27 fevereiro, 2022

UCRÂNIA OS CONTORNOS DE UMA GUERRA …


A 12 de Março de 1938 Hitler anexou a Áustria!... Afinal a maioria da população até era alemã, justificavam os nazis. Anos antes em 1918, a Alemanha assinara um Tratado em que assumia nunca vir a anexar este seu vizinho, mesmo sabendo que uma parte dos seus habitantes falavam alemão. Por essa altura, ainda nos anos 30, a mesma Alemanha nazi afirmava que as populações de etnia alemã na Checoslováquia e em especial na chamada região dos Sudetas, eram perseguidos e mal tratados. Por isso explicavam, que a Alemanha se via forçada a anexar essa região, isto é: foi o primeiro passo para a posterior anexação de toda a Checoslováquia, decidida por Hitler, Edouard Deladier, Mussolini e Arthur Chamberlain. 

Por essas alturas, as entranhas do Estado Novo olhavam para as investidas de Hitler com uma visão utilitarista!... É que se por um lado, Salazar preferia Mussolini a Hitler, pelo outro via em Hitler e no nazismo uma forma de impedir o crescimento do comunismo. Mas não é sobre esta matéria que quero falar. Desta vez, procurarei abordar aquilo a que apelido de “ironia do destino” de alguma da nossa esquerda actual na sua relação com Putin.

E sendo assim e de volta então aos anos 30 do século passado, o que tinhamos: tínhamos a maioria dos apoiantes de Salazar, a olhar para estas iniciativas de Hitler com fascínio. Entendiam que o homem até tinha razão!... Os austríacos até eram uma espécie de bávaros e os sudetas eram maioritariamente habitados por alemães. Mais até: gostavam de relembrar que a Alemanha tinha sido humilhada pelas potencias ocidentais no final da I Guerra Mundial e que reinava a hipocrisia por parte destas. E nem era verdade que Hitler fosse entrar em guerra com o resto da Europa, porque não era burro!... Ora foi de tudo isto que me lembrei, quando vi nos últimos dias um discurso de uma certa esquerda e de uns quantos “intelectuais” a argumentarem entre o apoio a Putin ou o justificativo da sua acção: afinal – segundo esses ditos cujos - a culpa é dos Aliados que humilharam a “Mãe Rússia” após a queda da União Soviética, sublinhando o facto de tanto a Crimeia como as duas outras regiões agora “anexadas” serem de maioria étnica russa – esquecendo até o ocorrido no Kosovo.

Um discurso – diga-se, que não é apenas burrice!.... Fosse apenas estupidez e a coisa até passava. A questão é que é um discurso “perigoso”. É que Putin não é diferente de Hitler, nem de Mao, nem de Pinochet, nem de Mobutu, ou de Estaline. E não é, porque não há ditadores bons e ditadores maus!... Só existem ditadores e todos eles, sejam da chamada direita ou esquerda, são uns bandidos com todas as letras. Defender por isso Putin, é defender um facínora que envenena os seus opositores e que viola direitos tão básicos como os de expressão. E sendo assim, um facínora é sempre um facínora. 

E não me venham dizer que os americanos são iguais!... Não, não são… Os  americanos são o tal país cuja população elegeu um Presidente como Obama, e livremente escolheu depois outro chamado Trump. Todos fizeram a sua escolha votando livremente, e livremente exprimem as suas opiniões. É por isso que prefiro sempre os que nos livram da tirania. Putin, só tem um nome: assassino…

Revista A Barrosana Março2022

07 fevereiro, 2022

O RESCALDO DAS LEGISLATIVAS…

OPINIÃO

O RESCALDO DAS LEGISLATIVAS…

As eleições legislativas realizadas no passado dia 30, eram uma complexa equação a várias incógnitas, ou se lhe quisermos chamar, um modelo matemático com muitas variáveis. 

Estavam sobre a mesa muitas situações para serem avaliadas pelo eleitorado, sobretudo, a análise à forma como foi tratada a pandemia do Covid-19 e os seus efeitos sobre a sociedade e o nosso modo de vida, mas também, o cansaço de uma equipa governativa já com seis anos de actividade, assim como a forma como se chegara a esta situação, na sequência da não aprovação do Orçamento do Estado para 2022. 

