Os juros da Divida Pública a 10 anos encontram-se hoje novamente acima dos 7% (7,09). Não se adivinha circunstância alguma no país que possa inverter o ciclo de subida destes juros nos mercados. Ao contrário, a tendência será seguramente para uma subida continuada. Aproxima-se assim, a hora do pedido de resgate ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF). Os aumentos de impostos, a redução de salários e o congelamento de pensões, irão contribuir além do mais, para uma acentuada recessão económica em 2011, já prognosticada aliás pela OCDE e pelo FMI e nunca para a recuperação económica desejada. O recurso, mais fácil mas ineficaz, de aumento de impostos a que o governo tem recorrido encontra-se esgotado e ultrapassou de há muito o “ponto de equilíbrio” acima do qual qualquer aumento da taxação em vez de provocar aumento de receitas provoca exactamente o contrário, isto é, uma redução de receitas.
Posto isto, temos Portugal aparentemente pronto para um humilhante resgate da UE e do FMI e as conversações sobre a ampliação do fundo de estabilidade, crescem as tensões na eurozona. A culpa recai nas divergências entre os líderes europeus e o grande problema de comunicação na Europa.
Tivemos à dias conhecimento de um episódio interessante: Quando Angela Merkel se encontrava imersa em conversações sobre a crise do euro, o telefone tocou na reluzente chancelaria de Berlim. Do outro lado da linha, estava o primeiro ministro português José Sócrates, que desde Lisboa, suplicava por ajuda. Segundo os prognósticos, Portugal será o terceiro país a cair com o peso da sua dívida soberana, pelo que necessitará de um resgate liderado pelos alemães. Sócrates parecia desesperado e submisso, segundo testemunhas.
Perguntou a Merkel o que deveria fazer, prometeu fazer o que quer que fosse, com excepção de uma coisa: não pediria um resgate com condições extremamente duras. Segundo as versões que circulam em Berlim, Merkel manteve Sócrates em espera, enquanto pedia opinião aos seus poderosos visitantes: Dominique Strauss-Kahn, o director francês do FMI e Giulio Tremonti, o respeitado ministro dos negócios estrangeiros italiano que esteve recentemente pressionando pela introdução dos “eurobonds”. Ante as interrogações de Sócrates, Strauss-Kahn, o chefe do FMI que fala alemão, mostrou-se indiferente. A súplica do português não tinha sentido, afirmou, porque Sócrates não seguiria nenhum conselho que se lhe desse.
Esta situação que se produziu a semana passada em Berlim, mostra o que um alto funcionário alemão descreve como “o grande problema de comunicação da Europa”. No meio de uma das piores crises da UE de todos os tempos, o nível de confiança entre os principais líderes políticos e os responsáveis pelas decisões é tão baixo, que complica enormemente a procura de uma solução ante o desafio existencial do euro.
Os fundamentos económicos na eurozona tomam direcções opostas: a Alemanha e o norte da Europa saem reforçadas da recessão, enquanto o sul da Europa está imerso num círculo vicioso de dívida e deflação. Esta situação e os problemas da dívida soberana de meia dúzia de países colocam em risco o euro. Contudo os perigos agravam-se com as fricções entre os líderes políticos encarregados de resolver a crise. No mesmo dia em que Berlim fez caso omisso de Sócrates, José Manuel Durão Barroso, o presidente da Comissão, anunciou em Bruxelas que o fundo de resgate do euro deveria reforçar-se. Publicamente Merkel e o seu ministro de Finanças Wolfgang Schauble, qualificaram a intervenção de Barroso de desnecessária. Em privado, o gabinete da chancelaria disse a Barroso que se calasse, que os 440.000 milhões de euros garantidos pelos governos da eurozona não eram da sua incumbência, já que não era dinheiro da Comissão.