Chumbar o Orçamento, é neste momento, a solução que menos interessa ao país, a que menos interessa ao PSD, enquanto potencial governante, tendo em conta a alternância democrática, mas se calhar, a que mais interessa ao Primeiro-Ministro José Sócrates.
O chumbo do Orçamento para o próximo ano, levará a uma crise política sem precedentes, à nomeação de um governo de iniciativa presidencial de base socialista, e à realização de eleições. Como por imposição constitucional, só é possível a sua realização em Maio de 2011, e novo governo na sequência das mesmas, na melhor das hipóteses em Junho, teriamos assim e durante oito meses, o país em pantanas, em campanha eleitoral que os Partidos não dispensariam e um país sem Governo e sem Orçamento. Será que iria aguentar?!... Evidentemente que não!... E isso é um dado tão adquirido, que até o cidadão menos informado percebe …
Com uma crise política, as agências de rating não perdoariam, e os especuladores não enjeitariam a oportunidade de fazer subir os juros da dívida pública, isto para não dizer, que correríamos mesmo o risco de nos fecharem a torneira do crédito, o que significaria não haver dinheiro para emprestar a ninguém, e quem sabe, para pagar os salários da função pública.
Mas a desgraça, não se ficaria por aqui!... Quando ocorressem eleições em Maio, já cá estaria o FMI. Ficaríamos iguais à Grécia. E o novo Governo que saísse das eleições, teria que tomar medidas ainda mais duras que as agora anunciadas. Ou seja, um erro dos políticos, levaria os cidadãos a pagarem uma nova factura, porventura bem mais pesada. Teriamos mais desemprego, mais cortes nos salários, pensões ainda mais baixas, mais sofrimento e mais pobreza...
Para o PSD, o maior Partido da oposição, precipitar uma crise política e económica deste tipo, seria por conseguinte e também uma má solução. Apesar de lhe assistir inteira razão - tal como a outros - nas críticas que faz, designadamente no que diz respeito ao aumento desmesurado da carga fiscal, com particular realce nos impostos directos e indirectos, o PSD passaria a ser o bode expiatório de todos os males e José Sócrates ganharia novo fôlego. Isto é: Virava-se o feitiço contra o feiticeiro…
Com uma crise desencadeada pela não viabilização do orçamento, não tenho qualquer dúvida, que com a perspicácia habitual, a culpa cairia por inteiro em cima do PSD; a culpa da entrada em Portugal do FMI seria do PSD; a ausência de crédito e a eventual bancarrota seria do PSD; a falência de algum banco seria do PSD. Em resumo: Por mais injusto que fosse, o PSD, porque se trata do "Partido alternativa", seria o bombo da festa. Levaria com todas as culpas, e mesmo conseguindo ganhar eleições, ainda teria que tomar medidas mais duras, que aquelas que actualmente critica. Maior perversidade é difícil!...
Vendo a realidade com "olhos de ver", esta é, sem "pôr nem tirar", a verdade nua e crua...
Quanto a José Sócrates, esse, seria o único beneficiário da crise política. Rapidamente passaria de vilão a vítima!... Vítima da crise política, da subida dos juros, da falta de crédito, da entrada do FMI e do aumento do desemprego. José Sócrates, depressa se transformaria em vítima da irresponsabilidade da oposição. Significa tudo isto, que chumbar o Orçamento neste momento, é fazer um frete ao Governo. Não sei se estarei certo, mas cá para mim e no seu íntimo, chumbar o Orçamento, seria mesmo, o que o Engº Sócrates desejava...
É que com a viabilização deste Orçamento, José Sócrates nunca mais será o mesmo!... Com a viabilização deste Orçamento, o Partido Socialista não tardará a regressar à “casa do 20%” do eleitorado onde já esteve, por questões muito idênticas às que hoje se vivem. Para tentar fugir ao buraco em que se meteu, para tentar aligeirar responsabilidades, para tentar sair impune da encruzilhada a que nos vai conduzir, será preciso “ir a Coimbra” para perceber estas evidências?!...
Evitar o que é trágico para as pessoas e impedir o benefício do infractor exigem inteligência e responsabilidade…