
Quando soam ainda as palavras de ordem contra a globalização, o neo-liberalismo, as deslocalizações e a competição mundializada, há uma voz que do “meio da rua”, se lembra de propôr e pensar, sobre este "mundo às avessas" e daí retirar as ilações necessárias, para um “aggiornamento” do movimento sindical.
Não deixa de ser digno de registo, que um sindicalista se tenha obrigado a "pensar" e a "reflectir" de forma séria, sobre os desafios que se colocam à sua actividade, ao mesmo tempo que apresenta esse esforço, sob a forma de dissertação de doutoramento em sociologia. Sei que os ortodoxos, de um lado e do outro da barricada, não pensam assim, mas isso é problema deles...
Uma coisa é certa: Já se tornou um lugar comum, a afirmação de que o sindicalismo atravessa uma profunda crise. As opiniões dividem-se, quanto a saber se isso é bom ou mau para a sociedade e para a própria economia. Enquanto ex:sindicalista e cidadão, sou dos que defendem o reforço da actividade sindical, porque a considero um dos pilares fundamentais da democracia e do progresso. A actual crise, resulta em parte, da incapacidade dos aparelhos sindicais se actualizarem - nos conteúdos, na linguagem, no funcionamento interno e nas formas de acção - e se adaptarem aos desafios do presente. Mas essa é apenas uma parte. A outra, responsável pela fragilidade do movimento sindical – e isso já não oferece hoje quaisquer dúvidas – são os processos em curso de liberalização e flexibilização dos mercados, de precarização das relações de trabalho e do emprego, que vêm sendo estimulados desde há 20 anos pela globalização neoliberal. Compete aos governos e às instituições democráticas – nomeadamente aos partidos políticos –, mostrar por um lado, como prevenir as consequências sociais da flexibilidade do trabalho, do encerramento de empresas e do desemprego, e por outro, qual o papel que cabe ao sindicalismo na vida do país. Se acham que os sindicatos não têm já qualquer função - a não ser a de servirem como “forças de bloqueio” - , então assuma-se que pretendem acabar com eles e aguentem depois as consequências disso mesmo. Se efectivamente se reconhece o sindicalismo como um direito constitucional consagrado, então que se respeite a sua autonomia. É bom que se saiba, não ter qualquer cabimento, o facto de serem as instituições e o governo a fazer juizos sobre o “bom” e o “mau” sindicalismo, como vem acontecendo. Isso é um problema que diz respeito ao próprio movimento sindical e que se mede principalmente pela suas bases de apoio. Se o “bom” sindicalismo for considerado aquele que está sempre de acordo com o parceiro mais forte, então o que se quer não é a negociação, mas a simples anuência ou aceitação. Essa, é de resto, a mentalidade que grassa entre os nossos patrões e o próprio governo, quando dizem que querem “diálogo”, não com os sindicatos, mas apenas com aqueles que aceitam, se possível com “entusiasmo” as suas próprias ideias acerca das empresas, das instituições e da produtividade.
Pensavam alguns mais ingénuos - entre os quais me incluo -, que um governo dito da esquerda moderna e socialista, tinha por obrigação e iria procurar alterar uma tal mentalidade, aliás, uma das principais causas da falta de inovação e de competitividade. Além de não o ter feito, do seu discurso e dos seus actos, o que sobressai isso sim, é a mesma mentalidade “sindicalofóbica” que existe nos segmentos do patronato mais conservador. Aliás e em abono da verdade, essa orientação, é plenamente coerente, com as políticas que vêm sendo propostas para a área laboral, numa linha seguidista e quase unânime que vem vigorando na UE. Não há hoje dúvidas, que o actual poder político, revela uma absoluta sintonia com as tendências do neoliberalismo reinante na Europa e no mundo. No campo laboral, a estratégia para o emprego já não é a “de Lisboa”, mas simplesmente a estratégia liberal global. O conceito de “trabalho digno”, que a OIT se propunha defender, há muito que deixou de fazer parte das preocupações governamentais e o direito do trabalho, está em vias de destruição, por ser considerado caduco e obsoleto. Apesar da evidente impossibilidade de se aplicar num país como Portugal um modelo semelhante ao da Dinamarca, esse parece ser o caminho obstinado do nosso governo. Sem mais delongas, tal significa para os nossos governantes, que os trabalhadores, são os responsáveis pela crise económica e pela falta de iniciativa e capacidade empreendedora da maioria das empresas.
