
Com a diminuição das remessas do Brasil, a crise económica e financeira do início da década de 90, levou à desvalorização da moeda e ao aumento dos preços, dos impostos e do desemprego. Agravaram-se as condições de vida do operariado e das classes menos favorecidas.
Entretanto, recrudescia a luta entre os partidos ou facções, com a maçonaria e a carbonária muito activas. Preparava-se assim o "caldo" para o Regicídio e a implantação da República. Depois... a continuada crise financeira e as lutas entre republicanos, geraram a revolução de 1926 e a chegada ao poder de Salazar.
Em 30 anos, as diversas "crises", aliadas à descida das remessas do Brasil, provocaram um regicídio e duas revoluções.
Esses anos de crise continuada já lá vão, mas outras vão surgindo. Hoje e à semelhança do que aconteceu com o "petróleo" brasileiro, as remessas da UE vão desaparecer e o “caldinho” está outra vez entornado. O Orçamento para 2010, do qual se destaca a antecipação da penalização em 5 anos das pensões de reforma, e outros suculentos ingredientes, são "belos exemplos" para quem trabalha e trabalhou anos a fio. Em boa verdade e a continuarmos assim, o final do filme será bem trágico. A história ensina-nos muito (ou devia ensinar), mas os nossos líderes partidários e os nossos governantes, nem sonham que antes deles, possa ter havido história !...
Analisemos então a “estória recente” deste país à beira-mar plantado!...
Em Maio de 1926, teve inicio um movimento militar que haveria de pôr fim à 1.ª República. Portugal vivia em profunda crise financeira, económica e política. O desemprego, associado a uma degradação das instituições, evidenciava dois países: o formal e o real.
O primeiro estava corroído pela mesquinhez, pelos interesses egoístas de grupos partidários; o segundo estava distante dos políticos, descrente face ao presente e nada confiante com o futuro.
Os republicanos sérios, preocupados com o Estado, pouco podiam fazer diante da voracidade das intrigas e da baixa política. E num dia, fruto dos erros cometidos, o regime caíu. Caíu com o aplauso da população que se colocou ao lado dos revoltosos. Um relato atento de documentos sobre a época, pode mostrar-nos como estava de rastos a imagem da Justiça, da Administração Pública, do Parlamento, do Governo e de toda a classe política em geral.
Os problemas, como muitos disseram, não se resumiam ao défice e aos elevados juros a pagar no estrangeiro. Os problemas, passavam antes de mais, pela credibilidade perdida no funcionamento da Justiça e pela separação entre o povo e os seus representantes.
Os problemas, como muitos disseram, não se resumiam ao défice e aos elevados juros a pagar no estrangeiro. Os problemas, passavam antes de mais, pela credibilidade perdida no funcionamento da Justiça e pela separação entre o povo e os seus representantes.
Hoje, passados que são 84 anos, chega a ser arrepiante como tudo é tão idêntico e tão próximo. Eloquentes e notórios analistas, supostos descobridores da análise inédita, ignoram ou propositadamente nada dizem sobre o que provocou a queda da 1.ª República.
Sem o brilho, a inteligência e a qualidade de quem ao tempo escrevia sobre o assunto, eis que os vemos agora sentados nas suas "cátedras" de petulância, cheios da sua imensa pequenez, culpando somente o que se passa lá fora para justificar o que de errado voltámos a fazer cá dentro.
Mas a História repete-se. Sem as especiarias da Índia, o ouro do Brasil e o dinheiro da CEE, gasto sabe-se lá como, voltámos ao que éramos. Pobres e cheios de deficiências estruturais, mas com a leveza de espírito característica dos incautos.
Mudou alguma coisa? É certo que sim. Temos mais auto-estradas, mais periferia, promessas de TGVs, de novos Aeroprtos, dívidas quanto baste e muitos subsídio-dependentes. É ainda certo que temos pessoas e profissionais de inquestionável qualidade, apesar de se contarem pelos dedos das mãos as possibilidades de êxito que alcançam numa sociedade, como a portuguesa, que cultiva e sustenta a mediocridade. Ser medíocre e mediano, é condição base para progredir e para sobreviver.
