
O estalar da “batata quente”, entre os senhores PGR e o presidente do STJ, que resultou das escutas do chamado processo Face Oculta, deu naquilo que era já previsível, isto é: Ausência de índicios, que eventualmente pudessem comprometer a figura do Primeiro-Ministro.
Posto isto, há que retirar deste e de outros processos – atinjam eles quem atingirem e trate-se de quem se tratar – algumas ilações. E a principal ilação a tirar, é que tudo quanto “cheira” a escutas, está de facto a passar das marcas!... Digo-o com convicção.
Como disse há dias – e a meu ver bem - um destacado membro do Governo, todo este emaranhado de escutas, contra-escutas, noticias e contra-noticias, nada tem a ver com justiça. Tem a ver isso sim, com autêntica espionagem politica e o retirar de dividendos pessoais, não se olhando a meios para atingir os fins.
Ao longo do tempo em que me conheço, não me recordo de atitudes de tanto sarcasmo, de tanta ironia e de tanta desconfiança, como aqueles que certos senhores de poderes diferenciados, conseguiram montar contra o sistema judiciário e até politico. Aquilo que está à vista escusa candeia: Instalou-se, informalmente, na comunicação social portuguesa um programa de justicialismo cujos resultados estão à vista e já cheiram a podre.
Por mais esforços que centenas de polícias, de procuradores e de juízes possam fazer para entregar dignidade à sua profissão, a traficância de informação (porque é disso mesmo que se trata) entre gente que vive no meio judiciário, na comunicação social e na política tornou-se num verdadeiro prostíbulo. O segredo de justiça já não passa de um arroto. A falta de decisão judicial em vários processos arrasta-se e arrasta Portugal para a lama. A comunicação social mistura, tempera e agita notícias apocalípticas, que em lume brando, desfazem vidas, destroem a honra e o carácter dos visados. A pretensa moralidade de comentadores comprometidos ou avençados faz o resto.
Quando o País se torna governável à luz do boato ou da notícia do dia, deixou de haver Governo, deixou de haver Oposição, deixou de haver política na sua maior nobreza para emergirem graves personalidades, botando discurso beato sobre a intriga, desleixados das suas obrigações.
Impõe-se que governe quem deve governar. Que faça oposição quem a deve fazer. Que investigue quem tem competência para investigar. Que julgue quem deve julgar. É preciso que certa gente ganhe vergonha na cara e cumpra as suas obrigações para com o País e os cidadãos. É para isso que lhes pagamos com os nossos impostos e as nossas contribuições. E porque lhe pagamos, exigimos uma justiça séria, uma justiça que julgue, em vez de mandar julgar na praça pública, muitas vezes "degolando" inocentes.
A mediocridade já foi longe demais, cheira a podre e a indignidade.
Não é com esta prostituição moral que o País sairá da crise.