31 março, 2009

DEMOCRACIA SOCIAL E CORRUPÇÃO

Em Portugal, a degradação e a corrupção a que chegou o sistema político desta III República, o seu bloqueamento e a manifesta incapacidade de se auto reformar, leva qualquer cidadão a admitir, a desejar, uma profunda mudança não necessariamente do regime constitucional em que vivemos mas do “sistema” político corrupto institucional erguido pela nossa classe politica ao longo dos últimos anos.

Os partidos transformaram-se em máquinas eleitorais, em partidos de notáveis, de uma nova aristocracia sufragada pelas televisões e sondagens. Neles preside uma lógica aparelhistica, oligárquica de perpetuação política da elite que dirige o partido e o representa no Parlamento. Os partidos esvaziaram-se ideologicamente e assim deixaram de representar os interesses dos cidadãos para passarem a representar somente os interesses das suas clientelas partidárias. A profissionalização dos políticos, a mediocridade no seu recrutamento, a corrupção e o tráfico de influências são a realidade dos dias de hoje. Temos um Estado de partidos, redutor e totalitário quanto à representação dos interesses plurais da sociedade. Temos uma Democracia usurpada por estas elites, com responsabilidades de tomar decisões em nome do Povo, e que o atraiçoam logo que alcançam o poder ao romperem com todas as promessas eleitorais sem que daí advenha a revogação dos seus mandatos.

O falhanço do neoliberalismo económico, do capitalismo selvagem, do mercado sem regras nem controlo, do mercado que se rege por si próprio, do menos Estado, do cidadão considerado não como um ser multifacetado, de múltiplas necessidades, éticas, culturais, sociais, mas tão só como simples consumidor. Princípios onde conceitos como a solidariedade, fraternidade, abnegação, tolerância, benevolência, são considerados nefastos, caducos, perturbadores e prejudiciais ao funcionamento normal da sociedade, o mesmo é dizer ao funcionamento normal do mercado. Para os neoliberais, o Homem é apenas corpo, não é alma, é consumidor e isso basta.

Surpresos com a crise económica, com a crise do neoliberalismo que irrompeu no mundo, sem compreenderem os seus fundamentos, os líderes europeus, a elite oligárquica europeia e americana, ensaiam múltiplas iniciativas económicas na esperança de que alguma resulte, na esperança de que tudo retome ao “normal funcionamento” anterior.
Naturalmente que todas estas iniciativas podem atrasar momentaneamente um percurso mas, no fundo, o que se deseja, é manter a mesma lógica económica, o que se pretende é a perpetuação das politicas neoliberais. E, como resultado, a mais curto ou médio prazo, um contínuo decréscimo do crescimento económico e um agravamento das desigualdades sociais com nova e mais profunda crise.

Só uma nova doutrina, uma nova filosofia, poderá inverter o rumo deste desenvolvimento capitalista neoliberal. Uma nova ideologia – a Democracia Social – que encerre em si, que incorpore, o princípio da unidade dialética entre o ser individual e o ser social, tendo como expressão a democracia política, com a vontade política dos cidadãos expressa em eleições democráticas e que assegure uma empenhada, permanente e continuada participação do cidadão na vida pública, em que o acto eleitoral seja o corolário de uma participação activa, diária, continuada do cidadão na gestão política da sociedade. Os eleitos são cidadãos temporariamente representantes, delegados das populações e a cada momento intérpretes das suas vontades. Uma nova forma de organização social que assegure o controlo social permanente sobre o Estado e as empresas.Uma nova forma de organização social, tendo como um dos seus objectivos a valorização da democracia participativa.

A democracia não é apenas uma forma de governo, uma modalidade de Estado, um regime político, uma forma de vida. É um direito da Humanidade (dos povos e dos cidadãos). Não há democracia sem participação, sem povo. O regime será tanto mais democrático quanto tenha desobstruído canais, obstáculos, óbices, à livre e directa manifestação da vontade do cidadão.