Além disso, estavam também em causa as alegadas questões relativas à debilidade do SNS e da Justiça, bem como o posicionamento relativo de Portugal em relação aos seus parceiros europeus, isto é, saber se convergiu como diziam os socialistas, ou se divergiu como afirmava a Oposição. Feitas as “contas”, não faltaram sondagens de avaliação!... Sondagens que mais uma vez voltaram a errar e a mostrarem-se pouco fiáveis, e que de certo modo, poderão ter contribuído para uma certa manipulação – dolosa ou não – de algumas franjas do eleitorado e do seu sentido de voto. Cinco dias antes da ida às urnas, anunciavam-se sondagens que davam “Rio a ultrapassar Costa pela primeira vez”. Três dias depois e a 48 horas da votação, saía a última, em que se afirmava estar “tudo em aberto”. 

Realizadas as eleições o que se verificou!... António Costa e o seu Partido ganharam com maioria absoluta - uma enorme surpresa, em que nem o próprio acreditava – e vitórias em todos os distritos do país, coisa que nunca acontecera. Um dado só possível, talvez pelo facto do eleitorado ter apreciado positivamente a forma como Costa geriu a pandemia e resolveu ter-lhe perdoado alguns dos seus erros, a que não foram imunes os apoios dados a Vieira, a Cabrita e a Cravinho, para citar apenas alguns.

Porém, hà ainda que salientar, o que de mais importante resultou destas eleições!... E isso foi sem dúvida, a vitória da liberdade e da democracia. Isto, apesar dos 385.543 cidadãos que continuam a defender um país estruturalmente autoritário, princípios inconstitucionais, racismo, xenófobia, islamofóbico e misógino. Gente, que quer no Poder alguém que baseia a sua mensagem no ódio e na divisão; que quer destruir o Estado Social; que quer menos impostos para os mais ricos e mais impostos para a classe média e os mais desfavorecida; que celebra de forma aberta e descomplexada a miséria, a fome e a violência que caracterizou o Estado Novo; e que acima de tudo, quer cancelar a democracia. E sendo assim, não vale a pena estar com rodeios!... Esta gente – a tal chamada extrema-direita fascista, não pode entrar na categoria de nossos adversários. Adversários são os que pensam diferente de nós, num quadro de respeito pela democracia e pelos princípios constitucionais. A extrema-direita fascista, enquanto inimiga da democracia e da Constituição, deve isso sim ser considerada como inimiga. Não há diálogo possível com quem defende o retrocesso civilizacional como caminho. É a minha condição de republicano e democrata que assim mo diz. A direita democrática foi já atirada ao “charco” e o centro direita vai a caminho se não lhe pusermos travão. PSD e CDS, foram para já as principais vitimas de gente que não merece contemplações. Não permitamos por isso que nos atinja a todos.

Quanto ao novo Governo que aí vem, oxalá que a premissa no calor da vitória, seja para respeitar:  maioria absoluta não significa poder absoluto”. Que assim seja…

(Texto escrito segundo a antiga ortografia)

02 fevereiro, 2022

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS 2022 . RESCALDO ELEITORAL

 

·       OS VENCEDORES

António Costa e o PS conseguiram a tão almejada maioria absoluta, conquistada com um claríssimo voto útil à sua esquerda e eventualmente também com a transferência de alguns votos do PSD, obtendo desta forma, a tão desejada estabilidade para governar. A pressão política das negociações e dos acordos, os bloqueios ideológicos ou programáticos de terceiros e a necessidade de cedências para manter o Poder, são a partir de agora, simples conjunturas de um passado político recente.

Para trás, ficaram os que contestaram os baixos salários, a educação, a saúde e o SNS, as pensões e os aumentos dos salários diluídos na significativa e preocupante inflação e aumento do custo de vida, o desemprego jovem, o défice e a dívida pública, as cativações, ou os impostos. Foi o povo que assim o quis... e o povo ainda é quem mais ordena.

