18 dezembro, 2011

A CRISE DO EURO E AS FRAGILIDADES NACIONAIS...

A “crise do euro” está a despertar velhas hostilidades entre os diversos países do velho continente. É a França contra a Grã-Bretanha; é a Grã-Bretanha contra a França; a prazo, será a França contra a Alemanha, e escusado será dizer, a Europa do sul contra a Europa do norte (e vice--versa). O grande projecto de paz está a degenerar numa venenosa retórica de “guerra”.

E a questão é esta: Cada hora que passa, cada dia que vivemos, cada mês já vivido, reforça este sabor amargo e de amargura, que nos chega do futuro breve que vamos viver. Já sem olharmos para os recursos do país, já sem grande esperança, para não dizer conformados com a nossa ruína, a Cimeira que "todos" diziam ir resolver os nossos pesadelos – e a nossa fome – terminou, mais uma vez, adensando as probabilidades de caminharmos para o desmembramento da União Europeia, e ainda que adiando mais um pouco, para o confronto quase inevitável com a nossa própria bancarrota. Este é o caminho "traçado por este governo" e o futuro que que nos espera…

Mas o mais impressionante, é que em todas estas cimeiras, encontros de ministros, presidentes, especialistas em finanças, especialistas em fiscalidade e outras criaturas divinas, não se escuta uma única só palavra sobre produção; sobre trabalho para produzirmos; sobre condições de viabilização das economias -particularmente da nossa economia, para que produzamos mais. A quem interessam afinal estas politicas?!... Nesta Europa dos especuladores e dos agiotas, dominada pela crueldade do dinheiro como mito maior da riqueza, não existe uma decisão concertada que olhe os campos e as fábricas, os mares e as florestas para produzir a verdadeira riqueza, que se resume na elementar capacidade de comer duas refeições por dia, SEM PEDIRMOS EMPRESTADA UMA CARCAÇA OU UMA ALFACE, aos “nossos amigos” alemães...
Conscientes da realidade nacional, na semana ora finda, os Bispos, em Nota Pastoral, lembraram ao Governo que as "políticas concretas" devem ter em conta a dignidade humana, classificando-a como "o princípio e também o fim duma sociedade propriamente dita". Parece óbvio!... Mas infelizmente para alguns não o é - cada vez menos o é -, e logo houve, quem no seu papel de cão fiel do Governo, criticasse a Igreja por andar a meter-se onde não é chamada. Mas cuidem-se… Se os Bispos “pecaram”, não foi certamente por excesso… A dignidade já é um bem de luxo taxado acima do salário mínimo - 485 euros-, abaixo do qual se fica isento também de viver com dignidade.

Nas grandes áreas metropolitanas, há muito que as Sopas dos Pobres vão engrossando!... Há muito que estão cheias de gente que desceu todos os patamares sociais e divide a mesa com os chamados sem-abrigo, porque essa é a sua única forma de sobrevivência. As políticas sociais, sejam elas nacionais ou europeias, já só têm em conta números. Cortes, défices, juros, desalavancagens, mercados e outros desmandos tais, que cada dia que passa leva mais gente à pobreza. Politicas que esquecem o mais elementar e sagrado: AS PESSOAS.
O melhor exemplo, é o recente aumento das urgências hospitalares para 20 euros, que torna impossível para muita gente ter saúde, sabendo-se que centros de saúde e toda a rede de cuidados primários não responde às necessidades básicas de um país que já paga dos impostos mais altos de toda a Europa. HÁ LIMITES – e não devemos ter medo de o afirmar - mesmo quando, quem nos empresta dinheiro, diz que é preciso subir ainda mais as taxas moderadoras. Haja pudor…

Os portugueses já pagaram muito caro o empréstimo que lhes fizeram, e por mais austeridade que a troika – Coelho, Portas e Gaspar - lhes imponha, os "mercados" castigá-los-ão sempre. É assim que a Alemanha quer, e é assim que vai continuar a ser. E meus amigos, vamos muito mal se nos continuarmos a “alimentar” apenas das (perversas) palmadinhas nas costas dadas por Angela Merkel sempre que há sinais de o défice baixar. Se há país a ganhar com a crise é a Alemanha. Compra o dinheiro a um preço de saldo - nem chega a 1% -, e empresta a 4 e 5%. Este é o verdadeiro óbice pelos alemães, à emissão de moeda pelo BCE. É que com a crise nacional, já pouparam cerca de 13 mil milhões de euros e muitos mais ainda irão poupar. Merkel, na sua lógica de cientista física da Alemanha, não tem um pingo de sensibilidade para com o sofrimento que está a causar, e com a “disciplina forçada” que impõe a toda a Europa, quando se sabe que a sua dívida pública é doze vezes mais que a portuguesa, italiana e francesa no seu conjunto . Resta saber, até quando os povos vão permitir tamanha leviandade…