22 março, 2009

CONTRASTES DA VERGONHA


IDOSOS COM VIDA DIFÍCIL
São já vários os idosos portugueses, que estão a abdicar dos medicamentos receitados pelos médicos devido à falta de dinheiro.
LUCROS MONSTRUOSOS
A EDP registou um lucro líquido de 1092 milhões de euros em 2008, uma subida de 20 por cento face a 2007. Este resultado, cerca de três milhões de euros de lucro por dia, representa o maior montante algumas vez apresentado em Bolsa por uma empresa cotada. Os preços da energia praticados em Portugal para os consumidores particulares são 25,4 por cento mais caros do que os praticados na vizinha Espanha. Também ao nível do mercado empresarial, os grandes consumidores de electricidade (entre os 70 e os 150 mil MWh) têm, em Portugal, preços 6,5 por cento mais caros do que os praticados em Espanha.
Os lucros da Galp Energia aumentaram 14,2% para 478 milhões de euros, em 2008, um valor que superou as previsões dos analistas. A melhoria dos resultados da petrolífera portuguesa foi possível devido ao desempenho do negócio de refinação e distribuição.
Comentários para quê!... E depois falam em crise. Mas crise para quem?...

09 março, 2009

BOLA DE NEVE, DÍVIDAS E DEMOCRACIAS...

Nos últimos vinte anos, o Ocidente viveu uma orgia de crédito. Empresas e famílias endividaram-se até à exaustão, e com isso mantiveram altíssimos níveis de consumo. E o que compravam?... Além de casas e respectivas mobílias, compravam também carros, televisões, electrodomésticos, viagens, férias, entre outras coisas mais.
E a quem compravam esses produtos? A países emergentes, que vão desde o Sudoeste Asiático até à América Latina, passando pela Europa de Leste.
Foi portanto a orgia de crédito do Ocidente que permitiu que muitos países de outras regiões exportassem muito mais, e portanto, que milhões de pessoas nessas regiões, saíssem da pobreza. Além disso, muitos desses países, nos últimos 20 anos, deram passos largos no sentido da democracia. Embora a China e a Rússia sejam excepções importantes, pode dizer-se, que há uma relação forte e directa entre o endividamento ocidental e a democracia noutros locais do mundo. E há certamente uma relação directa entre o endividamento ocidental e a saída da pobreza de milhões de pessoas, e aqui se incluem chineses e russos.
Enquanto o Ocidente vivia o seu período de turbocapitalismo, ‘alavancado’ pela dívida e pelo crédito, partes importantes do resto do mundo saíam da miséria.
Na Polónia, na Hungria, na Bolívia, no Brasil, na Indonésia, na Malásia, na China, na Ucrânia, na Índia ou na Rússia, milhões elevavam-se a uma classe média com mais capacidades económicas. Quantos mais gadgets, carros e televisões plasma o Ocidente comprasse, mais milhões de pessoas melhoravam a sua vida.

Contudo, um dia a orgia chegou ao fim, e a "bola de neve" tende a desmoronar-se. Estamos todos a viver uma aterragem forçada, agarrados aos cintos de segurança e com os sacos de oxigénio na cara. O turbocapitalismo estoirou e os bancos fecharam a torneira do crédito. No Ocidente, vive-se uma retracção forte, mas talvez saudável, para níveis de consumo menos obscenos e exagerados.
Só que a paragem do exagero a Ocidente vai levar a uma retracção igualmente forte no resto do mundo. Se exportarem muito menos, os países do Sudeste Asiático, da Europa de Leste e da América Latina vão sofrer fortemente, e milhões de pessoas podem voltar a recuar para a pobreza.A China, está já na pole position…
A grande incógnita é esta: será que as democracias jovens desses países vão resistir? Quem, na Europa de Leste, na América Latina, no Sudoeste Asiático, vai aguentar o regresso à abjecta miséria do passado sem revolta? Menos dívida a Ocidente é certamente mais pobreza no mundo. Será também menos democracia?...