·                A DERROTA DA ALTERNATIVA GOVERNATIVA

Quando, independentemente da oscilação das sondagens - que não são nenhum monstro como querem fazer crer, isso sim o reflexo de um determinado momento conjuntural - em campanha ou não,  tudo apontava para uma vitória de Rui Rio e para uma bipolarização mais efectiva do voto que continua a marcar um eleitorado ao centro - PS e PSD têm cerca de 71% dos votos e mais de 85% dos deputados. Certo é, que o Partido Social Democrata ficou aquém dos objectivos traçados e não conseguiu, ao contrário do PS, capitalizar o voto útil à sua direita. Apesar do aumento do número de votos expressos e a variação do número de deputados ser irrelevante, a verdade é que os resultados registam um fosso muito significativo de quase 14% de diferença para o PS.
Não se pode dizer que Rui Rio não tenha tentado deixar no ar a possibilidade de podermos assistir a uma inversão no rumo da governação ou pelo menos, pressionar o PS para uma negociação, desta vez ao centro. Basta-nos recordar as derivações de estratégia que António Costa se viu obrigado a fazer durante a campanha e mesmo após a revelação das projecções e dos primeiros resultados.
Só que ao contrário do PS, que não teve qualquer problema em "ferir" a sua esquerda - BE e PCP - e assim conquistar o voto útil, o PSD foi demasiado "fofinho" com a sua direita - IL e CDS - e sem uma marcação, muito bem definida e inequívoca, relativamente ao Chega.

·                AS SEGUNDAS VITÓRIAS

A Iniciativa Liberal conquistou de forma muito evidente, o espaço político do CDS, e minou com as dissidências de alguns "orfãos passistas" o próprio PSD. Ora estas, foram de facto, as duas grandes vitórias do Liberais: o aumento expressivo do número de votos e de mandatos, secando o pouco que restava do CDS, ao mesmo tempo que marcava uma posição na direita do PSD, transformando-se num hipotético parceiro para eventuais e futuros acordos com o PSD.

A outra, por razões mais negativas, foi a explosão do Chega como a terceira força política no Parlamento. Não que isso, por si só, tenha grande impacto, já que muito pouco condicionará a governação em maioria dos socialistas. Isso sim, pelo que esse facto representa. Primeiro, pelo crescimento do pragmatismo anti-democrático do racismo e da xenofobia entre outros atributos. Segundo, porque esta subida do Chega tem uma causa endógena. Ela resulta como um voto de protesto dos eleitores, concretamente dos saudosistas e por isso abstencionistas que não se revêm neste sistema politico, que se sentem abandonados ou traídos pelos políticos e pelos Partidos do regime, e que vão atrás dos populismos e da ilusão. Por último, a ostracização constante, nomeadamente vinda da esquerda - PS, BE e PCP -, não pelo valor da argumentação obviamente, mas pelo exagero na referência constante ao Chega, dando-lhe palco e mediatismos desnecessários a André Ventura, sabendo-se que em política, a vitimização por norma dá os seus frutos de forma inversa ao desejado. E de tão repetida a máxima do "não passarão", acabaram mesmo por passar, de tal forma que chegaram - com os seus extremismos, fanatismos e populismos, sejam eles cívicos ou religiosos - a terceira força representada na Assembleia da República, infelizmente para a democracia, para os valores do humanismo, da República e das mais elementares regras dos direitos humanos.

·                 AS GRANDES DERROTAS

O CDS foi manifestamente o maior derrotado. Não propriamente pelo impacto no panorama geral das eleições, mas pelo impacto que o seu resultado teve na sobrevivência do Partido e na própria democracia. Ao fim de quase 50 anos, sendo um dos fundadores da democracia, acabou em descalabro total e em permanente conflitualidade interna - desde 2015 – que nem as sucessivas eleições conseguiram apagar. Não se sabendo se o fecho definitivo de portas poderá vir a ocorrer -esperando-se bem que não - certa é porém, uma enorme travessia no deserto perante a actual e próxima conjuntura política nacional, nomeadamente com a tomada de assalto do espaço político do CDS por parte da Iniciativa Liberal e do Chega.