Esquecem-se porém de países como o Luxemburgo, a Suiça, a Alemanha ou mesmo a França, onde os trabalhadores portugueses são tão produtivos como os demais. Que se saiba, a inovação tecnológica, o investimento na formação profissional, o respeito pelos direitos dos assalariados e a visão estratégica na gestão das empresas e das instituições, dependem sobretudo do próprio governo, dos seus gestores e dos empresários. Aí residem, as variáveis que podem explicar os - baixos ou elevados - índices de produtividade e de desenvolvimento socioeconómico. E sabemos bem, como – além da qualificação, da competência e da inovação – a segurança, a eficácia dos mecanismos de negociação, a estabilidade no emprego - e não o endividamento, por exemplo - são os principais factores da coesão social. Nisso sim, é preciso olhar para os exemplos da Finlândia e da Dinamarca. Mas o que se pretende importar daí, não é sequer a “flexigurança”, mas tão só um discurso que dá jeito para adornar a maior flexibilidade do trabalho e dos despedimentos. Na verdade, não se conhece qual a ideia que há para “adaptar” a flexigurança às condições específicas do nosso país, sobretudo quando não há condições para negociar as novas propostas legislativas do trabalho com os parceiros sociais.
E tanto assim é, que nem mesmo as recentes 200 mil vozes que se ouviram nas ruas de Lisboa, foram suficientes, para que se “OUVISSE A RUA”. E esta, foi uma das maiores manifestações de sempre na história da nossa democracia. A diferença, é a do tempo e do respeito pelas regras da democracia e da participação dos cidadãos, senão vejamos: enquanto as vozes do Primeiro, 1º de Maio de 1974, davam para celebrar a liberdade, as da Fonte Luminosa de 1975, serviam para travar os comunistas, as de hoje não servem afinal para nada. Hoje o governo, não “OUVE A RUA” .
Hoje, já não tenho dúvidas, de que o que se pretende é a destruição e o desmantelamento do movimento sindical. As acções falam por si. Além disso, este governo assimilou a ideia de que a negociação com os sindicatos, é qualquer coisa que apenas serve, para constar nos preâmbulos dos diplomas legislativos e atrapalhar a sua obsessão “reformista”, ou seja, o seu modo centralista de tomar e impor as decisões. O sindicalismo, goste-se dele ou não, é o único movimento capaz de contrabalançar a vontade tecnocrática que anima a mentalidade dominante. Uma mentalidade onde a política democrática e os mecanismos de diálogo não têm cabimento, tornando-se meros empecilhos. Fiquem no entanto a saber os governantes, que as reformas jamais poderão ter sucesso, sem o envolvimento das pessoas, dos trabalhadores e dos seus representantes. Se a pluralidade de opinião é olhada de soslaio e se a mobilização das forças democráticas não é considerada - e refiro-me aqui às mais representativas da sociedade civil -, onde está o espaço para os consensos? E que compromissos negociais poderão ser conseguidos se a estrutura sindical verdadeiramente representativa é totalmente ignorada? Actualmente, quase apetece perguntar, se não será a própria democracia que atrapalha, tantos são os atropelos à lei, aos direitos dos trabalhadores e dos cidadãos em geral. Mas engana-se quem pensa que a conflitualidade diminui com isso. Pelo contrário, com os níveis de pobreza a aumentar, com o desemprego crescente, a perda de poder económico e de estabilidade de sectores importantes da classe média e do funcionalismo, ganharão terreno os sentimentos de revolta e consequentemente o desinvestimento na actividade profissional. Assim, não tardará muito, que o conflito da LUTA DE CLASSES, possa ressurgir a muito curto prazo.
É bom que se saiba, que não é a facilidade no despedimento e a generalização dos contratos individuais de trabalho ou do trabalho temporário que vão responder às dificuldades da economia; e não é seguramente com mais dividas das famílias, com mais pobreza e desigualdades sociais que se dinamiza a vida económica e, menos ainda, a vida democrática. Por estas razões, e se de facto o governo quisesse aproveitar algo da experiência dos países nórdicos, a prioridade seria, em primeiro lugar, traçar uma estratégia de desenvolvimento para a sociedade no seu conjunto – utilizando o espaço que resta para a política e para a ideologia –, contando para isso com a mobilização das forças vivas em diferentes sectores sociais, e em segundo, dar espaço a uma verdadeira negociação, sem a qual não há possibilidade de atingir um compromisso colectivo em torno de um projecto. O problema é que o “projecto” vem sendo substituído pelas grandes tiradas e promessas mediaticamente encenadas, e a cultura democrática, vem-se afundando num discurso “tecno-burocrático”, que nos pretende convencer a todos, de que para tudo existem óptimas soluções técnicas, perante as quais a ideologia não tem cabimento e o “diálogo social” só atrapalha e atrasa. No meio de tudo isto, é ponto assente, que o Socialismo foi enterrado, a Social-Democracia está cada vez mais longe, e a Esquerda Moderna é um bluff.
