19 janeiro, 2009


O sítio está a viver momentos únicos, inimagináveis há bem pouco tempo. Não, não se trata da crise económica e financeira que abala a vida de milhares de famílias e de empresas. Não, não são os dramas silenciosos de milhares de indígenas que, de um momento para o outro, ficaram mais pobres. Não, não são as tragédias que afectam pessoas que nunca souberam o que era a pobreza e que hoje correm, envergonhadas, para as sopas distribuídas por diversas organizações nas noites das grandes cidades. Não, não são famílias inteiras que almoçam e jantam em restaurantes sociais em boa hora criados por algumas câmaras municipais.

No meio de tanto drama escondido, o que é fantástico neste sítio manhoso, hipócrita, pobre, pequenino e cada vez mais mal frequentado é a impunidade dos mentirosos, a desfaçatez e o descaramento de quem anda a tentar enganar os indígenas sobre o presente e principalmente sobre o futuro.
E neste filme miserável ninguém sai limpo. Em Outubro do ano passado, o Governo do senhor presidente do Conselho entregou na Assembleia da República um Orçamento de ficção, mentiroso e cor-de-rosa. Dois meses depois, já com o sítio a caminho da recessão, com o desemprego a aumentar e a pobreza a disparar, a maioria aprovou o documento, com os votos contra dos restantes deputados que, desta maneira, deram aval a uma das maiores mentiras da Democracia.No final de Dezembro, o próprio Presidente da República, apesar de ter pedido uns misteriosos esclarecimentos ao Governo, promulgou a mentira.

E, agora, os mesmos mentirosos vêm apresentar um Orçamento dito suplementar ou rectificativo com mais mentiras. Para o senhor ministro das Finanças o sítio vai ter um crescimento negativo de 0,8, o desemprego será de 8,5 por cento e o défice de 3,9 por cento do PIB. Previsões extraordinárias, previsões mentirosas. Ao orçamento de mentira veio juntar-se outra mentira suplementar.
A revista ‘The Economist’ fala num crescimento negativo de 2 por cento e de um défice de 4,5 por cento do PIB este ano e prevê um crescimento negativo de 0,1 e um défice de 4,8 em 2010.
É evidente que a mentira suplementar vai ter os votos favoráveis do PS e a oposição da Oposição. Mas ninguém se livra de ser conivente com mais uma enorme mentira. A verdade, de ontem, de hoje e de amanhã, é que somos pequeninos na economia, na espinha, na coragem e na verdade. Somos grandes na miséria, na impunidade e no descaramento.
ARF

07 janeiro, 2009

O SÍTIO DA VERGONHA!...

Cresci, amadureci, comecei a envelhecer escutando ou lendo notícias sobre o conflito que opõe Israel à Palestina.
Passaram-se mais de cinquenta anos em que não deve ter havido uma única semana que não tivesse sido bombardeada ou vítima de um atentado por uma das partes do conflito.
Passaram-se cinquenta anos com histórias de esforços de paz para contar, até o prémio Nobel surgiu no meio de umas tréguas falidas.
Acreditamos, pelo menos eu acreditei, que passado o tempo da violência das guerras a estupidez humana teria sido vencida finalmente.

Confesso que ao longo deste meio século, até me apeteceu participar numa das Intifadas contra os israelitas. Confesso que, noutras vezes, senti um nojo absoluto contra os homens-bomba que desfizerem vidas de muitos inocentes por todas as cidades de Israel. Não se passam cinquenta anos impunes perante aquela latrina moral da Humanidade que é o conflito no Médio Oriente.
Tomamos partido. Até que, às tantas, já não há possibilidade de escolha. Sobretudo se acreditarmos que a paz e a tolerância são os únicos caminhos razoavelmente inteligentes para os homens se entenderem.

A alegria lúgubre e obscena dos palestinianos, a fúria implacável dos judeus, a facilidade ingénua com que se cai na imprudência de tomar partido neste conflito projectam-nos para um ambiente carniceiro e medonho em que, também, nos assumimos como parte. E não se pode ser parte nesta brutalidade, tão velha, tão antiga que conto os meus mais de cinquenta anos por um calendário feito pelos seus ataques, pelos seus mortos e pelas falsas tréguas.
Quem assim procede, sem respeito pela dignidade da vida nem pela dignidade da morte, quem vive tanto tempo longe da paz, da procura saudável de soluções amigáveis perdeu o sentido da esperança. No que a mim diz respeito tomei uma decisão, passei mais de metade da minha vida acompanhando o bordel de sangue, sofrimento e pranto convencido de que a estupidez morreria num ataque judeu de um F-16 ou às mãos de um homem-bomba. Enganei-me. Aquele é o sítio da vergonha da História. É o local da desonra da dignidade humana. Nenhum dos contendores merece respeito nem condescendência.
Cinquenta anos é muito tempo, são muitos mortos, é muita violência, sem, muitas vezes, se saber qual a razão. Desisti. Aquele conflito não entra na minha casa. Não volto a querer saber. Quero que os meus filhos e os meus netos saibam que existem outros caminhos para podermos ser mais felizes. E com os profissionais da morte não se aprendem os mistérios da vida.