24 novembro, 2016

A DERROTA DOS FANÁTICOS E O SILÊNCIO DOS INOCENTES!...

Durante quatro anos e meio, fomos governados por um grupo de fanáticos - muitos dos quais formados nas madrassas do neo-liberalismo - que nos empobreceu, que nos roubou, que andou a vender o país a pataco, que poupou bancos e banqueiros, que convidou a geração mais bem preparada de sempre a sair da sua “zona de conforto”, que apelidou os “velhos de peste grisalha”, e que não contente com tudo isso, ainda se deu ao luxo,com a maior da desfaçatez e a maior carga fiscal de sempre, de contribuír decisivamente para a falência de milhares e milhares de empresas e consequentemente para a perda de mais de meio milhão de postos de trabalho.
Diziam esses "senhores" e as "senhoras" que os acompanhavam - à boa maneira salazarista - que a alternativa era o empobrecimento, que o povo vivia acima das suas possibilidades, que só a austeridade seria purificadora e permitiria a recuperação económica do país, factos que os levou a colocar em marcha um plano de reformas neo-liberais, que nunca tiveram outro significado, senão os das contra-reformas sociais.
Sacudidos em tempo oportuno e em boa hora do “poleiro”, após terem vencido as eleições e formado um Governo minoritário que durou apenas 26 dias e quando já se preparavam para "sacar" mais 600 milhões aos reformados, durante o tempo que se lhe seguiu, com o apoio de uma comunicação social vendida e trapaceira, mais não fizeram que apostar no insucesso do país, na bancarrota, na desgraça, no horror e no descortinar de um “diabo” que teima em não lhes fazer a vontade.
Hoje na Santana à Lapa e lá para os lados do Largo do Caldas, ao lerem a notícia do crescimento da economia e ficarem a saber que segundo dados do Eurostat, Portugal cresceu o triplo da média da zona euro, que foi o país cujo PIB mais cresceu na Europa, que Bruxelas aprovou o Orçamento sem reticências, e da suspensão do congelamento dos fundos estruturais, devem ter rangido os dentes de raiva.
Como terá dito um deputado do psd, a noticia “caíu como um meteorito”. Agora só falta mesmo dizer a esta cambada de “ruminantes”, que tudo se ficou a dever à acção do Governo dos Pafiosos. 

UMA ELEIÇÃO QUE ESTÁ A ABALAR O MUNDO!...

A América votou, e a vitória foi para o republicano Donald Trump, quando todas as sondagens e previsões indiciavam que Hillary Clinton seria eleita como a primeira mulher a atingir a presidência dos Estados Unidos. O populismo que tem crescido na Europa, chegou também e em força aos Estados Unidos, e a maioria do eleitorado americano deixou-se convencer, o que significa, que a maior potência mundial também atravessa dificuldades, e que por lá, tal como por cá, o povo aspira a melhores condições de vida, e está farto das tutelas habituais, e do domínio das garras do poder financeiro.
Mas será este o caminho?!... Acredita-se que não, e que a ilusão supera em grande escala a realidade. Porém, o que está à vista escusa candeia, e o que vale a pena meditar no imediato isso sim, é como foi possível, que a uma personalidade com a dimensão de Barak Obama, suceda um tipo do calibre de Donald Trump. Chegados então aqui, a justificação é óbvia: por um lado, a campanha eleitoral de Trump, ao conseguir estabelecer uma relação directa com o eleitorado e sem a mediação do seu próprio partido, usando uma linguagem populista e a despertar esperanças nos mais marginalizados da sociedade americana; pelo outro, a derrota da politica tal qual ela deve concebida e exercida. À semelhança do que se passa por toda esta Europa em desagregação, também por lá o sistema está tão pôdre, tão descontrolado e tão incapaz de se transformar, que a vontade do povo americano em mudá-lo, musculou o braço de quem prometeu esmurrá-lo. O que não foi a bem, há-de ir a mal – pensaram os americanos. 
Agora, não há que chover no molhado!... Daqui para a frente, nada será como dantes. As razões sócio-políticas da vitória eleitoral de Trump são diversas, complexas e difíceis de explicar. Quem acredita na democracia, terá pois que reconhecer, que há razões profundas para este “voto de protesto” dos eleitores americanos, e que também as poderá haver, para outros “votos de protesto”, que no futuro próximo, possam ocorrer noutros pontos do globo. Há por isso que trilhar novos caminhos que invertam esta situação!... Nos Estados Unidos, aquilo que as eleições nos disseram, é que a barreira da democracia, sendo o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros – como diria Churchil - foi derrubada. O que não sabemos, é qual a nova barreira que agora se procurará erguer sobre ela, um pouco por todo o lado. Uma coisa é certa: a intolerância, a saturação, a adesão convicta ao discurso xenófobo, chauvinista, machista, racista e bélico de Donald Trump, marcaram pontos e falaram mais alto. Depois, incapazes de suportar uma mulher, após 8 anos de um negro, os americanos “entraram em rota de colisão com o sistema”, e defenderam o pior que o populismo lhes disse ser o melhor para eles. Esqueceram Lincoln, e entregaram-se a um aldrabão reles e perigoso, acreditando votar contra o sistema político instalado, rejeitando-o e criticando-o através do voto, pelo sentimento generalizado de desilusão, desencanto, frustração, contra a falta de esperança, contra a corrupção e o poder financeiro, contra os interesses dos grandes grupos e famílias.  
Nesta altura, qualquer comentário sobre o futuro dos Estados Unidos e da comunidade internacional com Donald Trump ao leme dos destinos da maior potência geo-política e económica do mundo, é fazer futurologia ou transpôr em palavras um evidente sentimento de desilusão, decepção e receio. Pelo que foi a deplorável campanha eleitoral do agora eleito Presidente, juntando as previsíveis pressões dos evangélicos e de grupos extremistas, seria fácil prever problemas sérios com a inclusão social, com a imigração, com a equidade, com os direitos humanos, com o racismo e a xenofobia, com a economia e as relações internacionais, mas tudo não passaria de especulação. Entramos por isso, numa fase com consequências globais imprevisíveis. Putin, Le Pen, Erdogan e Viktor Orban, à semelhança de tantos outros populistas um pouco por todo o mundo, já rejubilam e agitam bandeiras e enquanto isso, a Europa e o mundo estremecem. Valeu sem sombra de dúvida, a coragem da senhora Merkel – a única a falar grosso. A incerteza está assim instalada, porque a incógnita e a apreensão no que se viu e ouviu no passado recente, são incontroláveis sobre o futuro do globo, e consequentemente sobre o futuro de todos nós.

