24 fevereiro, 2008

POLÍTICA RASCA / A ENTREVISTA DE SÓCRATES

A)-POLITICA RASCA...
Por fraqueza, muitas vezes os mais fracos, “falam grosso” na presença dos seus chefes. Por fraqueza, ou por uma incontrolável vontade de agradar ao chefe, é comum assistirmos a estes exercícios de adulação na política. O jovem presidente da Câmara de Alvaiázere, não fugiu à regra e nos últimos dias, na presença de Filipe Menezes, em jantar de acção política naquela vila, referiu-se a Sócrates afirmando: «António Oliveira Salazar era um aprendiz de ditador ao pé de José Sócrates». Naturalmente que há exageros na comparação!... Os momentos históricos do salazarismo e do sócretismo são inequivocamente distintos e não podem ser comparáveis seguramente. Contudo, sob a capa de uma democracia formal, não deixa de ser assustador os avanços de um certo “totalitarismo democrático” que Sócrates advoga e apadrinha. Avanços que se tornam visíveis e se concretizam na promulgação legislativa. O recente diploma sobre carreiras e vínculos da Função Pública, que me deixam cheio de interrogações, são disso um exemplo concreto. Sob a capa da modernidade, esconde-se nele um inequívoco “totalitarismo” partidário, numa nova concepção daquilo que é, e do que deve ser, a Administração do Estado, que pelos vistos, agora se pretende totalmente dependente dos partidos. Com a nova lei, o funcionário público, passa a ser um agente do governo e não do Estado. A independência política da Administração Pública deixa definitivamente de existir e passa a ser substituída pela dependência partidária governamental.
Neste sentido, e aí sim, tem razão naquilo que afirma, o presidente da Câmara de Alvaiázere. Por outras razões, a legislação relativa à Administração Pública do tempo de Salazar, colocava-a ao serviço do Estado, e assim, indubitavelmente mais democrata que esta agora parida pelos políticos desta segunda geração do 25 de Abril.
B)- A ENTREVISTA
O aspecto mais evidente da entrevista de José Sócrates à SIC e ao Expresso, para dissecar os seus três anos de governação, foi o de ter estado mais perto de ser "uma sessão de propaganda" do que verdadeiramente "uma entrevista". É verdade que ela abordou temas incómodos ao Primeiro-Ministro, como o emprego, a política fiscal, a Saúde, a Educação e a polémica em torno dos projectos do "engenheiro técnico da Câmara da Covilhã". Mas não sejamos ingénuos: Pela forma como a entrevista se desenrolou, serviu essencialmente para o Primeiro-Ministro "explicar" as suas políticas, isto é: Em vez de ser confrontado com resultados objectivos e dificuldades futuras, Sócrates pôde discorrer àcerca de como tudo era maravilhoso, e de como todas as críticas à política governamental não passam de "falsidades" e "demagogia".

Aliás, é de notar como o Primeiro-Ministro não teve de responder a qualquer questão sobre a conjuntura internacional, cujas perspectivas pouco entusiasmantes poderiam pôr a descoberto o irrealismo do discurso socrático.
Isto é mesmo, o que de mais relevante teve a entrevista. Ela mostrou, a quem ainda não tivesse percebido ou querido ver, o gigantesco abismo entre o Portugal dos portugueses e o Portugal da retórica governamental. No Portugal dos portugueses, o fisco dispara primeiro (presume a culpa primeiro) e faz perguntas depois. Os contribuintes, por seu lado, caso sejam prejudicados, têm de esperar anos por uma decisão do tribunal. No país de Sócrates, os contribuintes não perderam qualquer direito, têm "todas as garantias" e "meios de recurso" a tribunais no caso de se sentirem lesados.

