23 março, 2016

"POLITICA DO AVESSO"...

1. A “SOCIAL-DEMOCRACIA” DE PASSOS COELHO, É SÊLO DE GARANTIA DE ANTÓNIO COSTA!...

Pedro Passos Coelho, eleito recentemente Presidente do PSD por mais dois anos - talvez imbuído pelo ideário do novo Presidente da República, ao afirmar em campanha situar-se politicamente à “esquerda da direita” com os resultados que se conhecem - apresentou-se às directas do Partido com o slogan “social-democracia sempre”, quando em boa verdade tal desiderato é “alcatifa” que desde há muito tempo deixou de pisar .
Quem anda nestas coisas da politica ou se interessa minimamente pela Ciência que a envolve, para além de saber que assim tem sido durante o seu reinado, sabe também que a social-democracia foi desde sempre uma ideologia política de centro-esquerda, e que o seu grande inspirador foi Karl Marx, esse "demónio" que hoje assombra os "direitolas do partido" que o sendo, procuram fingir que o não são. Escusado será portanto alguém vir com conversa fiada prometendo “novos mundos ao mundo”, ou com teorias de uma ou mais interpretações, desvalorizando até o pensamento de Francisco Sá Carneiro de que “a politica sem ética é uma vergonha”, porque isso é pura manipulação de conceitos.
Ainda assim, a grande ilação a retirar destas directas que reelegeram Pedro Passos Coelho, é que tiveram uma enorme virtude: rubricaram o sêlo de garantia da governação da “geringonça” - como depreciativamente alguns chamam ao Governo de António Costa, apoiado no Parlamento pelos Partidos à sua esquerda - pelo menos para a legislatura.
É que perante este facto, nem o Bloco de Esquerda, nem o PCP ou os Verdes, negarão o seu apoio ao Partido Socialista, tendo como alternativa de Governo o PSD de Passos, ainda que só ou acompanhado pela “estagiária” Cristas, que igualmente se prepara para ascender ao trono do CDS. Quer isto dizer que o exemplo de 2011 não se repetirá, e não será portanto pelo lado da política interna, que a “alternativa pafiana” agora rebaptizada, chegará ao poder.
Ora tendo em conta que o novo Presidente da República também não morre de amores por Passos Coelho, restará a este para que os seus designios se cumpram, a alternativa do golpe dos mercados - aumento dos juros da dívida pública para valores insuportáveis, ou do Eurogrupo. Só que também aqui as coisas não estarão do seu lado!... Abrir uma crise política em Portugal a que Marcelo é avesso, e no momento actual em que a Europa do euro se vê envolvida com várias crises graves em simultâneo, designadamente a dos refugiados e a da estagnação económica, não será por isso do agrado do dito Eurogrupo por mais que lhe desagrade o Governo de António Costa, contribuir para qualquer devaneio. Mas vamos até admitir que por qualquer motivo a Comissão Europeia e o BCE, através da subida dos juros da dívida, gerem uma crise política no país que leve à dissolução do Parlamento e a novas eleições!... Nestas condições, como poderá Passos Coelho estar seguro de uma vitória com maioria parlamentar?!... O que é que o PSD ou o CDS têm para oferecer aos portugueses para além de austeridade e do seu agravamento, ou do discurso das “contas certas” - outra das ficções propagandeadas por esta direita neo-liberal que durante os quatro anos e meio da sua governação não acertou em qualquer dos índices económicos e financeiros a que se comprometeu com Bruxelas?!....
Por outro lado, se é certo que o Governo de António Costa não acabou com a austeridade, pelo menos fez o mais importante: travou-a, e os portugueses estão agora seguros que o seu salário ou as suas pensões e reformas não vão ser diminuídas a qualquer momento. Ganharam alívio, e uma tranquilidade nas suas vidas que as recentes
sondagens não desmentem, ao contrário do permanente desassossego em que viveram durante o anterior Governo.
Resumindo e concluindo: todos os factos referidos são pois inquestionáveis, e sendo assim, é exactamente em função dos mesmos, que a “governação pafiana” irá permanecer no “exílio” ainda por muito tempo. Um futuro que lhe foi agora sentenciado por 95% dos votos dos militantes do PSD que decidiram ir às urnas e reeleger Passos Coelho como seu líder. Talvez os que ficaram em casa, apercebendo-se de que a mesma água não passa duas vezes por baixo da mesma ponte, e de que o “chefe” já não fáz parte da solução, tornando-se isso sim numa espécie de nó górdio do problema, se preparem para a médio prazo, darem “novos rumos ao mundo”. Definitivamente, Passos não consegue assumir-se como adversário politico de Costa. E não consegue, porque em política o que parece é, embora esta frase nem sempre possa ser classificada como verdadeira. Ou dito de outro modo: a verdade em política depende das circunstâncias.

