Conciliar um Orçamento Estado
com as exigências de Bruxelas, as naturais divergências políticas entre os
Partidos que suportam o Governo e as aspirações do próprio Partido Socialista,
é uma tarefa hercúlea e só possível face às cedências mútuas e à “ajuda” pela
lembrança do Governo PSD/CDS. A “lembrança” desse periodo de má memória, é uma
poderosa arma política, que vai perdurar por muito tempo.
O actual Governo, sustentado
pela política no mais nobre sentido da palavra e sem disfarçar a realidade,
como hoje os ideólogos da direita fazem, pode estar por isso tranquilo.É o
único da Europa que assenta num tipo de alianças partidárias, que permite a sua
existência, na recusa liminar a quatro, de que o PSD e o CDS governem. Esta é
pois o alicerce de um acordo, que ainda hoje estes dois Partidos, unidos no seu
desígnio neo-liberal, parece não terem dado conta.
Embora em competição
eleitoral, nada os distingue na ideologia, ainda que Passos tenha testado o
slogan “social-democracia sempre”, sem qualquer sucesso, como o demonstram as
sondagens ontem divulgadas.
Não vale portanto a pena
clamar pelo “diabo”, porque deste já o Padre Fontes tomou conta lá para as
bandas de Barroso, muito menos recorrer à metáfora das “balas”, sugerindo que
abriu a caça ao contribuinte. Uma afirmação desta natureza, proferida depois de
serem já conhecidas as linhas gerais do Orçamento de Estado, só revela uma
coisa: desconforto.
É dos livros, que quando não
se tem razão, eleva-se o tom de voz para disfarçar o vazio da argumentação. Mas
isso tráz normalmente fracos resultados - dizem também os livros.
Mas quer Passos Coelho quer
Assunção Cristas, pelos vistos não devem ter lido livros que tratem dessa
matéria - concluo eu. O primeiro, sem “ofertas de emprego” já espera pelo
epílogo, e a segunda como é ainda é uma “maçariquinha” nestas andanças, pode
ser que ainda vá a tempo de aprender alguma coisa - à sua custa, espero bem.
Dito isto, é verdade que não
deve existir nenhum cidadão português, que possa ficar completamente satisfeito
como o Orçamento de Estado, qualquer que fosse o seu conteúdo.
É também verdade, que os
burocratas de Bruxelas, feitores de outros interesses que não os do país e dos
portugueses, e agora ainda mais zangados pela quebra da teoria do “bom aluno”
ou do envio antecipado do “draft”, continuam a não querer permitir - apesar dos
compromissos que foram assumidos e devem obviamente ser cumpridos – que a
soberania dos países seja respeitada, muitos menos aqueles “que não são a
França”, e pecado dos pecados, com Governos apoiados por Partidos, às chamadas
esquerdas da esquerda.
Neste cenário, apesar da
complexidade da proposta que torna difícil abarcar todos os domínios, do que li
no documento e li na comunicação social, prefiro os princípios que informam
este Orçamento de Estado aos princípios que informaram os dos anos anteriores.
Acho até curioso, para não
dizer despudorado, que gente como Maria Luís Albuquerque, Assunção Cristas,
Passos Coelho e outros co-autores do "colossal aumento de impostos" -
que Marques Mendes baptizou de assalto à mão armada (lembram-se?!...) - que
criou a maior e mais assimétrica carga fiscal jamais sentida pelos portugueses,
venha agora falar das opções do Orçamento para 2017 em matéria de impostos.
Haja decência…
Por outro lado, acho já
normal, que os falcões do Observador e outros "especialistas da comunidade
pafista" continuem a anunciar a desgraça. Ou por outra: a antecipem!...O
que desejam isso sim, é que tudo corra mal. Um desejo que vem desde os tempos
em que se iniciou esta solução governativa. Nada que se estranhe!... A sua
agenda é outra, e é clara. Bem podem esperar sentados…