No país dos portugueses, o desemprego sobe, e as pessoas ficam mais pobres, sobrecarregadas pela pesada carga fiscal imposta pelo Estado. No país de Sócrates, a despesa está a ser controlada (apesar do Estado gastar mais do que gastava anteriormente), a economia cria emprego e cresce como o feijão mágico da lenda (como se esse crescimento não se devesse a um efeito de arrasto, promovido pelo crescimento da economia internacional, e portanto particularmente frágil numa altura em que se teme um significativo abrandamento da dita).
No país dos portugueses, a educação não gera mais do que desempregados ignorantes. No país de Sócrates, a educação é uma "aposta no futuro" que está a "ser ganha" pelo Governo.
No país dos portugueses, àcerca do futuro, só há incerteza e desespero. No país de Sócrates, tudo corre às mil maravilhas e nada do que se passa "lá fora" nos afectará, de tão "bem preparados" que estamos (como a estagnação dos salários, o desemprego e as falências certamente comprovam).
No país do Primeiro-Ministro, só habitam os membros do seu Governo, assessores bajuladores e jornalistas receosos de o confrontarem com a realidade, e a única preocupação de Sócrates são as eleições às quais ele finge não saber se vai concorrer. No país real, cada vez mais devemos temer que Sócrates comece mesmo a acreditar na fantasia que quer vender aos eleitores. Pois serão estes últimos a pagar o preço.

17 fevereiro, 2008

GOVERNO E “OPOSIÇÃO” VESTEM DE ROSA!...

Sócrates, está agora mais preocupado que nunca!...
Temendo a renascida alma socialista, que está a contagiar grande parte do Partido, e que por arrastamento se pode apoderar do Primeiro-Ministro, não deixa também indiferente o Presidente da República.
Quer tudo isto dizer, que no espaço de duas semanas, o deputado Manuel Alegre, se transformou na mais destacada figura da nação. E transformou-se na mais destacada figura da nação, porque durante a última semana, se discutiu a possibilidade do ex-candidato presidencial voltar a romper com o Partido Socialista, desta vez promovendo uma cisão, que presumivelmente impediria uma maioria, ou mesmo a vitória socialista em 2009.
Na sexta-feira passada, Alegre deu uma entrevista ao jornal “Público”, onde deixou bem clara a insatisfação, já evidente no seu comportamento na Assembleia da República, ao longo dos últimos meses, com a governação de José Sócrates. Para além disso, no fim de semana cessante, reuniu-se com os socialistas pertencentes ao seu “movimento”, que alegadamente, pretende agora transformar numa “corrente de opinião” no seio do PS, que terá como objectivo, discutir o que é “ser socialista hoje” e formas de “revitalizar” a democracia.
Depois de lhe perguntarem se se candidataria à liderança do PS, Alegre garantiu que não. Porém horas depois, garantia que “se” os dirigentes socialistas “o desafiarem”, não se esconderá, mas que os enfrentará “no país”, e não onde o aparelho por eles dominado o possa controlar.
O discurso de Alegre, em si, nada tem de novo. Mas é tudo menos irrelevante. A sua importância não está no seu conteúdo, mas no facto de existir. A particular insistência de Alegre, e a forma agressiva como se pronuncia, mostram como a governação de Sócrates está dependente de uma frágil base de apoio social. Sócrates governa, em parte, com o “apoio” de gente que não concorda com a sua governação. Alegre manifesta-se (e manifesta-se assim tanto) porque sente que fala por muita gente a quem Sócrates deve o poder. Porque sente que, se Sócrates cair, é por ali que cai, e que portanto, se quer sobreviver, tem que dar ouvidos a Alegre e à “corrente de opinião” que ele quer representar.
Este, é mesmo o aspecto mais triste da realidade que a oposição de Alegre põe a nu: ele é que é, a oposição. A atenção, que durante toda a semana, foi dada a uma reunião que juntaria alguns obscuros militantes socialistas, tudo porque um singular deputado os convidou a participar, só é compreensível à luz da total inactividade do resto da oposição: o PCP, apesar da força social que ainda vai tendo, não tem a simpatia das televisões; o BE, apesar da simpatia das televisões, não tem força social; o CDS/PP, apesar da hábil escolha de temas com que ataca o Governo, sofre com a sua pequenez e a falta de credibilidade de Portas e o PSD opta deliberadamente por não fazer oposição, nem marcar a agenda politica.
Manuel Alegre transformou-se assim, pura e simplesmente, no rosto da única alternativa a Sócrates, que é oferecida aos portugueses e o resto é conversa fiada. E ao transformar-se na única alternativa, que é oferecida aos portugueses, “pintou o país de rosa”. Isto é: o governo é do PS, e a oposição também. À sua volta, está a irrelevância, o vazio, o silêncio, a vaidade e a falta de capacidade, para o combate político eficaz e responsável, de uma oposição cada vez mais desacreditada, que leva ao espírito dos cidadãos, a indiferença, a resignação, a insegurança e o sentimento de inevitabilidade, em que se vêem envolvidos.
Para a democracia e para os cidadãos, é o pior que pode acontecer num país.


