Não sou adepto de que haja
“dias de tudo”, que muitas vezes têm outros objectivos que não o de chamar a
atenção para causas maiores. Sou adepto sim, de que as mulheres sejam tratadas
com dignidade e sem a violência a que todos os dias assistimos e fazem noticia.
Gostava até, que o Dia
Internacional da Mulher fosse um desses dias com “D” maiúsculo, o dia em que as
mulheres do mundo inteiro pudessem comemorar os passos que foram dados ao longo
de séculos, para que hoje tivessem os mesmos direitos que os homens. Infelizmente
porém, ainda há um longo caminho a percorrer, não apenas em países do chamado
terceiro mundo, como também nos países ditos desenvolvidos, como o nosso.
Em Portugal depois do 25
de Abril de 1974, foi-lhes estabelecido o direito universal de voto; lutaram
durante décadas para poderem ingressar nas universidades; careciam da
autorização do marido para transpôr a fronteira; não tinham acesso à carreira
diplomática; à magistratura; à administração de bens próprios; e só em meados
do século XX lhes foi autorizado acederem ao lugar de deputadas, embora com
restrições e escolhidas a dedo pela então denominada União Nacional.
Apesar dos avanços
verificados, existem ainda hoje um conjunto de factos que continuam a
discriminar a mulher, alguns que de tão ridículos, se não fossem coisa tão
séria nos fariam rir. Quem sabe por exemplo, que os homens após divórcio podem
recasar mais depressa do que as mulheres se assim o desejarem?!... Trata-se de
uma lei de 1967 que foi mantida na pós-revolução e que perdura até hoje. Após
um divórcio, os homens podem voltar a casar 180 dias depois, as mulheres por
sua vez, só ao fim de 300 dias, prazo “justificado” segundo os nossos
legalistas, para evitar conflitos de resolução de paternidade, ou seja, para
não haver dúvidas de quem é o pai da criança, em caso de gravidez.
Uma verdadeira aberração
nos dias de hoje!... Que sentido faz ainda uma lei deste tipo, quando existem
testes de paternidade simples, rápidos e eficazes?!... Outro exemplo: em 1954,
a ceifeira alentejana Catarina Eufémia, na sequência de uma greve de
assalariadas rurais, foi assassinada por pedir mais dois escudos por jorna.
Sessenta e três anos depois, as mulheres portuguesas continuam a ganhar menos
que os homens e a ter menos possibilidades de acesso a posições de chefia na
administração pública, nas empresas privadas, como titulares de cargos públicos
e claro está a nível salarial em geral.
Infelizmente, ainda hoje
existe quem as procure subestimar e até humilhar só porque são mulheres, isto,
apesar de muitas serem mais qualificadas que os homens - 59% das pessoas com
diploma de ensino superior e 55% das pessoas doutoradas em Portugal são
mulheres. Quer tudo isto dizer, que há ainda um longo caminho a percorrer para
a sua verdadeira emancipação e que um século depois do direito à igualdade de
remuneração ter sido reconhecido internacionalmente, ainda hoje não é cumprido.
Em Portugal, a diferença
salarial entre homens e mulheres segundo as estatísticas oficiais, cifra-se nos
14,9% e no conjunto da União Europeia, a média é ainda maior – 16,7%. Mau de
mais numa Europa que se diz civilizada e defensora e subscritora dos Direitos
Humanos.
Estas são pois as razões
que aqui me levam a evocar o dia 8 de Março como o Dia Internacional da Mulher
e com uma saudação muito especial para todas as mulheres do Mundo. Como homem,
não me preocupa o seu avanço na sociedade, antes pelo contrário. O Dia
Internacional da Mulher deve servir por isso, para chamar a atenção para a
persistente discriminação de género em inúmeras sociedades. Não o desvirtuemos
de modo a endeusar as mulheres um dia em cada ano e a pisá-las, activa ou
passivamente nos restantes 364.
Numa perspectiva de
futuro, devemos pensar-nos como espécie e como um todo que habita um planeta
singular que nos foi legado. Não há países livres sem igualdade entre os
sexos...