
Por fraqueza, muitas vezes os mais fracos, “falam grosso” na presença dos seus chefes. Por fraqueza, ou por uma incontrolável vontade de agradar ao chefe, é comum assistirmos a estes exercícios de adulação na política. O jovem presidente da Câmara de Alvaiázere, não fugiu à regra e nos últimos dias, na presença de Filipe Menezes, em jantar de acção política naquela vila, referiu-se a Sócrates afirmando: «António Oliveira Salazar era um aprendiz de ditador ao pé de José Sócrates». Naturalmente que há exageros na comparação!... Os momentos históricos do salazarismo e do sócretismo são inequivocamente distintos e não podem ser comparáveis seguramente. Contudo, sob a capa de uma democracia formal, não deixa de ser assustador os avanços de um certo “totalitarismo democrático” que Sócrates advoga e apadrinha. Avanços que se tornam visíveis e se concretizam na promulgação legislativa. O recente diploma sobre carreiras e vínculos da Função Pública, que me deixam cheio de interrogações, são disso um exemplo concreto. Sob a capa da modernidade, esconde-se nele um inequívoco “totalitarismo” partidário, numa nova concepção daquilo que é, e do que deve ser, a Administração do Estado, que pelos vistos, agora se pretende totalmente dependente dos partidos. Com a nova lei, o funcionário público, passa a ser um agente do governo e não do Estado. A independência política da Administração Pública deixa definitivamente de existir e passa a ser substituída pela dependência partidária governamental.
Neste sentido, e aí sim, tem razão naquilo que afirma, o presidente da Câmara de Alvaiázere. Por outras razões, a legislação relativa à Administração Pública do tempo de Salazar, colocava-a ao serviço do Estado, e assim, indubitavelmente mais democrata que esta agora parida pelos políticos desta segunda geração do 25 de Abril.
B)- A ENTREVISTA
B)- A ENTREVISTA

Aliás, é de notar como o Primeiro-Ministro não teve de responder a qualquer questão sobre a conjuntura internacional, cujas perspectivas pouco entusiasmantes poderiam pôr a descoberto o irrealismo do discurso socrático.
Isto é mesmo, o que de mais relevante teve a entrevista. Ela mostrou, a quem ainda não tivesse percebido ou querido ver, o gigantesco abismo entre o Portugal dos portugueses e o Portugal da retórica governamental. No Portugal dos portugueses, o fisco dispara primeiro (presume a culpa primeiro) e faz perguntas depois. Os contribuintes, por seu lado, caso sejam prejudicados, têm de esperar anos por uma decisão do tribunal. No país de Sócrates, os contribuintes não perderam qualquer direito, têm "todas as garantias" e "meios de recurso" a tribunais no caso de se sentirem lesados.
Isto é mesmo, o que de mais relevante teve a entrevista. Ela mostrou, a quem ainda não tivesse percebido ou querido ver, o gigantesco abismo entre o Portugal dos portugueses e o Portugal da retórica governamental. No Portugal dos portugueses, o fisco dispara primeiro (presume a culpa primeiro) e faz perguntas depois. Os contribuintes, por seu lado, caso sejam prejudicados, têm de esperar anos por uma decisão do tribunal. No país de Sócrates, os contribuintes não perderam qualquer direito, têm "todas as garantias" e "meios de recurso" a tribunais no caso de se sentirem lesados.
No país dos portugueses, o desemprego sobe, e as pessoas ficam mais pobres, sobrecarregadas pela pesada carga fiscal imposta pelo Estado. No país de Sócrates, a despesa está a ser controlada (apesar do Estado gastar mais do que gastava anteriormente), a economia cria emprego e cresce como o feijão mágico da lenda (como se esse crescimento não se devesse a um efeito de arrasto, promovido pelo crescimento da economia internacional, e portanto particularmente frágil numa altura em que se teme um significativo abrandamento da dita).
No país dos portugueses, a educação não gera mais do que desempregados ignorantes. No país de Sócrates, a educação é uma "aposta no futuro" que está a "ser ganha" pelo Governo.
No país dos portugueses, àcerca do futuro, só há incerteza e desespero. No país de Sócrates, tudo corre às mil maravilhas e nada do que se passa "lá fora" nos afectará, de tão "bem preparados" que estamos (como a estagnação dos salários, o desemprego e as falências certamente comprovam).
No país do Primeiro-Ministro, só habitam os membros do seu Governo, assessores bajuladores e jornalistas receosos de o confrontarem com a realidade, e a única preocupação de Sócrates são as eleições às quais ele finge não saber se vai concorrer. No país real, cada vez mais devemos temer que Sócrates comece mesmo a acreditar na fantasia que quer vender aos eleitores. Pois serão estes últimos a pagar o preço.