10 fevereiro, 2008

O POVO NÃO É ESTÚPIDO

GENERAL GARCIA LEANDRO E AS DECLARAÇÕES À SIC
As declarações do general Garcia Leandro, esta semana, na estação de televisão SIC, ainda que de algum modo inesperadas, foram seguramente frontais e lúcidas.
Ninguém estaria à espera que um General das nossas forças armadas, que à semelhança de seus camaradas de armas, têm mantido nesta terceira república uma “prudente” reserva, publicamente e para surpresa de todos, viesse afrontar de uma forma tão contundente e precisa, o sistema político vigente, passados que são trinta e quatro anos do 25 de Abril.
Garcia Leandro não é um qualquer General, é uma figura relevante e altamente conceituada nos meios militares, pelo que a convicção, o rigor, a clareza e o desassombro que manifestou nas suas afirmações às perguntas da jornalista, deixa antever que a análise política que descreveu da evolução política do País das últimas décadas, não será fruto de um impulso repentino, nem exclusivamente sua, mas comum aos mais altos corpos das forças armadas.
Disse o General: "Vivemos numa democracia de má qualidade, empobrecida, com a corrupção institucionalizada, com uma classe política gozando de privilégios obscenos, que eles próprios souberam criar e que ampliam ano após ano, à custa de mais impostos e cortes sociais, para seu exclusivo proveito. E, desta classe política que assim procede, não podem os portugueses esperar uma alteração radical dos seus comportamentos, das suas políticas". "Na verdade, o sistema político está podre, caduco e esgotado e a manter-se a sua continuação só poderá agravar continuadamente o desenvolvimento económico e as condições de vida dos cidadãos".
Bem hajam portanto as palavras de Garcia Leandro, que nos permitem pensar, que porventura, a mudança não estará tão longe como se afigura ao comum dos portugueses. As movimentações já começaram e Sócrates só tem uma solução: Ou arrepia caminho, ou já teve melhores dias. É que o povo, não é estúpido.

03 fevereiro, 2008

A ESCOLA DEMOCRÁTICA...

No noticiário da Antena 1, de um dia desta última semana, que ia ouvindo na lentidão do IC19, quando me deslocava para Lisboa, avultava a notícia da manifestação dos alunos do ensino secundário.
Um “estudante” lá ia explicitando o nobre motivo da manifestação: razões várias e ponderosas!...
Em primeiro lugar, a luta contra o excesso de tempo passado na escola. O aluno referiu mesmo a sua experiência pessoal, a violência extrema de ter que se levantar todos os dias às sete horas e meia da manhã, para ter a primeira aula às oito horas e só sair às 16 horas e quarenta minutos!...
Em segundo lugar, a luta por uma verdadeira educação sexual, disciplina básica dada de forma insuficiente.
Em terceiro lugar, a luta contra as aulas de substituição.
Em quarto lugar, a luta contra os exames. E havia mais uma ou duas razões muito justas, mas que agora me escapam.
À noite, no sentido inverso, e também na Antena 1, a inefável Dr.ª Ana Benavente, antiga Secretária de Estado da Educação de um Governo de Guterres, representando um qualquer grupo ad-hoc, não sei se formado apenas para a entrevista, também perorava exaltadamente sobre o tema, nomeadamente sobre a falta de democracia nas escolas.
Não resisti e pus música. Visto tudo isto e concluído, a escola como local de ensino JÁ FOI. Modernamente, em Portugal, a escola é para se passar por lá, assistir a umas aulas facultativas, porque se pode faltar à vontade, ter umas aulas teóricas de educação sexual, e sair rapidamente, para ter tempo de praticar. Respeito pelos Professores?... Aulas obrigatórias?... Possibilidade de reprovar por faltas?... Exames?... Possibilidade de reprovar por falta de conhecimentos?... Quem é que ainda fala nessas excentricidades?...
Mas não basta: há ainda muito para aprofundar na escola democrática!... Cá por mim, estou de acordo e aprofundava-a de vez.
Aprofundava-a de vez, num buraco profundo e bem fechado, mas bem assinalado, para não esquecer a imbecilidade dos que a vêm promovendo.
BASTA DE TANTA POUCA VERGONHA...