2. UM PRESIDENTE QUE SE FOI, E OUTRO QUE CHEGOU...
Anibal Cavaco Silva terminou o seu mandato presidêncial, como tendo sido o mais impopular Presidente da democracia portuguesa. Alguns milhões de cidadãos ter-se-ão sentido aliviados depois de um longo tempo presidencial marcado pelo sectarismo, pela arrogância e pela insensibilidade social e mediocridade cívica. Outros nem tanto, e não deixam de argumentar, que Cavaco agiu sempre em defesa do interesse nacional. São ambas opiniões obviamente respeitáveis, muito embora se possa questionar das razões pelas quais um político a quem o país deu quatro maiorias absolutas, acaba com a popularidade mais baixa comparativamente a qualquer outro Presidente no final do seu mandato. E sendo assim, ou ele se enganou, ou foi o eleitorado que se equivocou. A História, ponderadas as suas virtudes e os seus defeitos, encarregar-se-à de lhe fazer a devida Justiça.
Há situações porém, que analisadas ainda que à “vista desarmada” deixam poucas dúvidas!... Ao longo dos seus dois mandatos, Cavaco Silva nunca foi capaz de fazer um discurso cultural, nem soube revelar preocupações com a pobreza ou com as desigualdades. Ostracizou Salgueiro Maia, enquanto em sentido inverso distinguiu um ex.agente da PIDE/DGS; faltou ao funeral de Saramago; disse que o BES não corria riscos; condecorou todo o “bicho careto”, mas ignorou figuras distintas da cultura do país e particularmente o “nosso” padre Lourenço Fontes e os apêlos dos deputados transmontanos do PS e PSD para a sua distinção. Apesar disso, nunca se cansou porém, de dizer sobre tudo e mais alguma coisa, que já tinha avisado. Foi uma pena que durante os cerca de dez anos no mais alto cargo da nação, não tenha optado por ser o Presidente de todos os portugueses e colocado de lado as suas questiúnculas pessoais e politicas. Ao fazê-lo, não percebeu ou não quis perceber a sua função de garante da unidade e da coesão nacional.
Em jeito de “cereja no topo do bolo” e já a meio do seu segundo mandato, não se inibiu de assistir passivamente à intervenção da Tróika; não teve uma palavra de conforto para com as vítimas da austeridade, preocupando-se apenas em fazer contas e verificar se a sua reforma e a da Maria eram suficientes para cobrir as suas despesas; não teve uma palavra para com os milhares de jovens que foram obrigados a emigrar; e já na parte final, não hesitou mesmo em “empunhar” a bandeira do seu Partido, fazendo tudo para não empossar o actual Primeiro-Ministro.
Mas como águas passadas não movem moinhos, agora temos Marcelo Rebelo de Sousa!... Uma figura que tive o prazer de conhecer em 1989 na Faculdade de Direito de Lisboa, e que por via de tal me permite desde já afirmar, ser um homem que se revela em tudo, diferente de Cavaco. Entra de mãos livres e com escassa dependência partidária, o que lhe confere uma maior responsabilidade. Dele se espera que em Belém saiba ouvir e seja capaz de refrear o estilo impulsivo que tanto o caracteriza. O seu "percurso limpo" é uma mais valia e o programa oficial que delineou para a tomada da posse aliado à decisão de em conjunto com o Governo ter decidido dividir as comemorações do Dia de Portugal e das Comunidades entre Lisboa e Paris, onde se pretende encontrar com a comunidade portuguesa ali radicada, auguram-lhe um bom inicio. Desprovido de preconceitos, irá mostrar-nos com alguma clareza que ao longo do seu mandato priviligiará o estilo dos afectos e de alguma proximidade, principios sempre distantes do seu antecessor. Com todas as suas vantagens e desvantagens, tal postura servirá no mínimo para logo de inicio marcar as respectivas diferenças. Que seja feliz e tenha muita sorte. Portugal precisa mesmo que tenha muita sorte, e se como nos vem dizendo conseguir levar a coisa com afectos, já será muito bom. Aguardemos para ver...