A “crise do euro” está a despertar velhas hostilidades entre os diversos países do velho continente. É a França contra a Grã-Bretanha; é a Grã-Bretanha contra a França; a prazo, será a França contra a Alemanha, e escusado será dizer, a Europa do sul contra a Europa do norte (e vice--versa). O grande projecto de paz está a degenerar numa venenosa retórica de “guerra”.
E a questão é esta: Cada hora que passa, cada dia que vivemos, cada mês já vivido, reforça este sabor amargo e de amargura, que nos chega do futuro breve que vamos viver. Já sem olharmos para os recursos do país, já sem grande esperança, para não dizer conformados com a nossa ruína, a Cimeira que "todos" diziam ir resolver os nossos pesadelos – e a nossa fome – terminou, mais uma vez, adensando as probabilidades de caminharmos para o desmembramento da União Europeia, e ainda que adiando mais um pouco, para o confronto quase inevitável com a nossa própria bancarrota. Este é o caminho "traçado por este governo" e o futuro que que nos espera…
Mas o mais impressionante, é que em todas estas cimeiras, encontros de ministros, presidentes, especialistas em finanças, especialistas em fiscalidade e outras criaturas divinas, não se escuta uma única só palavra sobre produção; sobre trabalho para produzirmos; sobre condições de viabilização das economias -particularmente da nossa economia, para que produzamos mais. A quem interessam afinal estas politicas?!... Nesta Europa dos especuladores e dos agiotas, dominada pela crueldade do dinheiro como mito maior da riqueza, não existe uma decisão concertada que olhe os campos e as fábricas, os mares e as florestas para produzir a verdadeira riqueza, que se resume na elementar capacidade de comer duas refeições por dia, SEM PEDIRMOS EMPRESTADA UMA CARCAÇA OU UMA ALFACE, aos “nossos amigos” alemães...
Conscientes da realidade nacional, na semana ora finda, os Bispos, em Nota Pastoral, lembraram ao Governo que as "políticas concretas" devem ter em conta a dignidade humana, classificando-a como "o princípio e também o fim duma sociedade propriamente dita". Parece óbvio!... Mas infelizmente para alguns não o é - cada vez menos o é -, e logo houve, quem no seu papel de cão fiel do Governo, criticasse a Igreja por andar a meter-se onde não é chamada. Mas cuidem-se… Se os Bispos “pecaram”, não foi certamente por excesso… A dignidade já é um bem de luxo taxado acima do salário mínimo - 485 euros-, abaixo do qual se fica isento também de viver com dignidade.
Nas grandes áreas metropolitanas, há muito que as Sopas dos Pobres vão engrossando!... Há muito que estão cheias de gente que desceu todos os patamares sociais e divide a mesa com os chamados sem-abrigo, porque essa é a sua única forma de sobrevivência. As políticas sociais, sejam elas nacionais ou europeias, já só têm em conta números. Cortes, défices, juros, desalavancagens, mercados e outros desmandos tais, que cada dia que passa leva mais gente à pobreza. Politicas que esquecem o mais elementar e sagrado: AS PESSOAS.
O melhor exemplo, é o recente aumento das urgências hospitalares para 20 euros, que torna impossível para muita gente ter saúde, sabendo-se que centros de saúde e toda a rede de cuidados primários não responde às necessidades básicas de um país que já paga dos impostos mais altos de toda a Europa. HÁ LIMITES – e não devemos ter medo de o afirmar - mesmo quando, quem nos empresta dinheiro, diz que é preciso subir ainda mais as taxas moderadoras. Haja pudor…
Os portugueses já pagaram muito caro o empréstimo que lhes fizeram, e por mais austeridade que a troika – Coelho, Portas e Gaspar - lhes imponha, os "mercados" castigá-los-ão sempre. É assim que a Alemanha quer, e é assim que vai continuar a ser. E meus amigos, vamos muito mal se nos continuarmos a “alimentar” apenas das (perversas) palmadinhas nas costas dadas por Angela Merkel sempre que há sinais de o défice baixar. Se há país a ganhar com a crise é a Alemanha. Compra o dinheiro a um preço de saldo - nem chega a 1% -, e empresta a 4 e 5%. Este é o verdadeiro óbice pelos alemães, à emissão de moeda pelo BCE. É que com a crise nacional, já pouparam cerca de 13 mil milhões de euros e muitos mais ainda irão poupar. Merkel, na sua lógica de cientista física da Alemanha, não tem um pingo de sensibilidade para com o sofrimento que está a causar, e com a “disciplina forçada” que impõe a toda a Europa, quando se sabe que a sua dívida pública é doze vezes mais que a portuguesa, italiana e francesa no seu conjunto . Resta saber, até quando os povos vão permitir tamanha leviandade…