Em tempos de pandemia e ainda por cima em ambiente fechado, é claro que nunca poderia ser favorável à realização de um qualquer Congresso, fosse ele do PCP, ou de qualquer outra força politica. Mas entre o não ser favorável, a sua efectiva realização – como aconteceu - e o facto do Governo ter o dever de o proibir, vai uma grande distância. E isto quer dizer o seguinte: quer dizer, que Rui Rio e todos os Partidos à sua direita, são demasiado inteligentes para “treslerem” a Lei, a qual, por acaso ou não, emana de um Governo de Cavaco Silva. E porquê?!... Porque sabem muito bem, que o Governo, o Presidente da República ou o Parlamento, nunca o poderiam impedir. E sendo assim, isto tem um significado: toda esta franja optou pela chicana politica, servindo-se para o efeito do erro comunista. Ora isto não é sério!... Ou seja: uma questão moral da responsabilidade de uns, jamais poderá ser confundida com questões de legalidade, que num Estado de Direito só poderá ser subvertida, através de um qualquer Golpe de Estado de cariz totalitário. É um facto, que os comunistas deveriam saber, que a solidariedade com a restante população que sofre com as restrições, assim como a elementar prudência, mandariam que adiassem o seu Congresso, tal qual fizeram em relação a outros eventos PS, PSD e BE – e não o Chega que para apimentar a chicana, ainda se deu ao luxo de desconvocar um Conselho Nacional que nunca havia sido convocado. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Tem isso sim um significado diferente!... Um significado de que o Chega é o melhor intérprete na arte do populismo franciscano, ao qual toda a direita, na qual se inclui o PSD, se associa como testemunhas de abonação. Ou seja: uma onda de populismo e uma campanha tão bem orquestrada e eficaz contra o Governo e o PCP, nunca vista em 46 anos de democracia, com a agravante de ter tido a bênção de quem tem responsabilidades politicas acrescidas – como é o caso de Rui Rio, e pelos fascistas ressuscitados e organizados de forma demolidora nas redes da desonra em que tudo vale.
Eu sei que em política não há gratidão!... Mas como um dia referiu Sá Carneiro, “o que parece é” – e neste caso foi!...
Foi chicana politica ao mais alto nível, conhecendo-se como se conhece a letra da Lei. E sendo assim, o mínimo que se poderia exigir a esta gente, era pudôr nas atoardas, decência nos ataques, e alguma verdade que fosse no combate democrático – nada disso existiu.
Dito isto, pode toda essa gente esquecer os militantes comunistas que morreram nas masmorras da Pide; os combatentes que lutaram contra a ditadura; os torturados; os assassinados; os demitidos da função pública e deportados; podem esquecer até o seu sofrimento; o contributo do PCP para a arquitectura democrática; para o equilíbrio partidário da democracia oferecida pelo Movimento das Forças Armadas; podem esquecer a sua participação na elaboração da Constituição da República Portuguesa; a sua contribuição para a implementação do Serviço Nacional de Saúde pelo qual agora tanto clamamos e contra o qual votaram os agora “moralistas”; e podem até esquecer o seu contributo na organização sindical dos trabalhadores e no combate democrático para a sua defesa. O que não podem, é negar ao PCP ou a qualquer outro Partido, o direito de reunião e de serem eles – bem ou mal - a decidir. A moral não se impõe – pratica-se e toca a todos – ou devia tocar.
Uma coisa é certa: ao contrário de outros, aos comunistas, não conheço, depois da normalização democrática e já lá vão 45 anos, a mais leve tentativa de conquista do Poder pela via revolucionária; uma única proposta de lei contra a democracia e a Constituição da República, ou ainda, qualquer tentativa de desestabilização política clamando por uma IV República, para servir de embrião a actividades conspirativas.
Quando o silêncio mata e cada um de nós se cala, torna-se cúmplice de uma traição à democracia. A esta democracia que a pluralidade partidária mantém viva, mesmo nas horas amargas e incertas que estamos a viver. Pela minha parte “cantarei até que a voz me dôa”…
Viva a Liberdade