13 dezembro, 2010

A CRISE, OS MERCADOS, O PRESENTE E O FUTURO...

Por estes dias, publicou o JN uma noticia, através da qual o antigo Bispo de Setúbal – personalidade que venho admirando desde a sua passagem por aquelas bandas – D. Manuel Martins, dava a conhecer a sua revolta, com as situações de miséria absoluta existentes em Portugal, consequência segundo as suas palavras “de uma economia diabólica, desgraçada e hiper-super liberal”.
D. Manuel Martins, tem toda a razão e as suas palavras deveriam merecer profunda reflexão. E deveriam merecer profunda reflexão, porque com a execução orçamental que se aproxima, o “garrote” vai apertar ainda mais. Infelizmente e querendo tapar o sol com uma peneira, a classe governante e o grande capital, fazem tudo para nos convencer, que não é bem assim, que agora é que vai ser, que estamos em vias de sair da crise, que é preciso estabilidade e acima de tudo que temos que ser “bem comportados” não vamos nós irritar os “mercados”, essa entidade estranha e distante (presume-se que externa mas sem paradeiro conhecido) que como um Big Brother, a toda a hora, nos vigia. Exigem-nos que apresentemos a mais rasgada simpatia enquanto nos aumentam os impostos, nos retiram condições sociais de décadas, e nos atiram para o desemprego. Tudo para não ferir a “susceptibilidade” dos ditos “mercados”.

Mas quem são afinal, os “mercados”?!... Os “mercados”, não são outra coisa senão, o grande capitalismo financeiro especulativo que, aproveitando o desenvolvimento da crise - crise da qual é o único responsável -, tenta rapidamente impor as suas “reformas”, reformas essas, que os grandes grupos empresariais e financeiros desejaram que se realizassem durante muitos anos e nunca conseguiram, mas que na actualidade marcam já a agenda politica.
A crise serve como desculpa para tudo!.. Para reduzir ao mínimo o estado social, para desregular o mercado de trabalho, para enfraquecer os sindicatos e assim reduzir salários e as condições sociais da grande maioria da população, e até como último suspiro, para manter de pé um modelo económico, que já não tem pernas para andar e tenta a todo o custo arranjar uma tábua de salvação.

Não tenhamos dúvidas: O grande objectivo do capital financeiro especulativo é aumentar os seus rendimentos à custa dos trabalhadores e das classes médias da população, acentuando mais ainda as desigualdades sociais.Os comissários da UE associados ao FMI, são hoje os comités políticos e comportam-se como polícias desta ofensiva anti-social, que representa objectivamente um retrocesso histórico social, visando unicamente o aumento da ganância a qualquer preço do capital financeiro especulativo internacional.

Posto isto, bem pode D. Manuel Martins continuar a pregar!... Enquanto se procurar desenvolver um país, à custa do sofrimento e privações do seu povo, quando ao mesmo tempo e em simultâneo, se amplia a riqueza dos mais ricos, não vamos lá….
Como diz o Bispo, estamos perante um modelo económico diabólico, desgraçado, hiper-liberal e que lá do alto da pirâmide, não se coíbe de através de meia dúzia de magnates, impor as suas regras, a que já nem poder instituído consegue fazer face…

06 dezembro, 2010

QUALIDADE DA DEMOCRACIA, TRATADO DE LISBOA E POVO IGNATO!...

Uma afirmação e um facto. A afirmação: O candidato a Presidente da República, Anibal Cavaco Silva, disse nos últimos dias, que Portugal tem um problema de qualidade da sua democracia. O facto: A passagem, na última semana, do primeiro aniversário, sobre a entrada em vigor do Tratado de Lisboa.
A afirmação é, em si mesma, um facto que pode bem ser demonstrado pelo Tratado, pela forma como foi aprovado e, nalguns casos, ratificado.
O Tratado de Lisboa, é, na minha opinião, o expoente maior da falta de qualidade da democracia em Portugal, como em geral na Europa. É bom relembrar que em Portugal, há seis anos atrás, os responsáveis pelos principais partidos políticos portugueses juravam a pés juntos que sem referendo não haveria novo tratado europeu.
Rendidos à lógica aristocrática de uma Europa cujas instituições devem muito às regras e aos princípios da democracia, prevaleceu a ideia, de que o Povo é ignato, e nunca alcançaria, por mais que lhe explicassem numa campanha pelo “sim”, as vantagens de uma Europa organizada como propunham as elites dirigentes da UE. E tudo se fechou em Lisboa, com grande pompa e foguetório com um sonoro “porreiro pá!” entre os agora aliadosJosé Sócrates, nosso Primeiro-Ministro e o Presidente da UE Durão Barroso.
Passou um ano desde que as novas regras entraram em vigor. Um ano só. Os resultados estão à vista. O Tratado de Lisboa não resistiu à prova da crise, são cada vez mais os que criticam a mediocridade das lideranças que conduziram a esta solução institucional manifestamente prisioneira de um poder burocrático que nada resolve e tudo complica, movendo-se no meio das dificuldades como a agilidade de um gigantesco elefante. São cada vez mais audíveis as vozes que clamam por uma revisão do Tratado. Um só ano depois da euforia.
Postas as coisas desta forma, chega-se à conclusão, que quer o candidato Cavaco Silva, quer uma enorme franja de "Zés" deste país, têm razão. Em boa verdade, temos um problema de qualidade da democracia que começa exactamente na desconfiança dos cidadãos, nas instituições que os governam.
Não acredito que venha a interessar a próxima campanha eleitoral, mas valeria a pena ponderar, a este propósito, na notícia publicada na última edição do "Expresso" que nos revela que só 3% dos mais instruídos em Portugal conhecem o Tratado de Lisboa. Aquilo que não era um problema antes da aprovação do Tratado, é agora preocupação dos poderes púbicos. Suprema hipocrisia...
Suprema hipócrisia, como inacreditável é a solução encontrada: um road show para explicar ao mesmo povo ignato, a quem foi subtraído o direito a debater o futuro da Europa, as virtudes de um Tratado moribundo.