(Crónica publicada no Jornal Noticias de Barroso - 15 Novembro)

11 novembro, 2016

- "O PREÇO DE UM BARRETE CARDINALICIO"

Raramente um barrete cardinalício hereditário foi tão caro, como o que hoje cobre D. Manuel José Macário do Nascimento, modestamente tratado com o nome canónico, por Sua Eminência D. Manuel Clemente, ou simplesmente, por D. Manuel Clemente em tudo quanto é opinião publicada.
Do ouro chegado do Brasil - várias toneladas anuais -, acabaram generosas quantidades na Cúria Romana, especialmente por intermédio do Papa Clemente XI. Foi “por graça” desse papa e não “de graça”, que D. João V ganhou o título de “Magnânimo”, apesar de ter feito do convento de Odivelas o seu bordel privativo, e das freiras mães de alguns dos seus filhos. A graciosa madre Paula, a sua predilecta, estava sempre pronta a interromper as orações para receber, no tálamo Sua Majestade, e trocar o êxtase místico pelo real.
Vem isto a propósito das comemorações dos 300 anos, em que Lisboa passou a ter a honra de ser uma das raras cidades onde o bispo assume o direito ao título de Patriarca e ao barrete cardinalício no primeiro consistório que houver, e de uma entrevista dada ao Diário de Noticias por Sua Eminência D. Manuel Clemente, através da qual e despudoradamente elogia o rei D. João V como “campeão da fé”, classificando-o mesmo como um quase rei-sacerdote o que se percebe, não pelo facto de ser um homem impoluto, mas talvez por não admitir outra religião que não fosse a católica e de ter sido um dos principais responsáveis pela concessão vitalícia do dito barrete cardinalício que ostenta.
Só que D. Manuel Clemente, esqueceu provavelmente que o Rei que coloca nos píncaros, foi apenas conhecido pelas suas relações extraconjugais. E esqueceu que de todas as amantes, a mais famosa terá sido a madre Paula Silva, uma jovem morena, freira do Convento de Odivelas, para quem D. João V mandou construir aposentos sumptuosos, com tectos em talha dourada, onde era servida por nove criadas, tudo pago à conta do erário público da época.
Ao longo dos 10 anos que durou esta relação, o Rei deu-lhe um rendimento anual de 1708$000 réis. Em 1720, quando a madre Paula tinha 19 anos, deu à luz Gaspar, que era já o quarto filho bastardo do Monarca.
O primeiro tinha nascido já após o casamento com D. Maria Ana de Áustria e era filho da sua primeira namorada, D. Filipa de Noronha, irmã do marquês de Cascais, seduzida quando D. João tinha apenas 15 anos. Como não elogiar assim D. João V!... Faltou-lhe apenas dizer, que foi no seu reinado que foi torturado pela Inquisição António José da Silva, o Judeu, um dos maiores dramaturgos portugueses de todos os tempos, garrotado antes de ser queimado num Auto-de-Fé, em Lisboa, em Outubro de 1739, com 34 anos de idade!Não haja dúvida que o barrete cardinalício fez perder a cabeça ao patriarca Clemente.