Por estes dias, publicou o JN uma noticia, através da qual o antigo Bispo de Setúbal – personalidade que venho admirando desde a sua passagem por aquelas bandas – D. Manuel Martins, dava a conhecer a sua revolta, com as situações de miséria absoluta existentes em Portugal, consequência segundo as suas palavras “de uma economia diabólica, desgraçada e hiper-super liberal”.
D. Manuel Martins, tem toda a razão e as suas palavras deveriam merecer profunda reflexão. E deveriam merecer profunda reflexão, porque com a execução orçamental que se aproxima, o “garrote” vai apertar ainda mais. Infelizmente e querendo tapar o sol com uma peneira, a classe governante e o grande capital, fazem tudo para nos convencer, que não é bem assim, que agora é que vai ser, que estamos em vias de sair da crise, que é preciso estabilidade e acima de tudo que temos que ser “bem comportados” não vamos nós irritar os “mercados”, essa entidade estranha e distante (presume-se que externa mas sem paradeiro conhecido) que como um Big Brother, a toda a hora, nos vigia. Exigem-nos que apresentemos a mais rasgada simpatia enquanto nos aumentam os impostos, nos retiram condições sociais de décadas, e nos atiram para o desemprego. Tudo para não ferir a “susceptibilidade” dos ditos “mercados”.
Mas quem são afinal, os “mercados”?!... Os “mercados”, não são outra coisa senão, o grande capitalismo financeiro especulativo que, aproveitando o desenvolvimento da crise - crise da qual é o único responsável -, tenta rapidamente impor as suas “reformas”, reformas essas, que os grandes grupos empresariais e financeiros desejaram que se realizassem durante muitos anos e nunca conseguiram, mas que na actualidade marcam já a agenda politica.
A crise serve como desculpa para tudo!.. Para reduzir ao mínimo o estado social, para desregular o mercado de trabalho, para enfraquecer os sindicatos e assim reduzir salários e as condições sociais da grande maioria da população, e até como último suspiro, para manter de pé um modelo económico, que já não tem pernas para andar e tenta a todo o custo arranjar uma tábua de salvação.
Não tenhamos dúvidas: O grande objectivo do capital financeiro especulativo é aumentar os seus rendimentos à custa dos trabalhadores e das classes médias da população, acentuando mais ainda as desigualdades sociais.Os comissários da UE associados ao FMI, são hoje os comités políticos e comportam-se como polícias desta ofensiva anti-social, que representa objectivamente um retrocesso histórico social, visando unicamente o aumento da ganância a qualquer preço do capital financeiro especulativo internacional.
Posto isto, bem pode D. Manuel Martins continuar a pregar!... Enquanto se procurar desenvolver um país, à custa do sofrimento e privações do seu povo, quando ao mesmo tempo e em simultâneo, se amplia a riqueza dos mais ricos, não vamos lá….
Como diz o Bispo, estamos perante um modelo económico diabólico, desgraçado, hiper-liberal e que lá do alto da pirâmide, não se coíbe de através de meia dúzia de magnates, impor as suas regras, a que já nem poder instituído consegue fazer face…