Não deixa de ser digno de registo, que um sindicalista se tenha obrigado a "pensar" e a "reflectir" de forma séria, sobre os desafios que se colocam à sua actividade, ao mesmo tempo que apresenta esse esforço, sob a forma de dissertação de doutoramento em sociologia. Sei que os ortodoxos, de um lado e do outro da barricada, não pensam assim, mas isso é problema deles...
Uma coisa é certa: Já se tornou um lugar comum, a afirmação de que o sindicalismo atravessa uma profunda crise. As opiniões dividem-se, quanto a saber se isso é bom ou mau para a sociedade e para a própria economia. Enquanto ex:sindicalista e cidadão, sou dos que defendem o reforço da actividade sindical, porque a considero um dos pilares fundamentais da democracia e do progresso. A actual crise, resulta em parte, da incapacidade dos aparelhos sindicais se actualizarem - nos conteúdos, na linguagem, no funcionamento interno e nas formas de acção - e se adaptarem aos desafios do presente. Mas essa é apenas uma parte. A outra, responsável pela fragilidade do movimento sindical – e isso já não oferece hoje quaisquer dúvidas – são os processos em curso de liberalização e flexibilização dos mercados, de precarização das relações de trabalho e do emprego, que vêm sendo estimulados desde há 20 anos pela globalização neoliberal. Compete aos governos e às instituições democráticas – nomeadamente aos partidos políticos –, mostrar por um lado, como prevenir as consequências sociais da flexibilidade do trabalho, do encerramento de empresas e do desemprego, e por outro, qual o papel que cabe ao sindicalismo na vida do país. Se acham que os sindicatos não têm já qualquer função - a não ser a de servirem como “forças de bloqueio” - , então assuma-se que pretendem acabar com eles e aguentem depois as consequências disso mesmo. Se efectivamente se reconhece o sindicalismo como um direito constitucional consagrado, então que se respeite a sua autonomia. É bom que se saiba, não ter qualquer cabimento, o facto de serem as instituições e o governo a fazer juizos sobre o “bom” e o “mau” sindicalismo, como vem acontecendo. Isso é um problema que diz respeito ao próprio movimento sindical e que se mede principalmente pela suas bases de apoio. Se o “bom” sindicalismo for considerado aquele que está sempre de acordo com o parceiro mais forte, então o que se quer não é a negociação, mas a simples anuência ou aceitação. Essa, é de resto, a mentalidade que grassa entre os nossos patrões e o próprio governo, quando dizem que querem “diálogo”, não com os sindicatos, mas apenas com aqueles que aceitam, se possível com “entusiasmo” as suas próprias ideias acerca das empresas, das instituições e da produtividade.
Pensavam alguns mais ingénuos - entre os quais me incluo -, que um governo dito da esquerda moderna e socialista, tinha por obrigação e iria procurar alterar uma tal mentalidade, aliás, uma das principais causas da falta de inovação e de competitividade. Além de não o ter feito, do seu discurso e dos seus actos, o que sobressai isso sim, é a mesma mentalidade “sindicalofóbica” que existe nos segmentos do patronato mais conservador. Aliás e em abono da verdade, essa orientação, é plenamente coerente, com as políticas que vêm sendo propostas para a área laboral, numa linha seguidista e quase unânime que vem vigorando na UE. Não há hoje dúvidas, que o actual poder político, revela uma absoluta sintonia com as tendências do neoliberalismo reinante na Europa e no mundo. No campo laboral, a estratégia para o emprego já não é a “de Lisboa”, mas simplesmente a estratégia liberal global. O conceito de “trabalho digno”, que a OIT se propunha defender, há muito que deixou de fazer parte das preocupações governamentais e o direito do trabalho, está em vias de destruição, por ser considerado caduco e obsoleto. Apesar da evidente impossibilidade de se aplicar num país como Portugal um modelo semelhante ao da Dinamarca, esse parece ser o caminho obstinado do nosso governo. Sem mais delongas, tal significa para os nossos governantes, que os trabalhadores, são os responsáveis pela crise económica e pela falta de iniciativa e capacidade empreendedora da maioria das empresas.
