O tempo esclarece tudo, e hoje é por demais evidente para todo o "mundo", que o líder do PSD, foi pressionado pelos seus companheiros de Partido, ávidos de poder - que não escondem - para desencadear esta crise politica. Há mesmo quem afirme, que o lobby do norte, formado pela chamada corrente “anti-sulista” e “anti-elitista”, o terá colocado entre a “espada e a parede” –ou a queda do Governo ou eleições no Partido, fragilizando assim, toda a estratégia que havia sido montada pelo próprio e pelos seus seguidores mais directos.
Verdade ou mentira, o que é certo, é que os defensores de tal tese, contrariando a facção que se predispunha a “fritar Sócrates em lume brando”, para depois sim, assumir as rédeas do poder, impuseram a sua lei. Em boa verdade, foi um favor que fizeram ao Primeiro-Ministro, que com toda a “ratice” que se lhe conhece, também soube preparar o terreno que mais lhe convinha. Estamos assim, perante um autêntico jogo do gato e do rato a três e outros à espreita pelo buraco da fechadura, a ver em que param as modas. A isto se chama "crime de lesa-pátria", um crime, que não sendo um caso de policia, tem obviamente de ser objecto de "julgamento popular". No meio de toda esta embrulhada, no meio destes jogos politicos, no meio desta ânsia de chegar ao poder, não se olhando a meios para atingir os fins, aquilo que todos sabemos, é que com a situação criada, estamos mais pobres e endividados, e que se antes estávamos desgovernados como alguns dizem, agora "não temos" Governo...
Diz-se por aí, que a crise política pode precipitar o pedido de ajuda externa e a intervenção do FMI. Cá por mim, imagino que o FMI seja como o Pai Natal, mas ao contrário. O Pai Natal traz prendinhas aos meninos que se portam bem durante o ano. O FMI, traz medidas duras aos países que se predispõem a fazer asneiras e colocam os interesses partidários e pessoais acima dos interesses nacionais. Chegados a este ponto, porque quem paga são sempre os mesmos, é importante que se diga, que chegou o momento de repartir responsabilidades pela situação criada. Situação essa, que depois do chumbo do PEC e de toda a novela que o envolveu, nos vai remeter para mais um entretenimento eleitoral, para gáudio de uma classe que teima em não se corrigir e em afundar cada vez mais o país e a vida dos contribuintes.
E digo entretenimento eleitoral porquê!... Em primeiro lugar, porque os resultados que se perspectivam, nada trarão de novo ao quadro parlamentar existente, e em segundo, porque as perspectivas que sairão do novo Governo, serão as mesmas ou ainda piores, que aquelas que o Governo de Sócrates apontava. Mas vamos por partes: Será que do próximo acto eleitoral sairá a possibilidade de formação de um Governo PSD/CDS com maioria parlamentar?!... Como as coisas se apresentam não acredito… Será que na ausência de tal maioria, é possível a formação de um Governo, PSD/PS, ou PSD/PS/CDS, ambos sem Sócrates, como alguns advogam ?!... Para quem conhece os protagonistas, esta é uma hipótese completamente fora do baralho. Será então possível, que em consequência dos mesmos resultados eleitorais, exista a possibilidade de formação de um Governo PS/PCP, ou PS/PCP/BE?!... É evidente que também não!... Aliás… É muito mais fácil descobrir poços de petróleo no Larouco, que a união das chamadas esquerdas. Posto isto e na falta de um "santo milagreiro", que nos resta então, para além de todas estas hipóteses à partida falhadas?!... Sócrates voltar a ganhar as eleições e assim criar um sério problema a Cavaco Silva, que quer se queira quer não, é também um dos co-responsáveis pela actual crise politica?!...
Face a todos estes cenários, não tenhamos ilusões: O figurino politico, pese embora com um ou outro reajustamento, em nada se diferenciará do actual. E sabendo que assim vai ser, não foi por acaso, que a “regente” de Portugal além-fronteiras, já ditou as suas regras, com um valente puxão de orelhas a Passos Coelho, ao exigir-lhe uma alternativa tão imediata ao PEC de Sócrates, que o “pobre coitado”, colhido pela surpresa e na ausência de “melhores soluções”, mais tarde sugeridas por Carrapatoso, com novo corte nos salários e o fim do 13.º mês, apenas balbuciou o aumento do IVA para 24 ou 25%, que tranquilizando a senhora, mereceu a discordância e até a repulsa de muitos dos seus companheiros de Partido.
