1 - Como já tinha referido em comentários anteriores, a Ministra da
Administração Interna não tinha condições para continuar no cargo e acabou
mesmo por se demitir. Não vou dizer que o fez tarde e a más horas, porque isso
seria injusto. E seria injusto, porque se ficou agora a saber, que já havia
solicitado a sua demissão logo após os acontecimentos de Pedrógão. E soube-se
até mais: que só aceitou manter-se em funções a pedido de António Costa, e para
servir os interesses do País, o que contraria a tese daqueles que levianamente
não se cansaram de afirmar, “QUE ESTAVA AGARRADA AO PODER E QUE SÓ QUERIA
TACHO”.
Perante este último facto, há desde já uma primeira ilação a tirar: ou os
portugueses se mantêm de “pestanas bem abertas” contra esta mentalidade populista,
ou não tardará muito que sejamos conduzidos a um qualquer Governo liderado por
um Trump português. Obviamente que não será o asqueroso Ventura, mas será com
toda a certeza, outro qualquer que o sistema – coadjuvado pela pior direita de
que há memória, se esforça por gerar a seu tempo, aproveitando-se da desgraça
alheia.
Ao dar-se credibilidade a este “populismo perigoso e demagógico” desse dito
sistema, que nada mais tem para oferecer ao país, senão isso mesmo, estamos
ainda que indirectamente, a contribuir para que cada vez menos pessoas sérias,
capazes e competentes, queiram sujeitar-se a ser diariamente atacadas, vexadas
e vilipendiadas apenas pelo facto de exercerem um cargo político. E esta -
tome-se nota - é uma das causas porque vemos o declínio constante e progressivo
da classe política, seja ele exercido ao nível do Poder Central ou Local.
2 - Quanto aos incêndios!... É um facto que é impossível ficar indiferente
a tamanha tragédia, particularmente à daqueles que foram mais atingidos, e se
traduziu na perda de vidas humanas e do trabalho de uma vida. Mas a enormidade
dessa tragédia mostra também a outra face da moeda!... Mostra o quanto
pequeninas são, boa parte das nossas lideranças políticas e figuras, entre quem
governa, entre quem governou, entre quem nos quer governar ou
"guiar", entre quem discorre sobre tudo quando sabe pouco ou nada, ou
entre quem tem o dever de informar e não vender imagens e discursos que nos
indignam.
O tempo, a tragédia, a dor, a ética, a solidariedade, o respeito, mais do
que aconselhar, exigem contenção nos discursos e acção, e nunca "políticas
pequeninas" visando a contabilidade nas urnas, ou o que acham que o
"povo" quer ouvir. Assunção Cristas e certa comunicação social, são
os expoentes máximos dessa manigância populista.
Dito isto, quem espera por uma “varinha mágica” que possibilite varrer os
incêndios do país, ou é ignorante ou vive na lua. Para ser simpático, há mais
de 30 anos que sabíamos que os incêndios iriam ser uma calamidade quer em
Portugal, quer na Peninsula, quer em muitos outros lugares. No caso português,
aquilo que foi feito ao longo dos anos para pelo menos amenizar o problema, foi
consecutivamente atirar com ele para debaixo do tapete, e quem viesse atrás que
fechasse a porta.
E assim aconteceu também com o Governo PSD/CDS!... Governo que com Passos
Coelho como Primeiro-Ministro e Assunção Cristas como Ministra das Florestas,
cortou no Orçamento do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, o
montante de 21 milhões de euros, passando dos anteriores 82 milhões, para 61
milhões.
Mais: o orçamento para investimento na defesa da floresta, foi o que mais
sofreu com os cortes, particularmente entre 2013 e 2015!... Entre esses anos,
as verbas atribuídas para o efeito, passaram de 9 para 3 milhões de euros, e em
2014 foram praticamente obliteradas, passando para 500 mil euros. Esta foi pois
a “grande reforma da floresta“, levada a cabo pelo Governo PSD/CDS, que assim
continuou a entregar toda a gestão dos incêndios aos privados.
A- Privados que cobram ao erário público valores que atingem os
50.000€/hora pela utilização de meios aéreos;
B- Privados que fabricam ou importam e vendem ao Estado equipamentos e material
de combate aos fogos - tudo material de desgaste rápido e passível de
permanente renovação;
C- Privados especializados em aquisições e preparação de viaturas de combate a
incêndios - significativamente subsidiadas pelo Estado - que asseguram a
substituição das que todos os anos se perdem ou deterioram em operações;
D- Privados especializados em comunicações de que é exemplo o famigerado SIRESP
que factura milhões ao Estado;
E- Privados que facturam através de empresas "especializadas" na
reconstrução - subsidiada pelo Estado - de imóveis urbanos destruídos ou
atingidos pelos incêndios;
F- Privados que facturam através de empresas "especializadas" na
reflorestação - paga pelo Estado - das florestas queimadas;
G- Privados que facturam através das IPSS que encaixam milhões em donativos -
caso recente de Pedrogão e depois não prestam contas a ninguém do dinheiro que
receberam;
H- E finalmente os privados ligados à comunicação social, que facturam e muito
– particularmente as televisões, que montam autênticos circos mediáticos
altamente dramatizados com a repetição dias seguidos de imagens dramáticas e
chocantes, porque a publicidade passada nos intervalos do dito circo é muito
mais lucrativa e porque além de ser mais cara tem mais audiência.

ESTE É POIS O NEGÓCIO DOS INCÊNDIOS QUE URGE MINIMIZAR. Neste contexto e
tendo em conta que salvo raríssimas excepções bem identificadas em que os
incêndios têm por origem mão humana, há também que dizer que o homem não é
pirómano por definição, e sendo assim, considero-me no legitimo direito de
suspeitar, que anda por aí muito boa gente a atear incêndios para depois os ir
apagar e assim poder emitir a respectiva factura para o Estado pagar com o
dinheiro dos nossos impostos.
Enquanto o Estado persistir em não entender a quem aproveita o
"crime" e que o "crime" neste caso até compensa, bem pode
continuar a procurar os "responsáveis", que é o mesmo que procurar
uma agulha em palheiro.
3 - No plano politico, já se percebeu que Assunção Cristas é a principal
intérprete da demagogia e do oportunismo politico; já se percebeu que é mesmo a
“rã que quer ser boi” segundo a evocação do “camarada Jerónimo“; já se percebeu
que no imediato é o PSD que fica mais fragilizado ao ter que ir a reboque da
“rainha do populismo”; e já se percebeu que António Costa - porque não soube
tirar ilações políticas desde o Verão - e não era apenas demitir a sua ministra
predilecta que se impunha, mas introduzir alterações de fundo no funcionamento
da Protecção Civil, verá a partir de agora a sua vida mais dificultada e a sua
autoridade diminuída.
Quanto a Marcelo Rebelo de Sousa, esse “não falha”!... E não falha desde
logo porque não arrisca. Dissolver a Assembleia da República - os outros que o
façam numa alusão clara ao PCP, ao PEV e ao BE. Podem porém Marcelo e a direita
descansar!... Os Partidos que suportam o Governo não irão permitir a dissolução
e provocar o seu próprio esvaziamento. A Moção oportunista não passará e o
Governo e a maioria que o suportam sairão assim reforçados.