25 julho, 2009

COMO DESFAZER O IMBRÓGLIO?!...

A dois meses das eleições legislativas, não tenho grandes dúvidas quanto ao respectivo vencedor!... Mas... se aqui a previsibilidade é fácil de justificar, existe uma outra incógnita cuja importância não é pequena: Como governará o PS, partindo do pressuposto que não alcançará a maioria absoluta?...

Já se sabe, que no período que antecede as eleições, Sócrates evitará uma resposta clara a esta questão. Qualquer clarificação conduzirá à perda de votos.

Isto é: Se previamente apostar na complacência da direita, perderá para a esquerda; se inversamente disser, que apostará na benevolência da esquerda, perderá o centro. O melhor, pois, será sempre dizer que governará sozinho - acenando deste modo para a maioria absoluta, ainda que sabendo que as hipóteses são quase nulas - e deixando a questão dos acordos para depois das eleições.


Isto poderia parecer uma repetição do que fez Cavaco em 1985, ou Guterres em 1995 e que lhes permitiu governar, sem dificuldades de maior.
Só que... Sócrates tem uma história diferente. E essa história não lhe é favorável.
Se Cavaco representava uma viragem em relação ao marasmo do "bloco central" -e na verdade contrariava o "centrão" dos interesses- e se, 10 anos depois, Guterres representava a alternativa ao autismo e mesmo arrogância em que o Governo de Cavaco Silva tinha caído, após 10 anos de serviço, o que representa Sócrates em 2009?
Nada disto! Ele vem desgastado pelo seu estilo, pela crise e por uma maioria absoluta, que contra ventos e marés, impôs a suas regras, sacrificando mesmo altas figuras do Partido e símbolos da democracia. Ora sendo assim, dele ninguém espera nada, senão mais do mesmo. Desse ponto de vista, honra seja feita ao primeiro-ministro, não engana ninguém.


Mas… de uma coisa, poderá ter a certeza: A sua tarefa, será muito mais dificultada no caso de ter de negociar avulso no Parlamento. Quererá Portas dar-lhe a mão?... A troco do quê?... Da Adminiatração Interna?... Da Agricultura?... E nesse caso, o que dirá Louçã?... E o que dirá Jerónimo?... E se for Louçã, o que pedirá o Bloco em troca?... Ou o PCP?... A não ser assim, como decorrerão os grandes momentos parlamentares, a começar pela aprovação do programa do Governo e pela discussão do Orçamento do Estado, logo nos dois primeiros meses da nova legislatura.


Mais: A Sócrates faltar-lhe-á um "estado de graça" - ele que teve um dos maiores de que há memória depois de ter ganho a maioria absoluta em 2005 -, e não lhe será dado sequer o benefício da dúvida que Manuela Ferreira Leite poderia teoricamente reivindicar, caso vencesse as eleições. Neste caso – que me parece pouco provável - , a acontecer, a líder do PSD tem aliás, o problema da clarificação já resolvido!... Se ganhar, alia-se ao CDS. E está dito!
Quanto a Sócrates, aconselha a prudência que se cale, mas a prudência também tem os seus custos.
Que farão os eleitores de centro não sabendo para onde irá o PS em Outubro?...

09 julho, 2009

POLITICA DE VERDADE

Finalmente e bem, o PS e José Sócrates resolveram estabelecer a regra de que quem se candidata pelas listas do partido às eleições autárquicas não pode candidatar-se como deputado à Assembleia da República.
Esta é a meu ver, uma decisão justíssima, que, mais que não seja, vem repôr o devido respeito pelo voto dos cidadãos.

A este propósito, recordemos os casos de Elisa Ferreira e de Ana Gomes, candidatas respectivamente às câmaras do Porto e de Sintra!... Todo o eleitor que vota nestas distintas figuras, e tendo presente que não sejam eleitas, tem o direito de se questionar e perguntar, para que serviu afinal o seu voto, sabendo-se de antemão, que as mesmas não ganhando os respectivos municipios, depressa rumarão a Bruxelas. Dir-me-ão: O voto serve para o que vem a seguir na lista!... Mas será mesmo assim?... Será que os eleitores, votariam na mesma lista, no caso do "cabeça de cartaz" ser "o que a seguir na lista"?... Obviamente que podendo aplicar-se tal principio a uns, de certeza que não se aplicará, nem se aplica a outros... Mais: E tanto assim é - e vai ser -, que estas duas senhoras, a não mudarem de postura, ao não abdicarem de Bruxelas, ou de candidatas às câmaras a que se propõem, irão sofrer copiosa derrota. Disso, não tenho a menor dúvida... É que a democracia portuguesa, está madura, e o povo não perdoa tais comportamentos...

