, em que o país inteiro praticamente parou por conta dos agravos da pandemia e de um possível colapso na rede de saúde, face a uma doença que alastrava, e até então, sem tratamento específico, sem vacina, e sem outra forma de a conter, outra coisa não restava senão o confinamento.

Pessoas houve porém, que não tiveram a opção de ficar em casa!... Entre elas, os profissionais de saúde, que apesar de tudo, se predispuseram a lutar contra a pandemia e o medo. Medo de se infectar de infectarem, e por via disso os levaram a afastarem-se das suas famílias. Muitos deles, viram os seus próprios colegas a contraírem a doença e a não resistirem. Foi assim que à sua volta se gerou uma imensa onda de mobilização e reconhecimento, e todos quantos na chamada “linha da frente” davam e continuam a dar combate a esta malfadada pandemia, passaram a ver os seus méritos reconhecidos por uma corrente de aplausos e inúmeras demonstrações de empatia que todos saudamos. O que ninguém imaginava, é que um ano depois de tudo isso que os fustigou, os mesmos profissionais de saúde e outros que tanto sofreram com a angústia de não saber quais seriam os seus destinos, seriam parcialmente ignorados e desvalorizados perante o egoísmo de outros.

No inicio deste ano, as mortes e os casos de contaminação cresciam assustadoramente e o Governo, os hospitais e os ditos profissionais de saúde, eram incapazes de encontrar antídotos para travar tamanha calamidade. Entretanto, em Janeiro a esperança parece ter chegado!... As primeiras vacinas são aprovadas para distribuição e com prioridades direccionadas especificamente aos grupos de maior risco, entre eles, os profissionais que actuam directamente na linha de frente. 

Ao que assistimos porém, foi além de uma falta de respeito, uma covardia e egoísmo inimagináveis!... Isto é, pessoas que podem aguardar a sua vez e que têm até a opção de ficar em casa, a roubar a dose de esperança de quem não sabe o seu destino. São os fura-filas da vacina!... 

Um crime, que se para aqueles que sofrem e que lutam pela vida, a punição não pode ser maior que o desgosto e a angústia de ver o quão tamanho é o egoísmo e falta de empatia do ser humano, já para quem o promove e comete, a pena terá que ser exemplar e proporcional à sua torpeza moral – a Justiça não pode vacilar. 

E não me venham com a teoria das sobras!... As sobras são sim, todos aqueles a quem sobra a falta de vergonha na cara. Sim, esses mesmo conspurcadores da sociedade, a quem sobra a falta de dignidade suficiente para roubarem uma vacina a um idoso, a um doente ou a um profissional de saúde. E sobra-lhes em torpeza moral aquilo que lhes falta em carácter, valendo-se do poder de administrar o bem comum, para desviarem para si próprios e para os seus, aquilo que não lhes pertence. 

Não nos dêem música!... Gente desta não pode contar…

 Editorial da Revista A Barrosana de Março 2021

(Texto escrito segundo a antiga ortografia)


SERÁ QUE A BAZUCA EUROPEIA SE IRÁ CONSTITUIR COMO UMA OPORTUNIDADE PARA PORTUGAL NO SEU TODO?!... OU SERÁ MAIS DO MESMO...

Prepara-se uma batalha pela recolha dos “estilhaços” que a famosa bazuca irá provocar depois de libertar a sua carga explosiva na economia. Isto em linguagem belicista até soa bem porque não é despropositado comparar a uma batalha pela sobrevivência aquilo que milhares de pessoas e empresas fazem diariamente numa economia que vive há mais de um ano na sombra de uma pandemia que abala de uma forma violenta o intricado sistema económico mundial.

Está em discussão pública até ao início de Março, o Plano de Recuperação e Resiliência que implicará a chegada faseada nos próximos anos de quase 14 mil milhões de euros de subvenções europeias e 2.699 milhões de euros em empréstimos. O dinheiro está dividido em três prioridades: resiliência, transição climática e transição digital. O potencial de alavancagem de investimento desta “bazuca europeia” é gigantesco e muitas vozes já vão replicando o cliché habitual “da oportunidade única” e porventura “irrepetível” para o futuro imediato do país. Quanto a oportunidades “únicas” e “irrepetíveis” fomos ficando conversados com vastos exemplos ao longo das últimas décadas.

Portugal, à semelhança de muitos outros países, vive dentro de um turbilhão de incertezas quanto ao futuro imediato, que está dependente da forma de como se conseguirá domar a pandemia em curso. Mesmo olhando da forma mais optimista possível e apelando às declarações feitas pelo coordenador do Plano de Vacinação em Portugal, o vice-almirante Gouveia e Melo, de que no verão já será possível existir uma imunidade de grupo, hoje ninguém se atreve a fazer planos.

As empresas que ainda têm capacidade de investir não o fazem, tal como não o fazem as famílias que o podem fazer. “Cautela” e “caldos de galinha” são as palavras que condicionam a acção de quase todos. Esta “bazuca” vem cair nesse contexto de descrença e de profunda e urgente necessidade. Se nunca vimos tanto dinheiro prestes a ser injectado em tão curto espaço de tempo na nossa economia, também nunca vimos uma travagem tão brusca, tão vasta e tão devastadora na economia mundial. Tudo isto é demasiado novo, assustador e imprevisível e os caminhos para sair disto são estreitos e sinuosos. O que está em cima da mesa é, pois, a forma de como potenciar ao máximo cada euro que vai cair em Portugal com o aval de Bruxelas.

E este é um assunto sobre o qual nunca haverá unanimidade. Mas há questões que devem ser tomadas em conta e uma delas é a da desigualdade do acesso às oportunidades que esses fundos podem conceder. A dicotomia territorial entre Litoral e Interior, ou se quisermos, entre os que têm uma maior capacidade económica, de cooperação em rede, de pressão política e social têm, à partida, uma enorme vantagem sobre os outros territórios, onde essas capacidades estão fortemente diminuídas.

Se esta é uma oportunidade irrepetível, que o seja também para atenuar desigualdades históricas dentro do território nacional, que penalizam sempre os do costume. Porque se essa dinâmica continuar, no fim da execução destes incontáveis milhões, o que ficará é um aprofundamento brutal das desigualdades do território, ao ponto de as tornar efectivamente irreversíveis, mesmo a longo prazo. Esta oportunidade para Portugal só o é na plenitude se também servir para ajudar a corrigir injustiças e esquecimentos de antanho.