Andam por aí políticos, que não se cansam de dizer, que é preciso falar verdade aos portugueses. Mas que verdade?!... A verdade deles?!... A verdade do politicamente correcto?!... Então os portugueses são tão ignorantes, que não conhecem a verdade?!... Não sabem os portugueses, que o saque ao país – ou do país se assim o entenderem – se iniciou em 1985 e atingiu agora o seu auge?!...Não sabem os portugueses, que tal saque, teve e tem, como principais protagonistas, governantes, politicos, bancos, banqueiros e toda a casta de agiotas e corruptos, que o levaram à miséria?!... Então os portugueses não sabem que foi esta gente quem abriu falência dos sectores primário e secundário a troco da subsidio-dependência?!... Não sabem os portugueses, da publicidade da banca e dos banqueiros, oferecendo dinheiro a “rodos” a qualquer “bicho careta”, que agora tem de ser pago pelos mesmos de sempre, face à caloteirice e consequente descapitalização dessa mesma banca?!... Não sabem os portugueses, que o crédito mal-parado, que atinge milhares de milhões de euros é fruto dessa publicidade sem limites?!... E não sabem também os portugueses, dos grandes focos de corrupção que se instalaram no país, das parcerias público-privados, da multiplicação dos institutos públicos e das fundações, dos escândalos do BPN e do BPP e dos crimes de colarinho branco que abundam por esse país fora e para os quais a justiça nunca encontrou respostas?!... Então querem melhor verdade que esta?!... Querem fazer dos portugueses estúpidos ou ignorantes e branquear o que não é branqueável?!...
Não nos iludamos!... Quando oiço dizer, que dos oitenta mil milhões que aí vêm do FMI, dezoito mil milhões vão direitinhos para recapitalização da banca , está tudo dito. Os pobres vão ficar mais pobres, e os ricos cada vez mais ricos.
Não se pense, que isto vai ser como em 1983, quando dispúnhamos da nossa soberania, quando podíamos emitir moeda, proceder à sua desvalorização e com mais ajuste ou menos ajuste dar a volta ao texto...
Hoje a situação é muito diferente!...Vejamos só isto: Como forma de combater as influências da Europa de Leste, o capitalismo produtivo dominante até à primeira metade dos anos 80 do século passado, possuía uma determinada ética, tinha os seus valores, baseados na equidade, na justiça ou boa fé das relações económicas. Possuía um carácter social, promovia a educação pública como factor de desenvolvimento, a saúde e a segurança social como factores de coesão social e direitos do homem e do cidadão. Detinha preocupações sociais, não apenas para os menos favorecidos, mas para todos, porque encarava a sociedade como um todo social.
Hoje, que já não existe “o tal perigo” dessas mesmas influências, caíu a ética das relações económicas, caíram os direitos dos cidadãos para nascerem os direitos dos consumidores. O homem passou a ser considerado não como ser social, mas tão só, como elemento de mercado. Esvazia-se o conteúdo social da cidadania e substitui-se por um conteúdo de gestão técnica do mercado, dominado pelas grandes potências.
Atentemos no que se passa actualmente: Segundo o Banco Internacional de Compensações (em inglês BIS, Bank for International Settlements), a banca internacional possui créditos de Portugal, Grécia e Irlanda num valor total de 990 mil milhões de euros até ao terceiro trimestre de 2010, o equivalente a mais de 5,8 vezes o PIB português. Desses 990 mil milhões, 194 dizem respeito à Grécia, 571 à Irlanda e 225 a Portugal.
Pelo valor dos créditos, 990 mil milhões de euros em apenas três países, podemos imaginar a força colossal que possui hoje o capital financeiro que livremente, sem barreiras ou regulação alguma, circula em todo o mundo à velocidade da luz, especulando e procurando em toda a parte e a todo o instante as ocasiões mais favoráveis à sua insaciável ganância.
Falando por nós, que resposta poderá dar Portugal, na presença de uma situação destas?!... Zero!... A razão é simples: Ausência de soberania. O que traduzido, quer dizer, que o capital financeiro não responde e está-se completamente a “borrifar” para quaisquer limitações impostas pelas políticas nacionais, antes e ao contrário, são as políticas nacionais que perderam autonomia e a capacidade de intervir face a tal conjuntura. Foi isto, que levou a que a política da Europa se uniformizasse e os partidos europeus da área do poder, se vissem obrigados a seguir o que Bruxelas e a senhora Merkel ditavam. Hoje, a ausência de soberania é tão acentuada, que para os “donos da Europa”, pouco lhes interessa que os governos nacionais tenham uma matriz de esquerda ou de direita. O que lhes interessa isso sim, é uma política europeia de sentido único – o neoliberalismo, pouco importando que a sua aplicação venha de socialistas, liberais, conservadores de direita ou de quem quer que seja.
Ainda que os amantes do poder o neguem, esta é a cartilha que nos espera depois das eleições de Junho próximo!... Uma cartilha que vai ser bem dura de roer e que irá ser geradora de mais recessão, mais desemprego, mais fome e mais miséria. Não há volta a dar: Ou há coragem e se muda de politicas, ou à semelhança da Grécia e da Irlanda, ficaremos ainda piores a muito curto prazo. Não tenhamos dúvidas: As próximas vitimas, estão na forja e seguidamente será o colapso.
Para evitar males maiores, está na hora isso sim, de os portugueses mostrarem um cartão vermelho a todos quantos contribuíram para a ruína do país e pensar seriamente na saída do euro. Não é fácil, mas não há outro remédio. Naturalmente com a mesma paridade com que entrou -1 euro por 200,482 escudos.
Desvalorizar o escudo - o que traduz uma efectiva redução da dívida pública -, integrar o Instituto de Gestão do Crédito Público no Banco de Portugal, entidade emissora de moeda e dívida, reformar a administração pública, combater a corrupção, as politicas de favorecimento, as parcerias, os “apoios” a fundações e institutos públicos, extinguir empresas municipais sem qualquer cabimento, promover a reforma do actual quadro administrativo, promover a regionalização e proceder ao desenvolvimento dos vários sectores da economia, representará o inicio de uma nova “era”. Não à volta a dar…