Mas para mim, o que a coisa trouxe também de significativo, foi a reacção também imediata de duas actuais deputadas, candidatas à presidência de autarquias - Leonor Coutinho e Sónia Sanfona - que se sentiram atraiçoadas por esta mudança "de regras a meio do jogo" no dizer desta última.
Esta concepção do "jogo" que para muita gente é a política, esta falta de autenticidade de não saber estar nos cargos públicos, é responsável pela degradação da imagem dos políticos, pela perpetuação da ideia do "tacho" tão cara - mas também tão razoável e certeira - ao povo. Também aqui, estamos perante mais um triste exemplo...

A cada passo se percebe, que são demasiados os políticos no activo que, por atitudes mais do que palavras, não estão na vida pública por vocação ou por sentido de missão. Estão na política para fazer pela vida!... Isso explica o desencanto de Coutinho e Sanfona (as que tiveram a lata de o verbalizarem, não sendo seguramente as únicas desiludidas).
Por isso a introdução da ideia da verdade como valor essencial na política, para além de outras dimensões, é bem vinda também nesta. E se passar a ser princípio, ver-se-á que a breve trecho a tão reclamada melhoria da qualidade da democracia ocorrerá, se não por outro efeito, pelo facto de desaparecerem um sem número de crónicos dependentes do orçamento do Estado.

03 julho, 2009

É PRECISO LIMPAR A PODRIDÃO...

No triste episódio "dos cornos", que em nada dignificou o último debate na Assembleia da República, assim como noutros episódios, que ocorreram neste final de semana, apenas um dos "actores", directa ou indirectamente ligado a tais episódios, saíu incólume!... E saíu incólume, porque reagiu com eficácia... Demitiu o Ministro Manuel Pinho e pediu desculpa ao "país". José Sócrates, ficou bem na fotografia, e a sua atitude foi nobre, isto pese embora se reconheça, que não podia agir de forma diferente.

Mas, o estado da nação, para além de ter ficado bem ilustrado pelo inqualificável episódio de ontem, envolvendo o agora ex.ministro Manuel Pinho, fica também marcado, pelo grotesco espectáculo de hoje das eleições no Benfica, em total desrespeito, aliás pré-anunciado, de uma sentença do Tribunal Cível de Lisboa.

De uma assentada, três órgãos de soberania - GOVERNO, ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA e TRIBUNAIS, sofrem vexame público e notório.

Ontem, Manuel Pinho, Ministro, perante o Governo e a Assembleia da República, demonstrou a consideração que lhe merecem os seus colegas ministros, o órgão de que fazia parte, os deputados perante os quais responde e o próprio Parlamento.

Hoje, depois de o Tribunal Cível de Lisboa ter suspendido uma das listas concorrentes às eleições do Benfica, tudo se passa como se nada tivesse acontecido. Pior, foi pré-anunciado, que a sentença do Tribunal não seria acatada...

E que fazem os órgãos de soberania, Governo e Tribunal?...
Mandam a Polícia encerrar o acto, por desobediência pública?... Nada!... Ligadas directa ou indirectamente à lista suspensa estão governantes, deputados - até o exemplar democrata Manuel Alegre - e ex-deputados, autarcas, gestores e ex-gestores de empresas públicas, comentadores, pessoas com opinião semanal nas rádios e televisões, apresentadas regularmente como elites deste país.

Afinal, onde pára a moralidade apregoada?...
Qual a posição pública desta gente perante a desobediência face ao Tribunal?... Nenhuma!...

Ser eleito ou promover-se, mesmo violando grosseiramente a lei, faz parte dos seus objectivos pessoais. Perante a indiferença dos poderes públicos e o apoio à rebelião das figuras gradas, como ficar espantado que muitos sócios digam nas televisões que quem manda no Benfica são eles e que o Tribunal não tem que se meter?...

Estes dois episódios, mostram o apodrecimento e evidenciam como a moléstia se vai rapidamente propagando, mas também explicam onde está a podridão. Lançar fora os produtos podres é elementar regra de higiene.