Não há agricultura, nem pescas; não possuímos indústria; o comércio está de rastos e o povo sem dinheiro. Mas que relevância têm estas coisas menores, perante a pujança, dos corruptos, das obras públicas desnecessárias e da organização de eventos megalómanos? Diante de tamanha grandeza interessará para alguma coisa o estado deplorável a que chegámos?...
Para o país formal não!... Contudo há ainda quem se interesse. Será uma minoria?... Talvez... Uma minoria que não se conforma e uma minoria que não faz depender a razão das suas preocupações e ideias da quantidade volátil dos espectadores do circo.
Até porque, como em todos os circos, esses espectadores só aplaudem enquanto tiverem entretenimento e pão. E o entretenimento pode continuar, mas o pão vai escassear. E vai escassear, porque perante o Orçamento de Estado com que ontem fomos presenteados, as dificuldades vão aumentar. Vai haver mais desemprego, mais fome, mais instabilidade social, e a economia ao contrário do que se afirma, vai sofrer um sério revés.
Perante todos estes factos, o Governo deve explicações ao Povo!... Principalmente ao “povo” que votou Partido Socialista. O Governo tem de explicar as razões pelas quais antes das eleições prometeu um défice de 5,9% do PIB, e agora vem a terreiro indicar, que esse desvio (entre aquilo que o país produz e o que tem de pagar) se apresente quase nos 10%.
Segundo a nova estimativa do agora Governo, Portugal tem um défice de 9,3%, isto é: um pouco mais baixo que o assustador desvio das finanças públicas gregas: 12,7%.
Ou seja: sobra apenas a perplexidade de, em pouco mais de três meses (Setembro/Dezembro) , o défice saltar mais de 3 pontos percentuais.
Fora esta inqualificável mentira e este absurdo, fica um ministro das Finanças cansado a falar para os portugueses, que já quase à meia-noite de ontem, pouca importância dedicaram às ideias que apelidava de generosas: a preocupação de entregar uma proposta ao país baseada na confiança e na sensibilidade social.
É verdade – como disse o Ministro – que os impostos servem para redistribuir riqueza!... Porém, esqueceu-se que também servem para penalizar maus comportamentos sociais, e que estes não são tratados da mesma maneira. Os cigarros pagam imposto – fazem mal à saúde, mas os fumadores pagam (e de que maneira) ao Estado os custos dos seus vícios. Mas nem todos pagam pelos maus comportamentos sociais!... Para o Ministro, entre muitos outros exemplos, a banca, a começar pelo BPP e BPN, e os gestores que “criam emprego” e valor sem roubar ou enganar não são cancros. São vida numa economia. Por amor de Deus senhores da politíca...
O lema, não muda de rumo!... É preciso ir “buscar o pilim” onde é mais fácil. São sempre os mesmos os sacrificados. E aqui, a teimosia política manifesta-se de várias formas: insistir que podem ser realizados grandes investimentos públicos sem fortes análises financeiras, é como pretender que exigentes esforços físicos se consigam sem treino ou preparação. A fobia de congelar os salários da função pública, jamais deverá ser usada apenas em momentos de grande aflição. O que afecta as contas públicas ou parte delas, não são os funcionários públicos em geral, mas sim a existência de funcionários que não trabalham, que nada fazem e gente que vive à custa de ardilosos subsídios, e à custa de quem dá o “corpo ao manifesto”.
Olhar remunerações de pessoas como um problema é supor que uma dieta começa pela comida – e não pelo gordo. Seja como for, a ideia é fácil e penaliza como já disse sempre os mesmos – ainda que se saiba que fazer crescer estes salários é impossível para um país que quase não tem dinheiro para existir. Não há nada mais desolador num país do que olhar em frente e não descobrir caminho.
Para “desgraça” nossa, ou muito me engano, ou a continuar assim, grandes transformações poderão ocorrer a curto prazo.
O Povo não é de “ferro” e a História poder-se-à repetir…
LEIA AQUI O ORÇAMENTO DE ESTADO: