Quiseram
convencer-nos e alguns até acreditaram, que eramos uns doidos
extravagantes e que tinhamos gasto demais num enorme regabofe!...
Aplicaram-nos uma correcção de austeridade agravada por termos
comprado uns frigoríficos, umas televisões mais sofisticadas,
utilizado uns telemóveis, trocado de carro, ou em alguns casos
termos mudado de casa recorrendo ao crédito bancário. Afinal de
contas e como sempre, sendo a “verdade como o azeite” - toda ela
vem agora ao de cima. É verdade que alguém andou de facto a viver
acima das suas possibilidades, mas esses não foram concerteza os
“Zés” deste país!... Os tais “Zés”, esses sim, que de há
uns tempos a esta parte, vêm custeando as miragens e as visões
megalómanas a que assistimos durante anos a fio. Eram pontes,
auto-estradas, aeroportos, obras faraónicas, rotundas e Parcerias
Público Privadas para tudo e mais alguma coisa, com as dívidas
decorrentes de tais negócios a serem empurradas com a barriga para a
frente, suportadas na teoria de que quem viesse atrás que fechasse a
porta.
Como
não há “almoços grátis”, na ânsia do lucro e do
enriquecimento a qualquer preço, o resultado só poderia ter sido o
que foi: o estoiro monumental do sistema financeiro, que agora
teremos que suportar com lingua de palmo durante décadas, decorrente
dos assaltos a tudo o que garantia poder e dinheiro, sobretudo a
bancos e empresas, numa acção executada por gente gananciosa e sem
escrúpulos, muitas vezes disfarçada sob a capa de iluminadas
competências de gestão. Esta é que é a verdade.
Já
para não falar das injecções recentes de capital no BCP e no BPI,
tudo começou com o BPN e o BPP, a que se seguiram o BES, o BANIF e
agora a Caixa Geral de Depósitos, com carências acumuladas de
dezenas de anos. Ao longo de quase nove séculos de História, não
há memória de alguma vez se ter roubado e assaltado tando o país e
os portugueses, como tem sido feito nas últimas décadas por uma
nova classe de burlões, que pomposamente se classificam como
empresários ou como gestores. Tudo gente que passou por uma qualquer
universidade onde conquistaram um qualquer canudo, se inscreveu num
partido político para ter emprego - primeiro no Estado ou até com
um lugar subalterno no Parlamento, para depois criar condições de
facturação. Hoje, é vê-los por aí ricos e influentes, estando
convencidos de pertencerem a uma qualquer elite ao exibirem as suas
mansões aquém e além mar, os seus potentes carros topo de gama e
as suas constantes viagens sempre na procura de mais.
Esta
sim, foi de facto a tal gente que viveu e continua a viver acima das
suas possibilidades e cujos desmandos pesam agora no bolso de todos
nós, fruto de um acordo de uma suposta redenção, assente num
discurso de autoflagelação e empobrecimento, bem aproveitado por
uma Tróika financiadora, aliada a soluções neoliberais internas.
As
vergonhas são já tantas, que nem vale a pena enumerá-las. Foi o
assalto aos bancos; foram as privatizações ideológicas para pagar
dividas que nunca foram pagas; foram os créditos mal avaliados;
foram os negócios e os favores, com a cumplicidade de uma certa
imprensa chamada de referência que abdicou do seu dever de informar
e se esqueceu do nosso direito a sermos informados; e foi o escândalo
das offshores a quem em tempos nas páginas deste jornal tracei o
epílogo que acabou por se confirmar. Tudo somado, foram milhões e
milhões de euros que é preciso averiguar onde estão, devorados que
foram o BPN, o BES, o BANIF e agora também a CGD que não fora a
intervenção do Estado entraria igualmente em colapso. CGD
- essa mesmo, que numa conta de três ou quatro mil euros nos cobra
durante muitos meses e sem nos avisar, cinco euros mensais para
despesas de manutenção, mas que ao mesmo tempo nunca se inibiu de
distribuir milhões sob a forma de créditos aos amigos, sem se
preocupar se os pagavam. A isto, chama-se promiscuidade e burlas de
forma reiterada.
Em
qualquer Estado de Direito que se preze, ao invés de toda essa gente
continuar por aí acumulando cargos e cargos como se nada se
passasse, dando continuidade ao seu enriquecimento à custa da
desgraça alheia, aquilo que seria exigível é que prestasse contas
e fosse responsabilizada pelos seus actos, doesse a quem doesse. Mas
não!... Em vez de se promover uma auditoria forense para que a
Justiça possa funcionar e cumprir o seu papel na defesa do Estado,
que afinal de contas somos todos nós, a solução parece passar-se
pelas já desgastadas Comissões de Inquéritos Parlamentares, que
valendo aquilo que valem não servem para nada, a não ser como meio
de propaganda politica.
E
sendo assim, é exactamente por isso mesmo, que surpreende a forma
como o PSD “considera a defesa do interesse nacional”, não só
por estarmos numa altura em que as empresas de rating e a Comissão
Europeia trazem a Caixa Geral de Depósitos debaixo de olho,
dificultando-lhe a capacidade em se financiar por um lado e em se
recapitalizar pelo outro, como também quando se sabe que os
problemas existentes não são de agora, têm “barbas brancas”, e
o Governo a que presidiu durante quatro anos e meio, não mexeu uma
palha para os resolver.
A politica quando
é exercida de forma séria deve obedecer a prioridades!... E a
prioridade neste caso, manda olhar para o futuro, sem esquecer o
presente. Olhar para trás, significa “lavar a roupa suja” que ao
longo dos anos, PS, PSD e CDS usaram para politizarem todas as
administrações da CGD e utilizarem-nas para a concretização dos
seus objectivos, quer de negócios quer para pagar favores políticos.
É exactamente por isto, que a Caixa vai agora precisar de um pesado
aumento de capital, que vai ter de reduzir cerca de dois mil postos
de trabalho e fechar balcões por esse mundo fora, fruto exactamente
das heranças e dos desmandos dos sucessivos governos.
Ora
é exactamente por isto, que a prioridade é colocar “trancas na
porta”, medida muito mais urgente do que identificar quem e o que
foi espoliado para gáudio politico, mas sem consequências. E esse,
não é trabalho para deputados ou para Comissões de Inquérito
Parlamentares, cujas conclusões caem sempre em “saco rôto”.
Esse é sim, trabalho para Ministério Público investigar, e levar
os prevaricadores – se fôr caso disso – a “sentar o cú no
mocho”. À politica o que é da politica, à justiça o que é da
justiça.
Pela
minha parte e sem prejuízo de tudo quanto aqui ficou dito, aquilo
que gostaria mesmo de ver, é que as propostas da esfera politica
nacional, começassem por apontar como forma de ajudar a recuperar
financeiramente a Caixa Geral de Depósitos, era a venda do seu
edifício-sede. Devia dar uma “pipa de massa” e era uma boa ajuda
em termos financeiros, não só pelo que se poupava como igualmente
pelo que se poderia ganhar. Dizem os entendidos, que a nível de
espaço equivale a cinco Mosteiros dos Jerónimos e que juntamente
com a Muralha da China e o ordenado do Mexia na EDP, serão
porventura as únicas coisas que podem ser vistas da lua sem
necessidade de usar óculos.
Só
que estas, são as tais “vacas sagradas” em que ninguém está
interessado em tocar...
(Crónica publicada no Noticias de Barroso de 30Junho)