
Os acontecimentos das últimas semanas são um pequeno sinal do que caracterizará a política portuguesa nos próximos tempos.
A manifestação dos professores (com a quantidade de gente que nela participou), os protestos de Augusto Santos Silva contra as vaias de que foi alvo em Chaves (e a preparação da "contra-manifestação" do PS), e a conflitualidade interna no PSD (com Menezes e Santana reagindo às críticas com mais violência, do que aquela com que os críticos os atacam) deixam antever, uma significativa radicalização do debate político nos próximos tempos, sem que, ao mesmo tempo, haja entre as partes em confronto, uma verdadeira diferenciação, sem que apareça uma verdadeira alternativa ao caminho proposto pelo Governo.
A manifestação dos professores, aliada a outras cenários de participação da "rua", mostra como o Governo se encontra num equilíbrio precário: a sua propaganda assentava na sua "coragem", "firmeza" e recusa em "recuar". Mas, obcecado com nova maioria em 2009, está condenado a desiludir se recuar e a enfurecer se insistir.
O recurso à "rua", principalmente depois do precedente do afastamento de Correia de Campos, torna-se assim apetecível, o que fará cada vez mais gente sair para protestar, sem no entanto ter esperança num caminho alternativo. No entanto, o "barulho" que fazem é suficiente para incomodar o Governo, como se viu pela histeria de Augusto Santos Silva, que na mesma semana em que a Policia andou (mais uma vez) a espiolhar manifestantes, teve o desplante de acusar uns quantos cidadãos, de falta de democraticidade, só porque, desconhecedores das subtilezas da ciência política, cometeram o erro de o apelidar de fascista.
Apesar do seu ridículo, a intervenção de Santos Silva não é motivo de riso, mas sim um indicador de como o PS, à radicalização da "rua", responderá com a radicalização do seu próprio discurso, acusando, tal como no tempo da outra senhora, a oposição de "esquerda" de querer fazer uma ditadura comunista em Portugal, e a oposição de "direita" (se é que ela vai aparecer) de querer, tal como no Verão Quente de 1975, de "voltar ao 24 de Abril".
No meio de toda esta embrulhada, só falta mesmo Manuel Alegre e o seu movimento, para colocar "ordem na casa"!...
Enquanto isso, o maior partido da oposição, continuando a sua já longa travessia no deserto, encarrega-se de se anular a si próprio. Menezes, preocupadíssimo em conservar o poder interno, não se incomoda com o estrago que faz à imagem do partido junto dos eleitores. Ao querer apressar a votação das novas regras de funcionamento interno, apesar da fortíssima contestação de vários opositores, Menezes apenas mostrou que a manutenção desse poder interno é a sua prioridade política, e que mais importante que fazer oposição ao PS, é anular os críticos internos.
Com tal conduta e sem meias palavras, diz assim aos cidadãos e aos militantes de base, que dali não virá uma verdadeira alternativa, pois para Menezes parece haver coisas piores que um Governo PS. E quando Santana Lopes, vem acusar esses críticos de estarem "em conluio" com o PS, nota-se aqui, um fenómeno semelhante ao de Santos Silva: uma radicalização da linguagem provocada por uma percepção de fragilidade à qual é impossível dar a volta.
Ora, essa radicalização do confronto interno do PSD, apenas dificultará a sua afirmação como líder da oposição, perpetuando a ausência de uma verdadeira alternativa ao PS, que por sua vez, também fragilizado contribui para o sentimento de vazio dos portugueses, que os conduz à "rua", numa luta cada vez mais radicalizada, levando o partido do governo, a igualmente radicalizar o seu próprio discurso.
O debate, está assim a entrar num ciclo vicioso de degradação progressiva, que na ausência de uma oposição séria e eficaz, combinará no pior de dois mundos: teremos radicalização sem diferenciação, e homogeneidade sem estabilidade. A democracia ficará mais frágil, e nenhuma reforma que inverta o empobrecimento dos portugueses poderá ser promovida.
(DEVIDO AO PERIODO PASCAL, ESTA RUBRICA SOFRERÁ O PEQUENO INTERREGNO DE UMA SEMANA)