Pedro
Passos Coelho, eleito recentemente Presidente do PSD por mais dois
anos - talvez imbuído pelo ideário do novo Presidente da República,
ao afirmar em campanha situar-se politicamente à “esquerda da
direita” com os resultados que se conhecem - apresentou-se às
directas do Partido com o slogan “social-democracia sempre”,
quando em boa verdade tal desiderato é “alcatifa” que desde há
muito tempo deixou de pisar .
Quem
anda nestas coisas da politica ou se interessa minimamente pela
Ciência que a envolve, para além de saber que assim tem sido
durante o seu reinado, sabe também que a social-democracia foi desde
sempre uma ideologia política de centro-esquerda, e que o seu grande
inspirador foi Karl Marx, esse "demónio" que hoje assombra
os "direitolas do partido" que o sendo, procuram fingir que
o não são. Escusado será portanto alguém vir com conversa fiada
prometendo “novos mundos ao mundo”, ou com teorias de uma ou mais
interpretações, desvalorizando até o pensamento de Francisco Sá
Carneiro de que “a politica sem ética é uma vergonha”, porque
isso é pura manipulação de conceitos.
Ainda
assim, a grande ilação a retirar destas directas que reelegeram
Pedro Passos Coelho, é que tiveram uma enorme virtude: rubricaram o
sêlo de garantia da governação da “geringonça” - como
depreciativamente alguns chamam ao Governo de António Costa, apoiado
no Parlamento pelos Partidos à sua esquerda - pelo menos para a
legislatura.
É
que perante este facto, nem o Bloco de Esquerda, nem o PCP ou os
Verdes, negarão o seu apoio ao Partido Socialista, tendo como
alternativa de Governo o PSD de Passos, ainda que só ou acompanhado
pela “estagiária” Cristas, que igualmente se prepara para
ascender ao trono do CDS. Quer isto dizer que o exemplo de 2011 não
se repetirá, e não será portanto pelo lado da política interna,
que a “alternativa pafiana” agora rebaptizada, chegará ao poder.
Ora
tendo em conta que o novo Presidente da República também não morre
de amores por Passos Coelho, restará a este para que os seus
designios se cumpram, a alternativa do golpe dos mercados - aumento
dos juros da dívida pública para valores insuportáveis, ou do
Eurogrupo. Só que também aqui as coisas não estarão do seu
lado!... Abrir uma crise política em Portugal a que Marcelo é
avesso, e no momento actual em que a Europa do euro se vê envolvida
com várias crises graves em simultâneo, designadamente a dos
refugiados e a da estagnação económica, não será por isso do
agrado do dito Eurogrupo por mais que lhe desagrade o Governo de
António Costa, contribuir para qualquer devaneio. Mas vamos até
admitir que por qualquer motivo a Comissão Europeia e o BCE, através
da subida dos juros da dívida, gerem uma crise política no país
que leve à dissolução do Parlamento e a novas eleições!...
Nestas condições, como poderá Passos Coelho estar seguro de uma
vitória com maioria parlamentar?!... O que é que o PSD ou o CDS têm
para oferecer aos portugueses para além de austeridade e do seu
agravamento, ou do discurso das “contas certas” - outra das
ficções propagandeadas por esta direita neo-liberal que durante os
quatro anos e meio da sua governação não acertou em qualquer dos
índices económicos e financeiros a que se comprometeu com
Bruxelas?!....
Por
outro lado, se é certo que o Governo de António Costa não acabou
com a austeridade, pelo menos fez o mais importante: travou-a, e os
portugueses estão agora seguros que o seu salário ou as suas
pensões e reformas não vão ser diminuídas a qualquer momento.
Ganharam alívio, e uma tranquilidade nas suas vidas que as recentes
sondagens
não desmentem, ao contrário do permanente desassossego em que
viveram durante o anterior Governo.
Resumindo
e concluindo: todos os factos referidos são pois inquestionáveis, e
sendo assim, é exactamente em função dos mesmos, que a “governação
pafiana” irá permanecer no “exílio” ainda por muito tempo. Um
futuro que lhe foi agora sentenciado por 95% dos votos dos militantes
do PSD que decidiram ir às urnas e reeleger Passos Coelho como seu
líder. Talvez os que ficaram em casa, apercebendo-se de que a mesma
água não passa duas vezes por baixo da mesma ponte, e de que o
“chefe” já não fáz parte da solução, tornando-se isso sim
numa espécie de nó górdio do problema, se preparem para a médio
prazo, darem “novos rumos ao mundo”. Definitivamente, Passos não
consegue assumir-se como adversário politico de Costa. E não
consegue, porque em política o que parece é, embora esta frase nem
sempre possa ser classificada como verdadeira. Ou dito de outro modo:
a verdade em política depende das circunstâncias.
