Passaram 47 anos desde 25 de Abril de 1974 e o país mudou entre lágrimas, risos, promessas e esperanças. Éramos menos, muito menos!... Éramos pobres - e ainda somos -, mas então, muito mais pobres. As estradas eram poucas e ruins, e automóveis um luxo para poucos. O correio chegava de burro às aldeias, e a água era transportada em cântaros desde os poços ou das fontes. Saneamento, era palavra desconhecida, e uma côdea de pão enganava a fome de muitos. Por isso, deram em partir por entre montes e vales na demanda de terras francesas. O campo, lavrava-se de suor e o bafo do gado, dormia com as almas e aquecia as casas esburacadas de granito e com colmo a cobri-las. Enquanto isso, a polícia política fazia o resto e tomava conta das heresias!... A Igreja por sua vez abençoava-nos o desencanto e indicava-nos o caminho das bem-aventuranças. O ditador – esse, não saía do sítio, nem sequer à rua para tomar café. Andava apenas de comboio, e dizem nunca ter passado da fronteira espanhola para lá de Hendaia. Consta que tinha medo de se afastar e apenas confiava em Franco, seu amigo.
Os ricos
eram poucos, os pobres muitos, e os mancebos iam para a tropa aprender a ser
homens. Passada a recruta, esperava-os o Vera Cruz ou o Niassa para uma viagem
até às Áfricas do Império. De lá,
enviavam aerogramas às namoradas e madrinhas de guerra e pelo Natal, até tinham
direito a “tempo de antena” na televisão, prometendo regressar intactos e
escorreitos. Muitos, mal imaginavam ir regar com sangue o verde da savana, Áh…
e havia também os analfabetos, que eram muitos. E havia a quarta classe que era
quase uma licenciatura, e havia o sétimo ano do liceu que era mais que um
mestrado. Havia que “apurar” bem as coisas, porque letras a mais só traziam
desgraça e só tornavam as “pessoas infelizes”. Alguns, resistiam em segredo,
mas o segredo era perigoso. A sua denúncia era um “desporto nacional” e tomava
café com os “chibos”. Os pobres coitados, quando davam pela marosca já estavam em Caxias depois de irem “tomar chá” à António Maria Cardoso, a sede
da Polícia dos “bons costumes”, mais conhecida por PIDE.
Uma
“estória” que só teve um final feliz quando hà 47 anos “a madrugada que eu esperava” - como escreveu Sofia – “fez da
noite dia”. E não foi milagre!... Não, não foi. Foi isso sim, a grande festa da
libertação, e por isso, foi também este ano, ainda que de pandemia, mais uma
vez comemorada na minha terra por quem a governa. Uma comemoração que se
estendeu por toda a região do Alto Tâmega e até do outro lado da fronteira,
onde os nossos amigos galegos fizeram igualmente da mesma eco. Mas no “melhor
pano cai a nódoa”!... E a nódoa, chamou-se PSD-Montalegre, cuja direcção
decidiu hibernar neste dia histórico – nem uma palavra. Já dizia o “botas”, que
“o que parece é, e que a liberdade diminui à medida que o homem evolui e se
torna civilizado”. Nada mais apropriado, para quem no dia da liberdade,
resolveu fazer como a avestruz…
Editorial da Revista A Barrosana, de Maio 2021