Desde que o homem vive em sociedade, surgiram as primeiras regras de convivência social. Isto é: os actos humanos contrários às regras pré-estabelecidas, começaram a ser escrutinados, em muitos casos considerados crimes, e por consequência, objecto de punições. Era preciso reprimir a prática desses actos, para que todos vivessem em paz.
Pessoalmente – digo-o, jamais defenderei
a negação da Justiça. O que defenderei sempre, tal qual aprendi e mais tarde
ensinei ao longo de 40 anos, é que todo
o homem tenha um julgamento justo e sem sombras de revanchismos, para que a
Justiça triunfe sempre, sem necessidade de ser exposto no pelourinho da nossa
vergonha.
Hoje em dia, nas sociedades mais evoluídas, a punição daqueles que
violam as ditas regras, tende a ser imposta o mais rápido e secretamente
possível, por forma a causar-lhes os menores danos possíveis, além obviamente.
dos que lhe são imputados por essa “coisa” a que se chama, de Lei.
Sabe porém, quem se interessa por esta temática e a estuda, que ao
longo da História nem sempre foi assim!... A punição era sempre aplicada na
praça pública, e quanto mais brutal, demorada e cruel fosse, mais o povo
acorria ao “espectáculo”, como ainda hoje acontece em alguns países
ditos subdesenvolvidos.
Sem ir mais longe, na antiga Roma, a “sorte” do condenado era
sempre um espectáculo público!... Era levado para o recinto do circo e obrigado
a lutar contra feras – touros, leões ou tigres, até à morte. Era a chamada
condenação por bestiária. Outro exemplo, foi a condenação à morte por
cruxificação!... Ocorreu na época de Jesus Cristo, e os contornos, chegaram-nos
através da Biblia. Era a condenação mais popular!... Depois do condenado ser espancado e açoitado
durante vários dias, era obrigado a carregar a cruz de madeira pelas várias
ruas da cidade, até chegar ao local da morte, onde era amarrado com cordas ou
fixado com pregos na cruz, aí ficando exposto até definhar e morrer.
Isto para dizer, que depois de mais de dois mil anos de que há memória
escrita de julgamentos e de condenações de criminosos, a humanidade ainda não
aprendeu a respeitar o cidadão detido para prestar contas à Justiça e se
defender das acusações que lhe são feitas!... Mas além de não o respeitar, em
variados casos nos dias que correm, ainda se dá ao luxo de promover o
espectáculo do suplício e do açoite psicológico muito antes da condenação
definitiva, transferindo dos locais próprios onde se afere a dita Justiça, para
o “recinto do circo”, ou das “ruas da cidade”, hoje designados por pântano das redes
sociais, onde proliferam juízes e procuradores de taberna, acolitados por
perdedores de fazer inveja a Bolsonaro, não olhando a meios para atingir os
fins. Comportamentos, que ao contrário de Roma de há dois mil anos, envergonham
toda uma sociedade que se diz civilizada, erguendo os seus novos modelos de
pelourinho, para aí diariamente serem expostos e enxovalhados os visados, sem
direito a qualquer defesa.
Uma vergonha!... E uma vergonha maior ainda, para gente com
responsabilidades públicas, que esquece que um cidadão - seja o seu estatuto
social de “pilha-galinhas ou pilha-bancos” - é inocente até ser condenado
com trânsito em julgado, e que a presunção de inocência não significa que se
presuma culpado, só pelo facto de ter sido detido pela Justiça. Mais: gente,
que esquece de forma deliberada, que no direito criminal não existe a figura
jurídica de presunção de culpa, e por via disso, se dá ainda ao luxo,
falando em nome de todos, de agradecer penhoradamente a quem contribuíu para os
factos ainda que não definitivos. E
sendo assim, desde logo uma pergunta: será esta a tal gente auto-proclamada de
confiança?!... Não, não é. A Justiça não pode ser feita conforme a convicção
política, a crença religiosa ou os sentimentos de cada um de nós. A verdadeira
Justiça, é aquela em que nenhum cidadão
seja “declarado inocente para salvação da classe política”, nem seja “declarado
condenado para salvação da classe jurídica”. Pessoalmente – afirmo-o, jamais
defenderei a negação da Justiça. O que defenderei sempre, tal qual aprendi e
mais tarde ensinei ao longo de 40 anos,
é que todo o homem tenha um julgamento justo e sem sombras de
revanchismos, para que a Justiça triunfe sempre, sem necessidade de ser exposto
no pelourinho da nossa vergonha.