Volvidas que são quase quatro décadas depois do 25 de Abril de 1974, seria suposto pensar, que o nosso país e os portugueses em geral, não voltariam a passar por uma “tragédia” próxima daquela porque passaram durante o período negro que antecedeu a revolução.
Nesses anos de ditadura, para além de se verem confrontados com uma guerra colonial sem nexo, para além de se verem confrontados com o “ceifar” de vidas humanas, eram também eles –os cidadãos portugueses, as primeiras vitimas do totalitarismo de Estado; da ausência de politicas que dessem resposta ao sub-desenvolvimento em que se encontrava o país; do ostrascismo internacional e de um governo que capitalizava todos os seus recursos para suportar os custos da guerra.
A pobreza, constituíu-se então, como um dos principais factores, que obrigou tanta e tanta gente a abandonar as suas terras, na procura de melhores condições de vida e de trabalho.
Os tempos mudaram!... A guerra colonial e a repressão, fazem parte de um passado já distante. Porém, outras “guerras” afligem hoje o quotidiano dos portugueses. As “guerras do capital financeiro", a “guerra da soberania”, a “guerra da corrupção”, a “guerra do clientelismo”, “ a guerra da saúde” , “a guerra da educação”, a “guerra do desemprego” e tantas outras “guerras”, que somadas nos conduzem de novo, à dependência e ao servilismo externo, à recessão, e também à ausência de respostas para o normal desenvolvimento económico do país, principal factor para um eficaz combate à crise.
As dificuldades -as tremendas dificuldades, bateram de novo à porta dos portugueses, e a fome e a miséria regressaram. Fome e miséria, que atingem já as populações mais vulneráveis e sem outros recursos de subsistência, que não sejam as suas magras pensões de reforma e de desemprego, as quais atingem já neste caso os 700.000 cidadãos segundo dados fornecidos hoje pelo INE, e mais 300.000 fora dos números oficiais.
Com o próximo Orçamento, instalou-se definitivamente o garrote. Está tudo a ser feita à medida da Troika e de acordo com as orientações da toda poderosa Merkel e do senhor Sarkozy quando aquela deixa. As consequências, traduzir-se-ão no aumento do desemprego, na falência de muitas pequenas e médias empresas e na maior recessão de toda a UE, no ano de 2012.
À semelhança das teorias actuais, já Salazar dizia, que «O pior é pensar-se que se pode realizar qualquer política social com qualquer política económica ». Ora ao sermos hoje confrontados com as palavras do senhor Primeiro-Ministro, “de que só poderemos sair da crise empobrecendo”, e de outros membros do Governo que convidam os jovens à emigração e os trabalhadores a darem-se por satisfeitos, com o miserável salário de 485 €, está tudo dito. De certeza que chegados a 2013, teremos um défice de 3%, mas o povo a “morrer de fome”...
Ora isto, é de todo em todo inaceitável!... O dinheiro que chega do exterior não vem de “borla”, e chegados aqui, seria esse o momento de Pedro Passos Coelho cumprir o que prometeu aos portugueses.
Como não o faz, é evidente que estes têm de reagir. Passos Coelho, apresentou-se ao país, evidenciando a sua modéstia e a sua incorruptibilidade. Como estava na moda, apresentou-se como alguém que nunca se serviu da politica para enriquecer. Evidenciou o seu PSD, como o “novo PSD”, como sendo aquele que não habitava no eixo Lisboa-Cascais, nem possuía nomes de família da Quinta da Marinha, reino dos milionários. Reivindicou a sua origem a um mundo suburbano, um mundo onde viviam os trabalhadores. Não se cansou até de fazer a distinção entre o automóvel que dizia usar e as potentes “bombas” dos seus concorrentes directos.
Ganhas as eleições, apresentou-se como chefe de um Governo de gente despretensiosa, de gente que não aprecia gravatas, de gente sem o título de doutores antes do nome, de gente que não viajava em lugares de executiva e de gente sem frotas de carros de luxo.
Apresentou um governo desprendido do poder e das suas regalias e um governo perto do povo. Até parecia que estávamos num país novo, numa nova galáxia. Uma galáxia, onde até o ministro da economia, tentando obedecer aos cânones, brotava simplicidade, uma simplicidade anedótica quando se virava para o povo e dizia “que o seu nome é Álvaro”.
Perante estes factos, quem seria capaz de adivinhar um governo de centro-direita, raivosamente neo-liberal, que não ouve ninguém?!... Um Governo que tem contra si, o tal “velho PSD”, o senhor Presidente da República, a Banca, os Militares, as Forças de Segurança, os Médicos, os Enfermeiros, os Juízes, os Advogados, os Professores, os Bombeiros, os Pequenos e Médios Empresários, os Reformados e até um Paulo Portas ausente, ao não assumir este orçamento?!...
Quando hoje se olha ao espelho, quando recorda todos estes malabarismos e vê as dificuldades porque passa o povo, Passos Coelho deve corar de vergonha ao ver ali retratada a sua triste figura.
Aquele que um dia acusou Sócrates de “por o país a pão e água”, é afinal o “vilão” que em dois anos e meio de governação confisca sete salários a cada funcionário público e quatro subsídios aos reformados; é aquele que sem pedir licença, se faz convidado em qualquer restaurante, se senta à mesa das famílias e lhe cobra 23% de IVA; é aquele que com a sua politica, empobrece o país ao ritmo de mais de oito milhões de euros diários; é aquele que contribui para uma redução do PIB em 1,7% comparativamente a igual período do ano passado; é aquele, que se prepara para colocar o país perante a maior recessão da U.E. no próximo ano.
QUANDO JÁ NEM O DIA DA REPÚBLICA NOS RESTA, QUE MAIS FALTARÁ ACONTECER, PARA, AGORA SIM, FICARMOS A PÃO E ÁGUA E REGRESSARMOS AO TAL PASSADO QUE NINGUÉM QUER?!......ESTA É EM BOA VERDADE, UMA PÁTRIA UTÓPICA...