Quer tudo isto dizer, que toda a direita democrática falhou!... Desde o PSD ao moribundo CDS, as derrotas ficaram mais pesadas pelo falhanço colectivo de não terem conseguido alcançar o grande objectivo que era o de relegar os socialistas para segundo plano, como dar trunfos a liberais e cheganos. Uma falha que não só permitiu ao PS assegurar sozinho a maioria que o segura nos próximos 4 anos, como ainda permitir que pintasse totalmente o país de cor-de-rosa, e manter um Parlamento maioritariamente de esquerda, que PS, PCP, BE, Livre e PAN asseguram.

BE e PCP são os restantes derrotados!... Não impediram, algum crescimento da direita; não impediram a maioria do PS; deixaram de ser a pressão e mediação política sobre o Governo e o PS; e somados tiveram uma perda de 20 deputados, caindo para níveis de representatividade muito baixos - 5 e 6 deputados, respectivamente. Para além disso, contribuíram igualmente para a subida do Chega, com o discurso feito nos moldes já referidos. Feitas as contas, depois do desaire eleitoral nas autárquicas de 26 de Setembro de 2021, Bloquistas e Comunistas não perceberam - e tentaram sempre inverter o ónus da culpabilidade - que a maioria dos portugueses, mesmo os da direita e nomeadamente os dos seus próprios eleitorados e militâncias, não aceitaram as justificações e os argumentos para o chumbo do Orçamento do estado que resultou no fim da geringonça e na consequente crise política.

·                 OS MODERADAMENTE FELIZES...

Para o PAN e para o Livre, em contextos diferentes - um pelo alívio de não ter desaparecido do Parlamento e o outro por regressar à representividade parlamentar - por mais retórica que queiram usar, os próximos quatro anos serão penosos no caminho político e mediático que têm de percorrer para as suas sobrevivências políticas. A maioria conquistada pelo PS, irá mesmo com as promessas dialogantes de António Costa, minimizar o papel da Oposição, com particular impacto nos pequenos Partidos, principalmente se por força do regimento da Assembleia da República, nem Grupo Parlamentar constituem. E sendo assim, estão desde logo limitados na exposição, na capacidade de intervenção e de posicionamento. Só com um enorme milagre estratégico, ou se algo de extraordinário acontecer durante a legislatura, PAN e Livre se livrarão da sua irrelevância política - em termos de expressão de voto e de representatividade parlamentar, entenda-se.

Para finalizar: quem respirou apesar de tudo de alívio, foi Marcelo Rebelo de Sousa, ao livrar-se de um sério berbicacho para empossar um novo Governo. A grande verdade, é que esta maioria lhe tira o peso e o pesadelo da necessidade e do trabalho árduo para encontrar um consenso que seria obrigatório para a formação do futuro Governo.

A tarefa está agora facilitada e o fantasma afastado de Belém, salvaguardando ainda, que os resultados trazem a estabilidade política que sempre afirmou desejar para o país.

Daqui a quatro anos, haverá mais... do mesmo ou não.

01 fevereiro, 2022

O "ADEUS DO VELHO CDS"...

 

Foi criado em 1975 sob a batuta de Diogo Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa, reclamou-se da democracia cristã, e sendo embora um Partido da direita parlamentar e aspirasse a congregar à sua volta todas as forças de direita democrática, foi sempre olhado com desconfiança pelos Partidos da esquerda e da extrema-esquerda, que nele viam uma manifestação de saudosismo do regime salazarista. O seu primeiro Congresso, em janeiro de 1975, no Porto, num momento de ascensão das forças de esquerda e nomeadamente da extrema-esquerda, deu azo a incidentes de alguma gravidade. No entanto, embora contando nas suas fileiras com figuras importantes herdadas do salazarismo, entre os quais o ex.Ministro Adriano Moreira, moveu-se sempre dentro das normas do regime da democracia representativa, obtendo variável representação parlamentar e participando em Governos de coligação, ora com o PPD/PSD, ora com o PS. Depois de reduzido a fraca representação parlamentar durante alguns anos, obteve considerável melhoria de resultados nas eleições de 1995, mercê sobretudo de um discurso populista, nacionalista e anti-europa protagonizado pelo seu líder de então Manuel Monteiro. Como figura mais significativa, saliência para o professor Diogo Freitas do Amaral, conceituado Jurista e distinto Parlamentar, Ministro, candidato derrotado à Presidência da República numa luta travada taco-a-taco com Mário Soares, e Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Em 1998, após conflitos com a direcção de Manuel Monteiro, Paulo Portas viria a ser eleito Presidente do Partido e dá-lhe nova designação – o de CDS/PP.