03 dezembro, 2011

SALVAM-SE OS BANCOS EXPLORAM-SE OS POVOS

Não é verdade que os portugueses tenham alguma vez vivido “acima das suas possibilidades” como se pretende fazer crer com a manipuladora e vergonhosa campanha dos meios de comunicação social inequivocamente paginados com os interesses do governo. E, quando escutamos os políticos da “situação” ou toda a vasta casta de “comentadores” pagos das televisões, todos eles não deixam de vincar bem que os tais portugueses que têm vivido “acima das suas possibilidades” são aqueles portugueses que vivem do rendimento do seu trabalho por conta de outrem ou do seu pequeno comércio ou industria, isto é, 90% da população (uma vez que aos outros 10% nunca lhes faltou dinheiro algum).
Como se fosse lícito e justo culpar os portugueses por terem recorrido ao crédito para comprarem as suas casas (porque só o crédito imobiliário atinge valores significativos). Esta campanha inequivocamente mistificadora e manipuladora, procura atingir um único objectivo - a resignação dos portugueses face às medidas de austeridade que o governo vem impondo e se prepara para agravar.
Como se torna cada vez mais claro, não são as dívidas públicas a verdadeira causa da crise orçamental e financeira que atinge os países da UE. A verdadeira causa, não é o endividamento das famílias mas o endividamento da Banca que tem vivido – essa sim - muito acima das suas possibilidades.
Uma Banca que se endividou até ao tutano, especulando com toda a gama de “produtos financeiros”, tóxicos, semi-tóxicos e não tóxicos, na ânsia de alcançar cada vez mais e maiores ganâncias. E, quando a “toxidade” explodiu, somaram-se perdas enormes que a descapitalizaram e a colocaram próxima da falência, valendo-lhe então a intervenção dos Estados. O que não tem sido suficiente, mantendo-se a ameaça de ruptura do sistema financeira, visível nos últimos dias pela própria ameaçada à derrocada da moeda europeia (dizem-nos que a reunião dos próximos dias 9 e 10 são decisivas).
É verdade que os défices orçamentais elevados não são desejáveis. E a má gestão associada à corrupção institucional praticada pelos governos nas últimas duas décadas sobretudo, atiraram os défices públicos do país para valores demasiado altos. Contudo, o país continuava e continuaria a financiar-se normalmente, isto é, a financiar-se com juros a taxas absolutamente razoáveis, não fora o eclodir e o posterior desenvolvimento da crise financeira internacional. Só quando as oligarquias financeiras, aproveitando-se da fragilidades das nações mergulhadas na crise, entenderam ser oportuno especular com as dívidas soberanas dos países, em sintonia (mais que em sintonia, em conluio) com os governos, o BCE, o FMI e a Comissão Europeia (CE), só então, os cidadãos se tornaram vítimas das medidas de austeridade que miserabilizam as suas vidas.
O BCE, o FMI e a CE, constituíram-se objectivamente em mentores e apoiantes da especulação financeira levada a cabo pelas oligarquias financeiras internacionais. A União Europeia ao invés de criar mecanismos que rompessem com a especulação de que são vítimas os seus países, sobretudo os economicamente mais frágeis, optaram antes por sacrificar as populações das nações intervencionadas aliando-se à especulação das oligarquias financeiras.
A verdadeira causa da intervenção da Troika e das medidas de austeridade por ela impostas e agravadas pelo governo, não foram os défices públicos elevados ou o endividamento das famílias, mas unicamente a desabrida e feroz especulação financeira sobre a dívida pública levada a cabo pelas oligarquias financeiras.
Obrigam os países intervencionados ao pagamento de juros elevadíssimos (dos 78.000 milhões de euros de “empréstimo”, Portugal pagará, só em juros, cerca de 35.000 milhões) convertendo o “empréstimo” num negócio altamente rentável. Retirando-se desta forma dinheiro às famílias endividadas para o transferir para as mãos das oligarquias financeiras através do BCE e do FMI.
A operação, o negócio, é simples e macabro. Especula-se com a dívida pública aguardando que os países percam resistência, até que finalmente, prostrados, sem forças para negociar, aceitem contrair empréstimos sob as mais severas condições e a qualquer preço. Ao ponto de abdicarem da própria Democracia, de eleições e de governos constitucionais, como aconteceu agora na Grécia e na Itália.
Contrariamente, há dois dias, um grupo dos maiores bancos centrais (BCE incluido) decidiu injectar dinheiro na banca europeia descapitalizada, a juros baixíssimos. É comovente esta aliança do apoio da banca mundial aos seus parceiros europeus.
Maior clareza e transparência quanto às verdadeiras intenções das forças que dominam hoje a economia globalizada, será difícil de encontrar.
Salvam-se os bancos, exploram-se os povos e as nações