18 setembro, 2023

CRÓNICA PARA O PLANALTO BARROSÃO


O abandono do mundo rural é uma tendência global, e o concelho de Montalegre, com uma área territorial de 805,46 kms2, correspondente ao 17.º lugar no ranking nacional dos Municipios portugueses, não é excepção.

Em 2017, o país apresentava já um risco elevado ou mesmo muito elevado em determinadas zonas, de desertificação, e o nosso concelho posicionava-se então na 197.ª posição, de entre os 308 Municipios à escala nacional. Hoje, é provável, que desde então, esse risco tenha aumentado ainda mais e continue a aumentar, não só devido ao abandono a que desde sempre foi votado pelos senhores do Terreiro do Paço, como também à aceleração das alterações climáticas a que todos os dias assistimos, e às acções contínuas decorrentes da utilização dos solos para fins que nada têm a ver com aquilo para que desde sempre foi a sua principal finalidade.
Em termos globais e numa breve sintese, estas últimas, foram aliás objecto das conclusões saídas da última Conferência de Glasgow – de que Portugal é subscritor - promovida pelas Nações Unidas, chamando a atenção, para o facto da “desertificação conduzir à perda de biodiversidade, de carbono orgânico, e de outros serviços dos ecossistemas terrestres, incluindo a redução da produtividade agrícola e florestal”.
Indo mais além, o Relatório final do evento é muito conclusivo:
“é necessário proceder a uma recolha de dados, sobre os factores determinantes e os impactos da degradação dos solos a todas as escalas pertinentes; identificar e demonstrar a eficácia e promover o reforço das medidas de redução e inversão da desertificação e de aumento da capacidade de retenção de água no solo, tendo em conta as alterações reais e projectadas, das condições climáticas;
e por último e especificamente para as terras agrícolas, “procurar identificar práticas de utilização dos solos que sejam mais resilientes e adequadas para combater a desertificação, mantendo simultaneamente os serviços dos ecossistemas e prevenindo o abandono das terras”.
Ora perante estes factos, o que nos oferecem as empresa mineiras, com a conivência dos Governos da República?!... Precisamente o contrário - o que interessa é o lucro. Ou seja: no caso de Barroso – como em qualquer outro lugar – o exemplo da exploração de uma mina, onde os sempre implacáveis factores económicos se sobrepõem às pessoas, ao seu bem estar social, à fixação das populações e à defesa do ambiente, é que são importantes.
Os exemplos do passado que levaram ao declínio da agricultura de subsistência, à degradação ambiental, à erosão dos solos, à poluição que reduzindo a produção e o rendimento dos terrenos agrícolas contribuíram para o abandono das populações, e acima de tudo as pessoas, que não podem, muito menos devem ser tratadas como números, são assuntos para esquecer.
É por isso, que é preciso dizer basta!... O concelho de Montalegre já colabora e muito para a economia global do país!... Cerca de 400 milhões de euros anuais, é o montante com que o Municipio contribui para o PIB nacional. Uma quantia, que comparada com os irrisórios 25 milhões de que dispõe para se governar, mostra a diferença abismal entre o que dá e o que recebe. E isto tem um significado: é que o concelho de Montalegre já foi mais que “espremido” para nada receber em troca – veja-se o exemplo das barragens. Os Governos Centrais sempre usaram e abusaram dele em beneficio próprio, esquecendo que Portugal não se limita a Lisboa e que os Barrosões, para além dos seus deveres, têm também têm direitos.
Ora foi exactamente face a tudo isto, que em defesa da terra e da sua gente, esteve muito bem a Presidente do Municipio, Fátima Fernandes, que conhecedora dos factos, soube resistir a todas as investidas da exploração mineira, recusando com um “INEQUÍVOCO NÃO", servir de “almofada” aos vendilhões do templo. Ninguém de boa fé, pode pactuar com mais este “assalto” à nossa terra, permitindo que sejam reeditadas as politicas do volfrâmio e das ditas barragens, levadas a efeito pelo Estado Novo – agora em versão litio, mas bem mais dramática e danosa, que a vingar, significará o maior desastre da História do concelho.
A bola, está agora do lado do Governo, que a viabilizar o projecto de exploração, vai não só contra as directrizes da dita Conferência de Glasgow, para as quais o Papa Francisco chamou a atenção na última semana, como pura e simplesmente esquece as pessoas e a sua autonomia estratégica e duradoura, ao retirar o sentimento de pertença de quem ali nasceu e escolheu para viver.
Ora isto, constituir-se-à como um verdadeiro crime, sem prejuízo óbvio, de esquecer, que a conservação e a gestão da natureza, reconhecem cada vez mais a importância de envolver as comunidades locais. O conhecimento histórico dos ecossistemas e da biodiversidade, é por isso um dado fundamental para edificar as bases de referência que permitem avaliar a eficácia das medidas de conservação e acompanhar o progresso dos seus objectivos. NÃO MATEM BARROSO!...
Não é possível proteger a terra, quando se obriga a ir embora, aqueles que sempre dela cuidaram.
(Texto escrito segundo a antiga ortografia)