
Já se sabe, que no período que antecede as eleições, Sócrates evitará uma resposta clara a esta questão. Qualquer clarificação conduzirá à perda de votos.
Isto é: Se previamente apostar na complacência da direita, perderá para a esquerda; se inversamente disser, que apostará na benevolência da esquerda, perderá o centro. O melhor, pois, será sempre dizer que governará sozinho - acenando deste modo para a maioria absoluta, ainda que sabendo que as hipóteses são quase nulas - e deixando a questão dos acordos para depois das eleições.
Isto poderia parecer uma repetição do que fez Cavaco em 1985, ou Guterres em 1995 e que lhes permitiu governar, sem dificuldades de maior.
Só que... Sócrates tem uma história diferente. E essa história não lhe é favorável.
Se Cavaco representava uma viragem em relação ao marasmo do "bloco central" -e na verdade contrariava o "centrão" dos interesses- e se, 10 anos depois, Guterres representava a alternativa ao autismo e mesmo arrogância em que o Governo de Cavaco Silva tinha caído, após 10 anos de serviço, o que representa Sócrates em 2009?
Nada disto! Ele vem desgastado pelo seu estilo, pela crise e por uma maioria absoluta, que contra ventos e marés, impôs a suas regras, sacrificando mesmo altas figuras do Partido e símbolos da democracia. Ora sendo assim, dele ninguém espera nada, senão mais do mesmo. Desse ponto de vista, honra seja feita ao primeiro-ministro, não engana ninguém.
Mas… de uma coisa, poderá ter a certeza: A sua tarefa, será muito mais dificultada no caso de ter de negociar avulso no Parlamento. Quererá Portas dar-lhe a mão?... A troco do quê?... Da Adminiatração Interna?... Da Agricultura?... E nesse caso, o que dirá Louçã?... E o que dirá Jerónimo?... E se for Louçã, o que pedirá o Bloco em troca?... Ou o PCP?... A não ser assim, como decorrerão os grandes momentos parlamentares, a começar pela aprovação do programa do Governo e pela discussão do Orçamento do Estado, logo nos dois primeiros meses da nova legislatura.
Mais: A Sócrates faltar-lhe-á um "estado de graça" - ele que teve um dos maiores de que há memória depois de ter ganho a maioria absoluta em 2005 -, e não lhe será dado sequer o benefício da dúvida que Manuela Ferreira Leite poderia teoricamente reivindicar, caso vencesse as eleições. Neste caso – que me parece pouco provável - , a acontecer, a líder do PSD tem aliás, o problema da clarificação já resolvido!... Se ganhar, alia-se ao CDS. E está dito!
Quanto a Sócrates, aconselha a prudência que se cale, mas a prudência também tem os seus custos.
Que farão os eleitores de centro não sabendo para onde irá o PS em Outubro?...