2.
UM PRESIDENTE QUE SE FOI, E OUTRO QUE CHEGOU...
Anibal
Cavaco Silva terminou o seu mandato presidêncial, como tendo sido o
mais impopular Presidente da democracia portuguesa. Alguns milhões
de cidadãos ter-se-ão sentido aliviados depois de um longo tempo
presidencial marcado pelo sectarismo, pela arrogância e pela
insensibilidade social e mediocridade cívica. Outros nem tanto, e
não deixam de argumentar, que Cavaco agiu sempre em defesa do
interesse nacional. São ambas opiniões obviamente respeitáveis,
muito embora se possa questionar das razões pelas quais um político
a quem o país deu quatro maiorias absolutas, acaba com a
popularidade mais baixa comparativamente a qualquer outro Presidente
no final do seu mandato. E sendo assim, ou ele se enganou, ou foi o
eleitorado que se equivocou. A História, ponderadas as suas virtudes
e os seus defeitos, encarregar-se-à de lhe fazer a devida Justiça.
Há
situações porém, que analisadas ainda que à “vista desarmada”
deixam poucas dúvidas!... Ao longo dos seus dois mandatos, Cavaco
Silva nunca foi capaz de fazer um discurso cultural, nem soube
revelar preocupações com a pobreza ou com as desigualdades.
Ostracizou Salgueiro Maia, enquanto em sentido inverso distinguiu um
ex.agente da PIDE/DGS; faltou ao funeral de Saramago; disse que o BES
não corria riscos; condecorou todo o “bicho careto”, mas ignorou
figuras distintas da cultura do país e particularmente o “nosso”
padre Lourenço Fontes e os apêlos dos deputados transmontanos do PS
e PSD para a sua distinção. Apesar disso, nunca se cansou porém,
de dizer sobre tudo e mais alguma coisa, que já tinha avisado. Foi
uma pena que durante os cerca de dez anos no mais alto cargo da
nação, não tenha optado por ser o Presidente de todos os
portugueses e colocado de lado as suas questiúnculas pessoais e
politicas. Ao fazê-lo, não percebeu ou não quis perceber a sua
função de garante da unidade e da coesão nacional.
Em
jeito de “cereja no topo do bolo” e já a meio do seu segundo
mandato, não se inibiu de assistir passivamente à intervenção da
Tróika; não teve uma palavra de conforto para com as vítimas da
austeridade, preocupando-se apenas em fazer contas e verificar se a
sua reforma e a da Maria eram suficientes para cobrir as suas
despesas; não teve uma palavra para com os milhares de jovens que
foram obrigados a emigrar; e já na parte final, não hesitou mesmo
em “empunhar” a bandeira do seu Partido, fazendo tudo para não
empossar o actual Primeiro-Ministro.
Mas
como águas passadas não movem moinhos, agora temos Marcelo Rebelo
de Sousa!... Uma figura que tive o prazer de conhecer em 1989 na
Faculdade de Direito de Lisboa, e que por via de tal me permite desde
já afirmar, ser um homem que se revela em tudo, diferente de Cavaco.
Entra de mãos livres e com escassa dependência partidária, o que
lhe confere uma maior responsabilidade. Dele se espera que em Belém
saiba ouvir e seja capaz de refrear o estilo impulsivo que tanto o
caracteriza. O seu "percurso limpo" é uma mais valia e o
programa oficial que delineou para a tomada da posse aliado à
decisão de em conjunto com o Governo ter decidido dividir as
comemorações do Dia de Portugal e das Comunidades entre Lisboa e
Paris, onde se pretende encontrar com a comunidade portuguesa ali
radicada, auguram-lhe um bom inicio. Desprovido de preconceitos, irá
mostrar-nos com alguma clareza que ao longo do seu mandato
priviligiará o estilo dos afectos e de alguma proximidade,
principios sempre distantes do seu antecessor. Com todas as suas
vantagens e desvantagens, tal postura servirá no mínimo para logo
de inicio marcar as respectivas diferenças. Que seja feliz e tenha
muita sorte. Portugal precisa mesmo que tenha muita sorte, e se como
nos vem dizendo conseguir levar a coisa com afectos, já será muito
bom. Aguardemos para ver...