Esquecem-se porém de países como o Luxemburgo, a Suiça, a Alemanha ou mesmo a França, onde os trabalhadores portugueses são tão produtivos como os demais. Que se saiba, a inovação tecnológica, o investimento na formação profissional, o respeito pelos direitos dos assalariados e a visão estratégica na gestão das empresas e das instituições, dependem sobretudo do próprio governo, dos seus gestores e dos empresários. Aí residem, as variáveis que podem explicar os - baixos ou elevados - índices de produtividade e de desenvolvimento socioeconómico. E sabemos bem, como – além da qualificação, da competência e da inovação – a segurança, a eficácia dos mecanismos de negociação, a estabilidade no emprego - e não o endividamento, por exemplo - são os principais factores da coesão social. Nisso sim, é preciso olhar para os exemplos da Finlândia e da Dinamarca. Mas o que se pretende importar daí, não é sequer a “flexigurança”, mas tão só um discurso que dá jeito para adornar a maior flexibilidade do trabalho e dos despedimentos. Na verdade, não se conhece qual a ideia que há para “adaptar” a flexigurança às condições específicas do nosso país, sobretudo quando não há condições para negociar as novas propostas legislativas do trabalho com os parceiros sociais.
E tanto assim é, que nem mesmo as recentes 200 mil vozes que se ouviram nas ruas de Lisboa, foram suficientes, para que se “OUVISSE A RUA”. E esta, foi uma das maiores manifestações de sempre na história da nossa democracia. A diferença, é a do tempo e do respeito pelas regras da democracia e da participação dos cidadãos, senão vejamos: enquanto as vozes do Primeiro, 1º de Maio de 1974, davam para celebrar a liberdade, as da Fonte Luminosa de 1975, serviam para travar os comunistas, as de hoje não servem afinal para nada. Hoje o governo, não “OUVE A RUA” .
Hoje, já não tenho dúvidas, de que o que se pretende é a destruição e o desmantelamento do movimento sindical. As acções falam por si. Além disso, este governo assimilou a ideia de que a negociação com os sindicatos, é qualquer coisa que apenas serve, para constar nos preâmbulos dos diplomas legislativos e atrapalhar a sua obsessão “reformista”, ou seja, o seu modo centralista de tomar e impor as decisões. O sindicalismo, goste-se dele ou não, é o único movimento capaz de contrabalançar a vontade tecnocrática que anima a mentalidade dominante. Uma mentalidade onde a política democrática e os mecanismos de diálogo não têm cabimento, tornando-se meros empecilhos. Fiquem no entanto a saber os governantes, que as reformas jamais poderão ter sucesso, sem o envolvimento das pessoas, dos trabalhadores e dos seus representantes. Se a pluralidade de opinião é olhada de soslaio e se a mobilização das forças democráticas não é considerada - e refiro-me aqui às mais representativas da sociedade civil -, onde está o espaço para os consensos? E que compromissos negociais poderão ser conseguidos se a estrutura sindical verdadeiramente representativa é totalmente ignorada? Actualmente, quase apetece perguntar, se não será a própria democracia que atrapalha, tantos são os atropelos à lei, aos direitos dos trabalhadores e dos cidadãos em geral. Mas engana-se quem pensa que a conflitualidade diminui com isso. Pelo contrário, com os níveis de pobreza a aumentar, com o desemprego crescente, a perda de poder económico e de estabilidade de sectores importantes da classe média e do funcionalismo, ganharão terreno os sentimentos de revolta e consequentemente o desinvestimento na actividade profissional. Assim, não tardará muito, que o conflito da LUTA DE CLASSES, possa ressurgir a muito curto prazo.
É bom que se saiba, que não é a facilidade no despedimento e a generalização dos contratos individuais de trabalho ou do trabalho temporário que vão responder às dificuldades da economia; e não é seguramente com mais dividas das famílias, com mais pobreza e desigualdades sociais que se dinamiza a vida económica e, menos ainda, a vida democrática. Por estas razões, e se de facto o governo quisesse aproveitar algo da experiência dos países nórdicos, a prioridade seria, em primeiro lugar, traçar uma estratégia de desenvolvimento para a sociedade no seu conjunto – utilizando o espaço que resta para a política e para a ideologia –, contando para isso com a mobilização das forças vivas em diferentes sectores sociais, e em segundo, dar espaço a uma verdadeira negociação, sem a qual não há possibilidade de atingir um compromisso colectivo em torno de um projecto. O problema é que o “projecto” vem sendo substituído pelas grandes tiradas e promessas mediaticamente encenadas, e a cultura democrática, vem-se afundando num discurso “tecno-burocrático”, que nos pretende convencer a todos, de que para tudo existem óptimas soluções técnicas, perante as quais a ideologia não tem cabimento e o “diálogo social” só atrapalha e atrasa. No meio de tudo isto, é ponto assente, que o Socialismo foi enterrado, a Social-Democracia está cada vez mais longe, e a Esquerda Moderna é um bluff.
Toda a gente se vai apercebendo destas realidades e a entrevista de hoje, de Mário Soares ao DN, bem como a greve geral do próximo dia 30, são dois exemplos, cuja leitura o governo não pode ignorar.