Odeiam-se, mas após quatro anos de “vida em comum”, a
conveniência falou mais alto e resolveram “dar o nó”!... Está em causa um
“dote”, do qual nenhum deles pretende abdicar.
A gente até sabe, que se pudessem bem que chegavam a roupa ao
pêlo um ao outro, que se insultavam e que com toda a certeza, cada qual seguia
o seu destino, provavelmente acompanhado de um chorrilho de impropérios e
revelações de chocar os seus mais fervorosos adeptos.
Mas o que interessa aqui e agora, é posar para a fotografia como
se nada se passasse, “cortar o bolo e celebrar as núpcias” e encenar no mínimo
até ao “lavar da roupa suja” que se aproxima. É que caso contrário, eles sabem
muito bem o que os espera!... Rui Rio, José Ribeiro e Castro e até agora a
discreta Cristas, estão todos muito atentos.
Resulta de tudo isto e dos condimentos que envolvem o enlace,
que são agora claras para todos, as razões pelas quais Portas suporta todas as
humilhações que Passos Coelho se diverte a fazê-lo passar, todas as
desconsiderações a que sujeita o CDS e todo o desprezo que tem pelos ministros
centristas. Mas Portas não quer saber se Passos Coelho lhe chama indirectamente
irresponsável, como voltou a fazê-lo quando do lançamento da sua última
biografia recentemente divulgada, ou na entrevista dada ao SOL, e muito menos
se se importa de servir de espécie de prova, para que o Primeiro-Ministro seja
visto como alguém que teve de lutar contra tudo e contra todos, até contra o
seu parceiro de coligação – e claro está, Passos bem sabe que nada mais agradável
para os dirigentes e militantes do PSD, que umas “malhadelas” bem fortes no
líder do CDS.
E esta, é que é verdadeiramente a “prova real”, de que Portas já
está ciente de que a sobrevivência política do CDS no curto prazo, depende de
ir coligado com o PSD às próximas eleições, senão vejamos: alguém consegue
discernir uma réstia das bandeiras do CDS neste Governo?!... O auto-intitulado
Partido do contribuinte, foi ou não foi o co-autor da maior subida de impostos
da história da nossa democracia?!... E o auto-intitulado Partido dos
reformados, estava ou não estava no Ministério da Segurança Social durante os
cortes de pensões e reformas?!...
Perante estes factos que são indesmentíveis, que motivação terá
um apoiante deste Governo e das políticas prosseguidas para votar no CDS?!...
Há algum traço democrata-cristão que tenha resistido às políticas radicais do
Governo?!... Absolutamente nenhum!... A
grande verdade que ninguém poderá contestar, é que o CDS se dissolveu no
bonapartismo de Portas e no radicalismo neo-liberal deste estranho PSD.
E aí justiça lhe seja feita!... Paulo Portas não ignora que para
reerguer o seu Partido – seja com ele ou com outro o líder – e dar-lhe uma
matriz ideológica diferente da que foi a deste Governo, tem de ter uma presença
com algum significado no Parlamento. Precisa de readquirir iniciativa política,
de mostrar que tem um caminho próprio de
se reinventar. E como também tem a “ratice” necessária, sabe muito bem
que é incomparavelmente mais difícil fazê–lo com três ou quatro deputados,
concorrendo o CDS sózinho, do que com 14 ou 15 em coligação.
Daí sujeitar-se ao “vexame” para depois seguir o seu próprio
caminho. A Portas, pouco lhe importa se os deputados do CDS forem eleitos por
cidadãos que queriam votar no PSD!... O que para ele conta isso sim, é que o
acordo entre os dois Partidos, faz com que o CDS venha a ter um número de
deputados que não teria se concorresse isoladamente, ou seja, quase todos os
deputados que o CDS vai ter, seriam naturalmente homens e mulheres do PSD. Não
deixa de ser aliás paradoxal, que será com deputados emprestados pelo PSD, que
o CDS tentará reocupar o espaço político que perdeu neste Governo.
E depois, há também o reverso da medalha!... Portas sabe também
que a vingança é um prato que se serve frio, e o líder dos centristas não
deixará de o servir, ganhe a coligação as eleições ou não. Só quem o não
conhece, não terá isto em linha de conta.