Porém, com a sua passagem pelo Governo de Pedro Passos Coelho, viria a ser substituído por Assunção Cristas. E é precisamente a partir daqui, que se inicia o descalabro ao deixá-lo de pantanas.

Segue-se-lhe Francisco Rodrigues dos Santos, um “rapaz” que nunca agradou às comentadeiras de direita e centro direita. Um “rapaz”, que nunca foi o “Francisco”, mas sempre “o Chicão” e isso diz bem do desgosto das viúvas e viúvos do “pórtismo” internamente, e do respeitinho pela “voz do dono” externamente. Depois, para piorar os acontecimentos afastou tudo quanto era herdeiro do “pórtismo” da direcção e das listas do CDS. Um pecado mortal que lhe viria a sair muito caro.

Com o à vontade de quem não conhece o “moço” e de não comungar dos seus ideais, ainda assim nunca consegui perceber a sanha contra o líder eleito. E nunca percebi, sobretudo porque nunca vi discutir as ideias mas sim a pessoa. Maior espanto, quando todos esses ataques pessoais, foram invariavelmente acompanhados por pequenos elogios ao seu principal opositor interno, o eurodeputado Nuno Melo.

A verdade porém é outra: e essa verdade passa pelo célebre Congresso de Braga em 1998,   quando o Partido foi tomado por um grupo que passou rapidamente, de facção a poder e de minoritário a maioritário liderado por Paulo Portas, que ao longo dos anos, teve a argúcia de saber alimentar as diferentes clientelas - Paulo Portas punha e dispunha livremente. Só que não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe!...O criador concluiu que a “criatura” já não servia os seus interesses e partiu para parte incerta - ou dito de outra forma, transformou-se em “consultor” e foi ganhar dinheiro a sério. Os seus apaniguados foram ficando com os despojos e de derrota em derrota perderam o Partido para o agora ainda Chefe. E não havendo lugares nem palco, toca a infernizar a vida ao novo líder. O resultado, porventura também com a ajuda dos fascistas do Chega e dos Liberais, foi o que se viu – uma “mão cheia de nada”, salvo como é óbvio, cumprir o desejo do criador - “sem mim, a desgraça” - uma pena. Dirão alguns que o Adolfo Mesquita Nunes era um excelente quadro. Era!... Só que estava no Partido errado e estava de saída desde que Portas partiu. O seu ADN nunca foi o “CDS”. A partir daqui e sendo o eleitorado CDS tão católico, pode ser que ocorra um milagre e o Partido possa ressuscitar. Confesso que ficaria satisfeito – mais que não fosse, em nome da memória do seu fundador. Nunca gostei de gente que “as faz pela calada” e a calada, sempre foi a arte desta gente que hoje espuma contra a direita democrática onde se inclui CDS.

Crónica na Revista "A Barrosana" de Fevereiro

LEGISLATIVAS 2022 - A REALIDADE TAL COMO ELA É

 


A surpreendente - absolutamente inesperada - maioria absoluta do PS nas eleições de 30 de Janeiro último, são a prova de como as narrativas em política, como em muitos outros aspectos da vida, podem ganhar vida própria, com a criatura a sobrepor-se ao criador.

A estratégica de António Costa resultou em pleno!... Nem tudo correu como era suposto, mas também não fugiu muito disso. Apenas pareceu que fugira, em determinados momentos, especialmente quando o PSD reagiu a antecipar os seu calendário interno e Rui Rio pareceu ganhar um novo fôlego e sugerir uma dinâmica de vitória. 

A maioria social de esquerda é estrutural na sociedade portuguesa e não é fácil de alterar. Por isso Costa sabia que só tinha de ir "roubar votos" à sua esquerda, para o que lhe bastaria explorar a narrativa criada sobre o chumbo do orçamento, contando para isso com toda a máquina do Partido.

