A força da mistificação da realidade política e social do país, que a toda a hora é debitada pela Comunicação Social e por determinados políticos, não explica tudo.
Independentemente de quem seja o vencedor das eleições - PS ou PSD -, já que não é crível que o CDS, o Bloco ou a CDU o consigam, o próximo programa de governo está traçado, e corresponde ao memorando assinado com a Troika. Tudo o resto é conversa fiada, independentemente de os seus executores, serem os Partido A ou o Partido B.
Desde a nossa entrada no euro, que ficámos acorrentados às políticas neoliberais emanadas da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. Com a experiência da Grécia, parece já ninguém ter dúvidas. É hoje visível, que o capital financeiro domina a Europa e impôs as suas regras.
Aproveitando-se da “crise”, pretende impôr aos países economicamente mais débeis e a toda a velocidade, todas as medidas políticas neoliberais, anti-económicas e anti-sociais, que com alguma resistência dos cidadãos, vinha paulatinamente implantando, dando assim num ápice, satisfação às suas ambições e à sua desmedida ganância. A sua política resume-se a isto – menos Estado e mais mercado – privatização de todo o património do Estado que possa ser negócio e gerar lucro; extinguir as funções sociais do Estado; retirar ao Estado seu papel regulador. Os mercados, os mercados financeiros que se tornaram dominantes, com estes novos Estados mínimos, passam a controlar e a impôr aos próprios países e aos seus governos, as suas políticas internas, pondo em causa não só a sua própria soberania, mas também, causando as maiores brutalidades sociais, um retrocesso social e civilizacional. A Europa “connosco” está pois muito longe!... Está muito longe e insaciável, e hoje em conjunto com os mercados, especulam com as dívidas públicas que fomentaram e alimentaram, e apenas se preocupam em saltar de país para país em busca de maiores rendimentos. O próximo será Espanha...
Portugal não foge à regra, e a partir de 6 de Junho novos ventos soprarão. A “ajuda” de 78.000 milhões de euros não é ajuda alguma. Foram os “mercados” financeiros que forçaram Portugal a pedir “ajuda”. Foram os “mercados” que subiram os juros da dívida para valores insuportáveis, são as instituições financeiras que os suportam, que aguardam o resgate dos seus “investimentos” em dívida pública. Até aqui, o país gastando sempre mais do que criava, emitia dívida em igual proporção. E para resgatar dívida antiga que ia vencendo, em esquema Ponzi, contraía nova dívida. O esquema, ia funcionando alegremente até ao momento em que os “mercados” elevando os juros até à agiotagem, entenderam ter chegado o momento da obtenção de maiores e mais rápidas ganâncias.
Da “ajuda” concedida, 30.000 milhões de euros nem sequer chegam a entrar, vão isso sim, direitinhos para pagamento de juros; 12.000 milhões vão directamente para as instituições financeiras nacionais; alguns outros milhões para saldar compromissos financeiros das empresas públicas; outros tantos para resgatar a dívida pública que vencerá entretanto. Esta é a realidade...
A ameaça de que “não haveria dinheiro para pagar aos funcionários” constitui uma falácia com o objectivo claro de provocar receios generalizados entre os cidadãos e preparar assim terreno para a aceitação dócil das medidas impostas pela Troika. A execução orçamental decorria normalmente, gabando-se até o governo, de que na execução orçamental do primeiro trimestre do ano, as receitas ultrapassaram as previsões e as despesas reduziram-se mais do que o previsto, o que comprova não ter sentido o cenário de “falta de pagamento aos funcionários”.
O que estava realmente em causa, ao contrário, era a ruptura do esquema de Ponzi seguido até aqui, isto é, a emissão de dívida para pagar dívida anterior e com juros insuportáveis.
A nova emissão de dívida já não encontrava compradores mesmo com juros altíssimos. Em Junho, Portugal teria que pagar a instituições financeiras internacionais em pagamentos de dívida antiga, 5.000 milhões de euros. Era esta dívida que estava em risco de ser quebrada, isto é: estava em risco de não ser paga. E ao não ser paga, entraríamos numa situação, que em linguagem corrente se chama “um país em bancarrota” que tanta e justificada preocupação causa às instituições financeiras credoras.
A “ajuda” tão apressada da Troika, visa proporcionar as verbas necessárias ao calendário do pagamento das dívidas às instituições financeiras internacionais. É pois, um dinheiro que não sairá dos cofres das instituições financeiras, sendo apenas sujeito a “operações financeiras de registo de propriedade”. É um dinheiro que não entra em circulação na sociedade - a verba de 12.000 milhões a fornecer à Banca nacional visa igualmente assegurar que esta pague a tempo e horas as dívidas contraídas à Banca internacional -, e assim não gerará qualquer riqueza ou progresso económico. Contudo, serão os portugueses que do seu bolso terão que pagar esta nova dívida de 78.000 milhões de euros, com redobrados sacrifícios e uma vida cada vez mais miserável. Aos portugueses esperam-nos dias muito difíceis!... Num país em recessão, num país sem crescimento económico, não haverá milagres e a dívida terá obrigatoriamente de ser renegociada, caso contrário entraremos em colapso total, e seguiremos obviamente as pisadas Gregas…