Mas o mais engraçado – se é que de graça se trata - é que depois de toda esta ginástica, depois de cambalhotas atrás de cambalhotas, depois de voltas e mais voltas, depois de contribuírem ainda mais para a ruína do país, ainda há quem armado em moralista, tenha o desplante de vir afirmar aos quatro ventos, que na próxima campanha eleitoral e como forma de poupar dinheiro, não irá utilizar outdoors!... Que hipócrisia senhores… Será que a utilização de outdoors terá assim tanta influência, mesmo ínfima que seja, na recuperação económica do país?!... Um repto: Porque não se abstem esta gente de fazer campanha, essa sim, engolindo milhões pagos pelos contribuintes, sabendo-se que a mesma, apenas servirá para criar mais crispação politica, de tão penosa, agreste e inútil que vai ser?!...
As próximas eleições, apenas clarificarão uma coisa: quem vai “governar” o país, sob a tutela formal ou informal da UE e do FMI e mediante um programa que já todos conhecemos!... Mais impostos, menos salários, menos pensões, menos saúde, menos educação, menos justiça, menos segurança… isto independentemente de o principal protagonista, na aplicação das ditas medidas se chamar Sócrates ou Passos Coelho sozinho ou com Portas, já que Louça ou Jerónimo, não contam para este efeito. Esta é que é a verdade…
Um país que tem um défice anual de 1.700 € per capita só em bens de consumo, não tem futuro com estas politicas. E das duas uma, ou os Partidos arrepiam caminho e se renovam com novas propostas e novos horizontes, abrindo a possibilidade de participação politica e cívica aos movimentos de cidadãos de boa vontade, espalhados pelas diversas regiões, ou cairemos definitivamente no abismo, e consequentemente na falência do actual sistema politico.
Ao contrário do que muitos pensam, há uma geração que nasceu depois do 25 de Abril, que tem convicções políticas profundas, que não desistiu da democracia e que quer para Portugal algo mais que este cenário triste e bloqueado em que nos encontramos. Essa geração encontra-se dispersa de norte a sul, e tem obrigatoriamente de merecer a atenção do poder central.
Para esta geração, o que conta é construir com as suas próprias mãos uma nova esperança, encontrar novas respostas para o beco sem saída em que se encontra, sem emprego e sem perspectivas de futuro. Estou a falar – sem qualquer dúvida - da geração mais qualificada de sempre, a quem o nosso mercado de trabalho tarda em abrir as portas e que nunca teve outra alternativa que não a da precariedade, da falta de reconhecimento e da vontade de partir, na procura de um horizonte mais risonho.
Foi parte desta gente e não “esquerdistas”, como alguém já lhe chamou, que em larga escala apareceu na grandiosa manifestação da chamada “Geração à Rasca”, e que desde a primeira hora, apelou a um "pacto de insubmissão". Foi a esta gente, de vários quadrantes políticos (entenda-se), que eu ouvi os melhores e mais puros discursos. E foi a esta gente, que eu vi com admiração e afecto genuínos, tomar a democracia e a ausência de violência, como a grande referência moral do seu “combate”.
Pela primeira vez, eu, que há largos anos ando nestas andanças, senti que havia a possibilidade de uma verdadeira e progressiva passagem de testemunho. Para aqueles que, como eu e antes de mim, batalharam para que Portugal fosse hoje uma democracia, esta é a garantia que nos faltava. É certo que cada geração trava os seus combates. A minha geração conheceu a guerra, a pide, a prisão, o exílio. Esta tem pela frente o desemprego, a precariedade, a asfixia do endividamento, a mediocridade das elites mediáticas, o tacticismo dos políticos instalados, a promiscuidade entre negócios e política, a ameaça do ciclo vicioso da austeridade e da recessão.
É pelos nossos filhos, pelos nossos netos e por esta geração que é preciso dar a cara, assumir as suas convicções com orgulho, sem preconceitos, sem qualquer cedência, recusar as meias-tintas e defender o mesmo ideal de justiça, humanismo e liberdade que norteou a vida daqueles que lutaram pela democracia. É preciso abrir um novo caminho, que inevitavelmente terá que ser um caminho de futuro.
E chegado a este ponto, falo então da convergência num projecto comum para Portugal, um projecto sério, um projecto em que cada qual diga o que pretende, quais as propostas que tem para o país, um projecto que passando evidentemente pelos Partidos como elos da democracia, não pode esquecer os homens de bem, substimando-os ou ignorando-os. O País e o seu Povo, devem estar acima do que quer que seja. É preciso alguém que promova essa convergência!... Uma convergência com objectivos nacionais comuns, mesmo que as diversidades programáticas e sobretudo a história vivida continuem a separá-las. Precisamos disto como de pão para a boca, num tempo conturbado em que os interesses financeiros e a especulação parasitária dos mercados, manipulam o poder económico e dominam o poder político democrático à escala europeia e nacional.