Este era o guião, o resto teria de ser ajustado durante o percurso. Costa começou então por fazer a apologia da "maioria absoluta", expressão proíbida, para pouco depois a tornar na palavra chave. A coisa pareceu não correr bem e sendo assim logo introduziu o "diálogo" como palavra chave. Diálogo com todos, excepto com aquele que era óbvio. Com tantos ziguezagues, a coisa começou a descambar para o pior, mas a chegada do empate técnico às sondagens resolveu o problema. 

Diz-se que as sondagens falham. Claro que não falham e se falharem é por pouco - exemplifique-se o caso do Chega. As sondagens são pelo contrário a fotografia de cada momento, e no momento de depositar o seu voto, muitos eleitores de esquerda, perante o espectro do empate técnico, que poderia abrir perspectivas da reedição da fórmula parlamentar da geringonça, inviável por tanta diabolização, ou abria um horizonte à direita, com a possibilidade da participação do Chega como protagonista, entenderam votar pelo seguro - o voto útil no PS, que assim arrecadou cerca de mais mais 380 mil votos, 350 mil dos quais perdidos pela CDU e pelo Bloco. O PAN perdeu ainda 85 mil votos, bem mais que os 30 mil que compõem os ganhos dos socialistas que sobraram da conquista à esquerda.

Quanto à abstenção, caiu significativamente e saúda-se. Parece ter sido a direita que mais ganhou com a redução da abstenção, o que também não surpreende. Na realidade nada é mais surpreendente que a maioria absoluta, dada como uma impossibilidade para qualquer Partido isolado por todos os analistas, e apenas explicada pela dinâmica do voto útil.

Agora, poder-se-à pensar que tudo mudou no xadrez político nacional!... Não terá sido bem assim, e provavelmente só a morte política do CDS, de resto sobejamente anunciada e sem exagero tem contornos decisivos. O Chega, preocupantemente como terceiro Partido só pelo desgaste deixará de constituir o epifenómeno que efectivamente conseguiu. Da Iniciativa Liberal com os quadros que já tem e com os que irá buscar às cinzas do CDS - se Nuno Melo deixar, não se sabe o que de lá virá, mas muito se espera também de um PSD renovado, que continuará à espera de um Messias para continuar a crescer e arrebanhar os votos que lhe fugiram para a sua direita.

A esquerda do PS tinha o destino destas eleições traçado!... Só que foi mais cruel do que o que esperaria. O Bloco foi o grande derrotado destas eleições, mas sabe-se que foi derrotado pelo voto útil. E o voto útil são votos emprestados, são resgatáveis. Mas é preciso fazer por isso, e esse é o desafio que o Bloco tem agora entre mãos. O PC é menos vulnerável ao voto útil, e não terá sequer essa miragem de resgate, pelo que terá de se enquadrar esta derrota no cenário de perda constante de eleitorado. Para já ficou sem o PEV, o tal Partido que nunca teve vida própria. E se nunca a teve, não virá agora a tê-la, certamente. 

O PAN e o Livre são agora os dois Partidos de um deputado apenas. O PAN perdeu mais deputados ainda que votos, mas sem surpresa. O que trouxe de novidade, não conseguiu segurar. Não tem substância para mais. E o Livre é apenas Rui Tavares. E esse merece sem dúvida ser deputado.


Por fim, o Presidente da República!... E neste caso, ou António Costa possuiu-o com alguma mezinha - "recomendada quem sabe, pelo Padre Fontes quando se encontraram", ou o mais alto magistrado da Nação não tem a mínima noção do que anda a fazer. Marcelo está hoje na mesma posição em que Mário Soares se encontrava há mais de trinta anos, quando dissolveu a Assembleia da República e originou a primeira maioria absoluta de Cavaco Silva. Se não era essa a sua intenção, consegui-o. Se queria espetar a faca em Costa e dar a mão ao PSD, tramou-se. Agora está refém dele, e pode acabar o mandato da mesma maneira como acabou Cavaco Silva. A engolir sapos.