
Não é fácil para qualquer Governo, gerir uma economia onde a produtividade é uma desgraça, onde o endividamento sufoca e onde o desemprego é de uma tal gravidade que pode redundar mesmo em tragédia. Partindo destes pressupostos e face ao défice das contas públicas, à busca desesperada de soluções, a questão que se coloca é incontornável: Abandonar o euro poderá ser uma saída?!... Que consequências poderiam daí advir?!...
Ponto prévio: Quando Portugal aderiu ao euro, fê-lo porque em consciência estava interessado nisso e porque respeitou os critérios de convergência exigidos em termos de finanças públicas e de estabilidade de preços. Ora sendo assim, e tendo mesmo em conta que o Plano de Redução do Défice, não produza os efeitos esperados, não vislumbro a mínima razão para que, quer por vontade própria, quer alheia, abandone o Euro. Aliás, neste último caso, nem sequer imagino que entidade poderia fazê-lo: A Comissão Europeia?!... O Banco Central Europeu?!... É impossível. Mas nada impede que o faça por vontade própria.
Ainda assim, admitamos um cenário de saída com um euro a valer 200$00 mas objecto de uma desvalorização de 30% logo a seguir. Assumamos ainda para o PIB um valor de €165 mil milhões e uma dívida externa de valor equivalente. Neste caso, o PIB passava a medir-se por 33 mil milhões de contos. Mas, como os 200$00 valiam apenas 0,7 euros, a dívida externa pulava para 47 mil milhões, isto é 43% mais. A primeira consequência era negativa.
Mas é no plano social que as comparações devem ser feitas. Do lado das empresas, e uma vez que o preço das exportações baixava, passaríamos a vender mais e a criar mais postos de trabalho: seria óptimo. Mas em termos de poder de compra, e uma vez que o preço das importações subia, os mesmos escudos compravam agora menos coisas e o nível de vida regredia: seria péssimo. Estarão os portugueses disponíveis para trocar menores salários por mais emprego?...
A questão de fundo está aqui!... No meio de tudo isto, é óbvio que o endividamento tem de ser travado. Mas não consigo imaginar como é que, sem uma ruptura social, vamos alterar os hábitos consumistas a que os portugueses há muito se habituaram. Pois bem, a desvalorização teria esse mérito: através do fenómeno da ilusão monetária, os hábitos seriam mesmo alterados sem que no essencial as pessoas se apercebessem disso e para um Governo em apuros isto é uma tentação, tentação essa, que não acredito o espectro politico nacional ponha em prática.